APÊNDICE 4.1 - Fluxos e Estoques de Produção nas Contas Nacionais (Shaikh, 2016)
1. Uma Estrutura para Monitorar Fluxos e Estoques de Produção
1. As contas clássicas concentram-se na produção concluída (XP) (ou seja, bens acabados) [1]. Já as contas convencionais enfocam a produção iniciada (X), que é a soma dos produtos acabados e semiacabados. Essa diferença no conceito de produção total gera outras diferenças nas medidas de insumos intermediários, custos salariais e valor adicionado, embora, no final, ambas as contas resultem na mesma medida de lucro bruto. O mapeamento entre as contas clássicas e as contas padrão será realizado a seguir no nível de uma economia privada fechada com apenas trabalho produtivo, pois é nesse ponto que surgem as diferenças fundamentais. A análise pode ser facilmente estendida para incluir os setores governamental e externo. A incorporação do trabalho não produtivo é tratada detalhadamente em Shaikh e Tonak (1994). Valores numéricos ilustrativos consistentes com a tabela 4.2 do texto deste capítulo são adicionados a todas as variáveis.
[1]: “O processo anual de reprodução é facilmente compreendido, desde que tenhamos em vista apenas o total da produção do ano. Mas cada componente individual desse produto deve ser levado ao mercado como mercadoria” (Marx 1967a, cap. 24, sec. 2, 590). “Os produtos acabados, seja qual for sua forma material ou seu valor de uso, seu efeito útil, são aqui todos capital-mercadoria” (Marx 1967b, cap. 10, 205).
2. É útil começar pelas categorias familiares das contas padrão de renda e produto nacional (NIPA). A produção total é definida como o produto bruto (X), que é a soma dos insumos intermediários adquiridos (A), das vendas de bens finais (XS) e da variação de estoques (ΔINV). A variação de estoques é composta pela soma das variações nos estoques de materiais e suprimentos (ΔINVA), de produtos em processo (ΔINVWIP) e de produtos acabados e bens mantidos para revenda (ΔINVP). Deve-se notar que os produtos acabados incluem materiais, na medida em que representam o produto final dos produtores de materiais, enquanto os bens finais referem-se a produtos acabados que não reentram diretamente na produção (ou seja, bens de consumo e investimento) (BEA 2008, 2–2, 2–9, 2–10) [2]. Para distinguir entre as duas categorias, indicarei os produtos acabados (ou seja, produzidos) com o subscrito “P” e os bens finais com o subscrito “F”. Assim, dentro da medida de produto bruto, a soma dos dois primeiros itens, insumos intermediários adquiridos (vendidos) e vendas de bens finais, representa o total das vendas de produtos acabados. Por fim, o valor adicionado bruto (GVA) e o produto interno bruto (PIB) são definidos como o produto bruto menos os insumos intermediários. Como o produto bruto pode sempre ser expresso pelo lado das fontes como a soma de seus custos com materiais (A), custos salariais (W) e lucro bruto, o GVA é a soma dos custos salariais e do lucro bruto. Pelo lado dos usos, o produto bruto é a soma das vendas (ou compras) de materiais (A) e das vendas finais de bens de consumo (C), bens de investimento fixo (If) e variações de estoques. Portanto, o produto interno bruto (PIB) é a soma do consumo, do investimento fixo e da variação total dos estoques de materiais, produtos em processo e bens finais. Devido ao seu foco na produção iniciada, a medida de “produto final” das NIPA tem a curiosa característica de englobar acréscimos aos estoques de matérias-primas e itens parcialmente fabricados (Shapiro 1966, 26n11).
[2]: Vendas finais são as “vendas da indústria para os usuários finais” e equivalem à soma das despesas de consumo pessoal, do investimento fixo privado bruto, das despesas de consumo do governo e do investimento bruto, e das exportações líquidas de bens e serviços (BEA 2008, 2–10, 12–12).
5. Uma comparação semelhante pode ser feita entre os custos de materiais e trabalho da produção total (A + W) e os custos correspondentes do produto acabado. O custo de materiais dos bens acabados (AP) é o custo de materiais dos bens acabados cuja produção foi iniciada no ano corrente (A'P) mais o custo de insumos dos bens acabados cuja produção foi iniciada em anos anteriores (A''P) [3]. Da mesma forma, o custo de trabalho dos bens acabados (WP) é o custo de trabalho dos bens acabados iniciados no ano corrente (W'P) mais o custo de trabalho dos bens acabados iniciados em anos anteriores (W''P). Também é útil observar que a folha salarial total do ano corrente (W) é a soma dos salários gastos na produção iniciada no ano, tanto a concluída (W'P) quanto a não concluída (WWIP).
[3]: Se os preços estiverem variando, os custos atuais dos insumos não serão os mesmos que os custos efetivamente pagos, o que geralmente é tratado por meio de ajustes de valoração de estoques (BEA 2008, 2-8n19).
[5]: Marx afirma que o capital circulante é composto pelos salários e pelos materiais brutos e auxiliares consumidos na produção de uma mercadoria. O investimento em capital circulante é o aumento desse montante (Marx, 1967b, cap. 12, 231, 236).
[6]: Nos esquemas de reprodução de Marx, no caso apenas de capital circulante, em sua notação, a forma de uso do valor excedente total é S = Sc + Sac + Sav, onde S = valor excedente líquido, Sc = consumo dos capitalistas, Sac = ΔC = investimento em capital circulante, e Sav = ΔV = investimento em capital variável (Sweezy 1942, 162–163). A reprodução simples ocorre quando não há crescimento, de modo que ΔC = ΔV, caso em que todo o valor excedente é destinado ao consumo dos capitalistas (S = Sc).
11. Por fim, pode-se demonstrar que é possível identificar explicitamente o investimento em capital circulante mesmo dentro das medidas de produto bruto e produto interno bruto (PIB) das NIPA. O produto bruto é a soma das compras de materiais (A) e do produto interno bruto, sendo este último a soma do consumo (C), dos bens de investimento fixo (If) e das variações de estoques (ΔINV). Este último item corresponde à variação nos estoques de bens finais (ΔINVP) mais a soma da variação nos estoques de materiais e suprimentos e produtos em processo (ΔINVA + ΔINVWIP). Contudo, pela equação (1.13), essa última soma é simplesmente o investimento em capital circulante.
13. O investimento em capital circulante está presente o tempo todo, escondido à vista de todos.
Siglas:
A = insumos intermediários adquiridos (custos materiais)
AP = custo de materiais dos bens acabados (AP = A'P + A''P)
(A’P) = custo de materiais dos bens acabados cuja produção foi iniciada no ano corrente
(A’’P) = custo de insumos dos bens acabados cuja produção foi iniciada em anos anteriores
(AWIP) = custo de materiais na produção em processo
C = bens de consumo
CC = consumo dos capitalistas
F = bens finais;
FS = vendas finais
GVA = valor adicionado bruto (convencional)
GVAP = Valor Adicionado Bruto Clássico
GOS = medida padrão do excedente operacional bruto
GSP = produto excedente bruto
GSV = medida clássica da forma monetária do excedente bruto de valor
If = bens de investimento fixo
Ic = investimento em capital circulante
NIPA = contas padrão de renda e produto nacional
P = produtos acabados (ou seja, produzidos)
PG = lucro bruto
PIB = produto interno bruto
W = custos salariais
WP = custo de trabalho dos bens acabados (WP = W'P + W''P)
(W’P) = custo salarial dos bens acabados iniciados no ano corrente
(W’’P) = custo salarial dos bens acabados iniciados em anos anteriores
(WWIP) = salários gastos na produção iniciada no ano e não concluída
X = produto bruto (produção iniciada = produtos acabados + semiacabados)
XP = produção total de bens acabados (produção concluída)
XS = vendas de bens finais
(ΔINV) = variação de estoques
(ΔINVA) = variações nos estoques de materiais e suprimentos
(ΔINVWIP) = variações nos estoques de produtos em processo
(ΔINVP) = variações nos estoques de produtos acabados e bens mantidos para revenda
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