domingo, 21 de abril de 2024

A Síntese Clássica Keynes-Harrod - Anwar Shaikh

SHAIKH, Anwar. Economic policy in a growth context: a classical synthesis of Keynes and Harrod. Metroeconomica, v. 60, n. 3, p. 455-494, 2009.

Texto original em inglês disponível aqui.

SUMÁRIO

1. Introdução

2. Os Saldos Básicos no Mercado De Commodities

3. Economia Keynesiana Tradicional Num Contexto De Crescimento

4. A Impossibilidade do Investimento Exógeno: A Percepção Crítica de Harrod e Domar

5. A Estabilidade do Caminho Garantido Harrodiano

6. Dinâmicas Harrodianas: O Paradoxo da Parcimônia é Um Fenômeno Transitório

7. Gastos Governamentais, Exportações e Crescimento: A Possibilidade de Demasiado de Uma Coisa Boa

8. Política De Emprego Num Contexto de Crescimento

9. Tentativas Pós-Keynesianas de Manter As Proposições Keynesianas Em Um Contexto de Crescimento

10. Resumo, Conclusões e Uma Síntese Clássica Proposta

Apêndice A - Estabilidade Dinâmica do Caminho Garantido Em Forma De Equação De Diferenças

Apêndice B - Política Fiscal e Crescimento Garantido Harrodiano

Apêndice C - Estabilidade da Acumulação Impulsionada Pelo Lucro Com Uma Taxa de Poupança Empresarial Endógena

quarta-feira, 17 de abril de 2024

Abordagem Matemática da Teoria Marxista do Valor - Dong-Min Rieu

RIEU, Dong-Min; TIME, Money. A Mathematical Approach to Marxian Value Theory: Time, Money, and Labor Productivity. Cham: Palgrave Mcmillan, 2022.
Sumário

1 Introdução

Parte I - Valor e Preço

2 A Conexão Quantitativa Entre Valor e Preço
2.1 Configuração Básica
2.2 Trabalho: Abstrato, Social e Homogêneo
2.3 A Determinação do Valor da Força de Trabalho
2.4 Uma Exposição Diagramática
2.5 Uma Formulação Matemática
Referências

3 A Nova Interpretação: Rumo a um Desenvolvimento Crítico
3.1 Introdução
3.2 A Estrutura Formal da Nova Interpretação
3.3 Dupla Contagem e o Valor da Força de Trabalho
3.4 A Aplicação da Nova Interpretação no Nível Microeconômico
3.4.1 Desvio Valor-Preço
3.4.2 Heterogeneidade do Trabalho
3.4.3 Decomposição da Expressão Monetária do Tempo de Trabalho
3.4.4 O Método de Transformação Inversa
3.5 Conclusão
Referências

Parte II Exploração do Trabalho

4 Exploração do Trabalho como Origem dos Lucros
4.1 Introdução
4.2 O Teorema Marxiano Fundamental
4.3 Contexto Histórico
4.3.1 Conexão Shibata-Okishio-Morishima
4.3.2 Do Teorema Marxiano Fundamental ao Problema da Transformação
4.3.3 A Necessidade da Teoria do Valor do Trabalho
4.4 Interpretações do Teorema Marxiano Fundamental
4.4.1 Introdução
4.4.2 Interpretação Temporal Único-Sistema
4.4.3 A Nova Interpretação
4.4.4 Resumindo
4.5 Conclusão
Referências

Parte III Taxa de Lucro

6 O Teorema de Okishio
6.1 Introdução
6.2 O Teorema de Shibata-Okishio
6.3 Uma Refutação da Crítica da Interpretação Temporal Único-Sistema ao Teorema de Okishio
6.3.1 A Concepção de Tempo na Interpretação Temporal Único-Sistema
6.3.2 A Lei da Queda Máxima da Taxa de Lucro: Um Modelo de Um Setor
6.3.3 Análise de Simulação para um Modelo de Dois Setores
6.3.4 Generalização
6.3.5 Resumindo
6.4 O Destino do Teorema de Okishio?
6.4.1 O Teorema de Okishio como uma Tese Contrafactual
6.4.2 O Teorema de Foley-Laibman
6.4.3 Equilíbrio Competitivo e Preços de Produção
6.4.4 Observações Finais
Referências

7 Taxa de Lucro Decrescente: Falsificável ou não?
7.1 Introdução
7.2 Interpretação de Saad-Filho da Teoria de Valor Marxiana
7.3 Composição Orgânica do Capital
7.4 Tendência da Taxa de Lucro a Cair como uma "Lei Abstrata"
7.5 Observações Finais
Referências

8 Piketty Após Marx
8.1 Introdução
8.2 Piketty e Marx
8.2.1 A Estrutura do Modelo de Piketty
8.2.2 Diferenças nas Definições
8.2.3 Uma Leitura Alternativa de Piketty
8.3 Observações Finais
Referências

Parte IV Uma Nova Direção de Pesquisa

9 Relação Preço-Valor com Taxa de Lucro Estocástica e Heterogeneidade do Trabalho
9.1 Introdução
9.2 Especificação do Modelo
9.3 Análise de Simulação
9.3.1 Fluxos Físicos e Monetários
9.3.2 Métodos
9.3.3 Resultados
9.4 Conclusão
Referências

10 Sobre a Distinção de Marx Entre Produktivkraft e Produktivität
10.1 Introdução
10.2 Produktivkraft versus Produktivität
10.3 A Produtividade do Trabalho e o Poder Produtivo do Capital
10.3.1 A Produtividade do Trabalho
10.3.2 Poder Produtivo do Capital
10.4 Conclusão
Referências

11 Rumo a uma Análise Integrada da Produtividade do Trabalho
11.1 Introdução
11.2 Como Ler o Volume 1 de O Capital
11.3 Produtividade de Valor
11.4 A Dinâmica Entre a Expressão Monetária do Valor e a Expressão de Valor do Tempo de Trabalho
11.5 Exemplo: O Caso da Coreia do Sul
11.6 Conclusão
Referências

Lista de Figuras

Fig. 2.1 A ordem lógica de valor para preço 12
Fig. 2.2 A relação entre tempo de trabalho, valor e preço 19
Fig. 2.3 A conexão entre tempo de trabalho, valor e preço 26
Fig. 2.4 A mudança no valor da força de trabalho 27
Fig. 6.1 Taxas de lucro: um caso de OCP constante 125
Fig. 6.2 Taxas de lucro: um caso de aumento de OCP 125
Fig. 6.3 A lógica da competição inter-setorial 135
Fig. 6.4 Dinâmicas cruzadas-duais 137
Fig. 8.1 Aposta em negrito itálico de Piketty beta em negrito itálico na Coreia do Sul, 1995–2020 160
Fig. 8.2 A taxa de lucro, produtividade do capital e participação no lucro na Coreia do Sul: todas as indústrias, 1995–2020 (1995 = 1) 161
Fig. 9.1 Fluxograma das simulações 179
Fig. 9.2 Funções de densidade simuladas das taxas de lucro 182
Fig. 9.3 Funções de densidade simuladas do R-Quadrado ajustado na regressão preço-valor 183
Fig. 9.4 Funções de densidade simuladas da medida de distância na desvio preço-valor 184
Fig. 10.1 Frequência de uso dos termos “produtividade” e “productiveness” 190

Lista de Tabelas

Tabela 3.1 Um exemplo simples de reprodução 37
Tabela 3.2 Decomposição dos preços de produção em custo preço e lucro no estágio anterior de produção 38
Tabela 3.3 Modelo de três departamentos: exemplo 44
Tabela 3.4 Solução da nova interpretação 45
Tabela 3.5 Exemplo numérico para nova interpretação 46
Tabela 3.6 Decomposição da expressão monetária do tempo de trabalho 51
Tabela 4.1 O FMT e interpretações da teoria do valor Marxiana 88
Tabela 6.1 ‘‘Instâncias’’ de Shibata (1934) 112
Tabela 6.2 Trajetórias de Shibata e Marx 115
Tabela 6.3 Distinção de Kliman (2007) entre custo histórico e custo de reprodução pré-produção 119
Tabela 6.4 Exemplo de um setor de Kliman (2007) 120
Tabela 6.5 Cenários para simulações 124
Tabela 6.6 Um exemplo de economia de um único bem 133
Tabela 9.1 Medida de distância preço-valor 183
Tabela 11.1 A intensificação do trabalho 210
Tabela 11.2 O aumento no poder produtivo do trabalho 212
Tabela 11.3 Equalização das taxas de lucro 214
Tabela 11.4 Decomposição do MELT: dois casos 215
Tabela 11.5 Quatro tipos de setores 218
Tabela 11.6 Quatro tipos de indústrias baseadas na taxa de mudança 220
Tabela 11.7 Tipos de indústrias: Coreia do Sul, 1990–1995–2000 220
Tabela 11.8 Taxas crescentes de produtividade total do trabalho: Coreia do Sul, 1990–1995–2000 (taxa anual, %) 221
Tabela 11.9 Expressão monetária do tempo de trabalho no nível da indústria: Coreia do Sul, 1990–1995–2000 221

Parte I - Valor e Preço

2 A Conexão Quantitativa Entre Valor e Preço


2.2 Trabalho: Abstrato, Social e Homogêneo

Em relação à teoria do valor do trabalho Marxista, é importante especificar semelhanças e diferenças entre o par de conceitos, trabalho abstrato/concreto, trabalho social/privado, e trabalho homogêneo/heterogêneo. Vamos começar com o conceito de trabalho abstrato, que geralmente é considerado como a substância do valor apesar de todas as diferenças entre as diversas correntes da teoria do valor Marxista. Dois problemas cruciais e mutuamente relacionados são: se o trabalho abstrato é um conceito específico ao capitalismo, e sua relação com o trabalho social e o trabalho homogêneo. Se o trabalho abstrato é um conceito trans-histórico representando a divisão social do trabalho em geral que "constitui a base material comum para todas as sociedades" (Itoh, 2021, p. 97) ou um conceito historicamente específico aplicável apenas às sociedades capitalistas, deve ser abordado a partir de uma perspectiva de situações sociais e históricas que tornam tal abstração possível.

Uma hipótese de trabalho neste capítulo é que o trabalho abstrato como a substância do valor é um ponto de partida, ou um axioma da análise econômica de Marx sobre o capitalismo. Os axiomas não são produzidos do nada, mas são determinados pelo objetivo da teoria, ou dito de outra forma, uma posição ideológica [3]. Sem dúvida, a razão pela qual um axioma específico é escolhido deve ser verificada na realidade. No entanto, a realidade depende de qual objeto de análise é escolhido. Se o problema da distribuição de bens (e serviços) que são escassos em relação às necessidades humanas é colocado como objeto de análise, é necessário ter um axioma sobre princípios entre seres humanos e recursos escassos, como a maximização da utilidade através do comportamento racional dos agentes econômicos. No entanto, como Marx notou no primeiro parágrafo do primeiro volume do Capital, o objeto de sua crítica à economia política é o modo de produção capitalista com "uma imensa coleção de mercadorias" (Marx, 1976, p. 125). Com isso em mente, o conceito de trabalho abstrato deve ser derivado de algumas características específicas da realidade capitalista [4]. É neste sentido que uma "visão pré-analítica" com "implicações éticas definitivas e importantes" deve ser demonstrada (Hunt, 1983, p. 335).

[3]: Segundo o instrumentalismo metodológico, axiomas ou suposições básicas de um determinado sistema teórico podem ser escolhidos para conveniências analíticas ou pragmáticas, como modelagem matemática mais fácil e coleta de dados empíricos. O instrumentalismo, no entanto, também é ideológico no sentido de que mantém nossos olhos longe dos contextos históricos e sociais do sistema teórico.

[4]: As coisas seriam diferentes se alguém colocasse uma sociedade produtora de mercadorias em geral como o objeto da economia. Como é bem conhecido, a "produção de mercadorias simples" de Engels é aplicada a todas as sociedades pré-capitalistas.

Agora estamos diante dos seguintes dois pontos.

Primeiro, a mercantilização da força de trabalho em si é compatível com qualquer noção de valor. O problema é que a força de trabalho e as mercadorias devem ser definidas sem pressupor nenhum conceito específico de valor. Alternativamente, o conceito de força de trabalho logicamente precede o conceito de trabalho abstrato. É por isso que a mercantilização da força de trabalho é historicamente explicada nos últimos capítulos da "acumulação primitiva" no primeiro volume do Capital, depois que foi previamente fornecida com base puramente lógica para explicar a origem do lucro capitalista. Portanto, o trabalho abstrato inclui o momento da própria mercantilização da força de trabalho.

Segundo, a definição do valor da força de trabalho pode facilmente correr o risco de um raciocínio circular. Isso ocorre porque o trabalho abstrato em si é baseado no fato de que a força de trabalho é mercantilizada, enquanto a força de trabalho, na medida em que é uma mercadoria, tem seu valor e sua substância não é nada além de trabalho abstrato. Para evitar esse ciclo vicioso, o valor da força de trabalho também deve ser introduzido como uma definição axiomática [5]. Visto sob esta luz, a estrutura lógica do Capital, volume 1, que tenta provar a existência de exploração partindo da troca igual de força de trabalho, deve ser reexaminada (Obata, 1988, p. 161).

[5]: No caso da teoria da utilidade do valor, o caráter mercantil da força de trabalho não causa nenhum problema. Basta dizer que a força de trabalho é realmente negociada como uma mercadoria e, portanto, pode ser trocada por dinheiro como uma fonte de utilidade.

Em resumo, a proposição de que o trabalho abstrato é um conceito específico à sociedade na qual a força de trabalho é mercantilizada tem as seguintes duas fundamentações.

Primeiro, o principal objeto da economia não é a interação entre seres humanos e a natureza, mas a relação social entre pessoas e pessoas em seu contexto histórico. Este conceito é uma posição teórica que resulta do materialismo histórico.

Segundo, o conceito de trabalho deve ser determinado de forma consistente com a mercantilização da força de trabalho. Neste caso, o trabalho deve conter a determinação da força de trabalho como um de seus momentos importantes [6].

[6]: De um ponto de vista mais ortodoxo, a mercantilização da força de trabalho é considerada uma pré-condição para o conceito de trabalho abstrato da seguinte forma: “...sob condições de produção de mercadorias em pequena escala (auto-propriedade), mesmo que todos os meios de produção sejam monetizados (trocados), as mercadorias não trocarão seus valores, exceto como uma exceção. Isso ocorre porque uma parte do tempo de trabalho incorporado nas mercadorias produzidas permanece como trabalho concreto. O trabalho vivo gasto na produção é o do proprietário e da família e não é monetizado, e, portanto, não é normalizado pela troca” (Weeks, 1981, p. 36). Enquanto Weeks enfatiza que a quantidade de trabalho abstrato não pode ser medida sem a mercantilização da força de trabalho, este capítulo foca na consistência teórica para manter o axioma de que a substância do valor é o trabalho abstrato.

Como o trabalho abstrato é um conceito que extrai características comuns e gerais de todo trabalho humano, por definição, ele contém um momento de homogeneização. Em outras palavras, o trabalho abstrato deve ser comensurável para “construir um espaço econômico homogêneo” (Bidet, 2007, p. 12). Este ponto está diretamente relacionado à questão de se o trabalho abstrato possui uma quantidade. Se o trabalho abstrato como a substância do valor não tem uma quantidade, existem duas possíveis soluções. Uma é introduzir outro conceito que reflita a substância do valor e que seja mensurável ao mesmo tempo. A outra é argumentar que o preço é a expressão do trabalho abstrato como a essência, ou mais significativamente, que o próprio dinheiro é trabalho abstrato (Reuten & Williams, 1989). No entanto, é difícil aceitar esta última pois o valor se torna um conceito redundante no sentido de que não é diferenciado qualitativa ou quantitativamente do preço na medida em que o trabalho abstrato é representado apenas pelo dinheiro. Ao contrário, a primeira é uma teoria ineficiente porque um conceito adicional é necessário para torná-la uma teoria autossuficiente. Em resumo, deve-se concluir que o trabalho abstrato tem uma quantidade por necessidade teórica.

A quantidade de trabalho abstrato é determinada pela lógica de homogeneização incluída no conceito de trabalho abstrato em si. As bases reais para o processo de homogeneização são encontradas na mobilidade livre do trabalho, a “versatilidade do trabalho” (Lee, 1990) fortalecida pela expansão da troca de mercadorias. A homogeneização é realizada através da repetição das trocas de mercadorias capitalistas. É impossível, e até mesmo sem sentido, postular o conceito de trabalho abstrato sem homogeneização. Excluir a priori o trabalho homogêneo leva à crítica de redundância do conceito de valor (Bowles & Gintis, 1977), ou então, à determinação de fato do valor pelo preço (Krause, 1982). Para resumir, trabalho abstrato e homogêneo referem-se à mesma coisa em uma sociedade capitalista. O trabalho abstrato pode ser definido como trabalho homogeneizado através da troca de mercadorias capitalista. Este ponto é indiretamente confirmado pelo seguinte parágrafo do Capital, Volume 1. Aqui, a substância do valor é trabalho homogêneo; em outras palavras, trabalho abstrato.

o trabalho que forma a substância do valor é o trabalho humano igual, o dispêndio de força de trabalho humana idêntica. A força de trabalho total da sociedade, que se manifesta nos valores do mundo das mercadorias, conta aqui como uma massa homogênea de força de trabalho humana, embora composta por inúmeras unidades individuais de força de trabalho. Cada uma dessas unidades é a mesma que qualquer outra, na medida em que tem o caráter de uma unidade média social de força de trabalho e atua como tal. (Marx, 1976, p. 129)

Agora, vamos abordar a distinção entre trabalho privado e trabalho social.

O trabalho privado é validado como trabalho social quando seu produto é reconhecido como socialmente útil. O conceito de trabalho social em si é trans-histórico. Por exemplo, na chamada produção de mercadorias simples, a distinção entre trabalho privado e trabalho social é válida sem a mercantilização da força de trabalho. No entanto, um modo de socialização é historicamente específico. Nas sociedades capitalistas, trabalho social é um conceito que reflete a anarquia da produção capitalista.

O objeto principal da socialização é o valor de uso de uma mercadoria. O trabalho privado falha na socialização se seu produto não é vendido no mercado, e por isso é considerado socialmente inútil. O seguinte parágrafo de Marx deixa claro este ponto:

...elas [mercadorias-Rieu] devem passar no teste como valores de uso antes que possam ser realizadas como valores. Pois o trabalho despendido nelas só conta na medida em que é despendido em uma forma que é útil para outros. No entanto, apenas o ato de troca pode provar se esse trabalho é útil para outros, e seu produto, consequentemente, capaz de satisfazer as necessidades de outros. (Marx, 1976, pp. 179–180)

Sem dúvida, como as mercadorias em sociedades capitalistas possuem tanto valor de uso quanto valor, a invalidação do valor de uso implica simultaneamente a invalidação do valor. No entanto, como a troca de mercadorias capitalistas prevalece, bens e serviços socialmente úteis sem valor também podem ser validados através de vendas de mercado. Terras e recursos naturais são exemplos representativos. No entanto, em sociedades pré-capitalistas, o produto do trabalho é validado como útil, sem que todo trabalho humano seja considerado igual. Portanto, a lógica da socialização é independente da lógica da homogeneização, que é a base para o conceito de trabalho abstrato. Neste sentido, são dois pilares teóricos da interpretação da troca de mercado capitalista. Sem uma distinção clara entre essas duas lógicas, conclui-se que o valor é explicado pelo preço, ou então o valor é redundante para explicar o preço [7].

[7]: É Lipietz (1985, p. 163) quem claramente distingue a lógica da socialização e a da homogeneização quando argumenta que a contradição resolvida pela troca é aquela entre trabalho privado e social, nem valor de uso/valor nem trabalho concreto/abstrato.

A lógica da homogeneização e da socialização estão relacionadas à reprodução das relações de produção e dos agentes individuais, respectivamente.

A lógica da socialização está diretamente conectada à reprodução de agentes individuais. Em uma sociedade capitalista, os produtores de mercadorias (independentes ou capitalistas) podem realizar o valor produzido através da validação social ao venderem seus produtos no mercado. A reprodução dos trabalhadores individuais também depende de se eles conseguem se socializar vendendo sua força de trabalho. Por contraste, a lógica da homogeneização é sempre acompanhada pela tendência de diferenciação. Os capitalistas, na medida em que aumentam o lucro, tentam diferenciar o trabalho usando a estratégia de dividir para conquistar. Mercado de trabalho dividido ou diferenciação de acordo com elementos sociais e culturais como gênero e raça podem ser entendidos neste contexto. Portanto, a lógica da homogeneização é “um movimento cíclico mostrando a realização alternada da tendência e então da contrariedade” (Carchedi, 1991, p. 5) [8]. Embora a tendência de diferenciação tenha prevalecido por muito tempo (Roemer, 1978), a lógica da homogeneização é a tendência principal porque a organização do processo de produção capitalista é praticada pela iniciativa dos capitalistas.

[8]: Carchedi (1991, pp. 4–5) chama isso de “uma tendência do segundo tipo” enquanto “uma tendência do primeiro tipo” indica “um movimento em direção a um ponto ou uma área em que a maioria dos fenômenos realizados estão agrupados.” De acordo com essa terminologia, a lógica da socialização é do primeiro tipo enquanto a lógica da homogeneização é do segundo tipo.

Outro ponto a ser notado é que o conflito entre a tendência e a contrariedade é refletido na determinação da taxa de mais-valia, o que leva à evolução desigual das taxas de mais-valia entre setores industriais ou grupos de trabalhadores, como qualificados vs. não qualificados, masculino vs. feminino, etc. Enquanto a lógica da homogeneização implica que o potencial valor de uso da força de trabalho é dado como a capacidade de criação de valor no ponto do contrato de emprego, a equalização das taxas de mais-valia implica que a capacidade de criação de valor é equalizada no processo de despesa de trabalho após o ponto do contrato de emprego. Diferente de outras mercadorias, no caso da força de trabalho, o valor de uso potencial e o valor de uso real não são proporcionais nem estão em uma relação quantitativa fixa. Enquanto a socialização em geral em mercadorias é a transformação do valor de uso potencial em valor de uso real, essa transformação no caso da força de trabalho ocorre no processo de produção após o ponto do contrato de emprego.

Para concluir, a distinção entre tempo de trabalho, valor e preço está relacionada à lógica da homogeneização e da socialização como mostrado na Fig. 2.2. Tempo de trabalho, valor e preço, respectivamente, correspondem ao sistema físico, sistema de valor e sistema de preço da produção capitalista. Em particular, tempo de trabalho aqui implica o dispêndio de força de trabalho humana em uma forma concreta útil medida em horas de relógio. A seta indicada por ➂ denota a lógica da socialização na qual o produto deste trabalho concreto é trocado por dinheiro, sendo assim socialmente reconhecido. Este processo pode ser estabelecido entre trabalho concreto e dinheiro diretamente sem a mediação de valor ou trabalho abstrato. Por contraste, a seta ➀ indica o processo de transformar trabalho concreto heterogêneo em trabalho abstrato homogêneo enquanto a seta ➁ representa a conexão qualitativa e quantitativa entre valor e preço ou, de outra forma, trabalho abstrato e dinheiro.


2.3 A Determinação do Valor da Força de Trabalho

Ao explorar a conexão quantitativa entre valor e preço, esta seção se concentrará em determinar o valor da força de trabalho. Como a força de trabalho não é um produto do capital, a categoria correspondente ao preço de produção não pode ser definida. Portanto, a ordem lógica da transformação é do valor da força de trabalho para o preço da força de trabalho, e finalmente para o salário de mercado. Ou seja, A → B → C → D no caso de mercadorias gerais na Fig. 2.1 torna-se A → B → D no caso da força de trabalho. Em outras palavras, composições orgânicas diferenciais de capital ou taxas setoriais de lucro não têm nenhum impacto no caso da força de trabalho porque não existe um setor que produza "força de trabalho". A força de trabalho tem um preço de valor ou preço de mercado. Portanto, é possível "transformar inversamente" salários de mercado no valor da força de trabalho através do processo de D → B → A [9].

[9]: O próprio Marx discutiu "a transformação do valor da força de trabalho em salários" no capítulo 19 do Capital, Volume 1 antes de abordar o problema da transformação em geral no Volume 3. Isso pode ser plausível porque a conexão entre o valor da força de trabalho e o salário só requer o nível de abstração do Volume 1. Nesse sentido, o argumento aqui não é necessariamente inconsistente com a própria ideia de Marx.

Para explicar a existência da exploração capitalista, Marx introduziu a distinção entre trabalho e força de trabalho. Esta distinção tem dois significados. Um é que a força de trabalho também tem seu valor de uso na medida em que é uma mercadoria. O outro é que, ao contrário de outras mercadorias, valor e valor de uso são homogêneos no caso da força de trabalho. A força de trabalho como uma mercadoria não é um conceito qualitativamente novo; antes, a novidade pode ser encontrada no fato de que o caráter não-comercial da força de trabalho é enfatizado. Portanto, o destaque deve ser dado ao "peculiar" em vez de "mercadoria" quando a força de trabalho é definida como uma "mercadoria peculiar" (Marx, 1976, p. 274). O domínio específico da teoria do valor Marxiana é a análise do processo de trabalho capitalista no qual o conflito de classe em torno da produção e apropriação de valor emerge. Este domínio pode ser capturado reconhecendo as características não-comerciais da força de trabalho.

Valor e preço são dois sistemas diferentes que medem o mesmo sistema físico de acordo com dois princípios diferentes. No caso de mercadorias gerais, seu peso em um sistema é diferente do outro sistema. Alternativamente, o valor relativo e o preço relativo são diferentes. No entanto, no caso da força de trabalho, essa incongruência não ocorre. Portanto, um fio condutor para perseguir a conexão quantitativa entre valor e preço é dado pela determinação do valor da força de trabalho.



sexta-feira, 12 de abril de 2024

Emprego e Política Fiscal no Modelo Marxista - Stephen Thompson

THOMPSON, Stephen. Employment and Fiscal Policy in a Marxian Model. Metroeconomica, v. 69, n. 4, p. 820-846, 2018.

Texto original em inglês disponível aqui.

Sumário

1 | INTRODUÇÃO

2 | O MODELO

2.1 | Estrutura básica

2.2 | Salários

2.3 | Política fiscal

2.4 | Renda e consumo

2.5 | Investimento em capital fixo

2.6 | Estoques, formação de preços e produção

2.7 | Política monetária e o sistema bancário

2.8 | O curto prazo

2.9 | O sistema como um todo

3 | ANÁLISE

3.1 | Crescimento equilibrado

3.2 | Estabilidade

3.3 | Comparativos

4 | POLÍTICA

4.1 | Efeitos de políticas expansionistas

4.2 | Socialização do investimento

4.3 | Um modelo alternativo de política fiscal

4.4 | Extensões do modelo

5 | CONCLUSÃO

Resumo

Este artigo apresenta uma formalização simples do esquema do circuito de capital de Marx, mas com algumas adições modernas: um setor público, uma função de investimento que se altera ao longo do tempo em resposta a desequilíbrios, e uma "curva salarial" que vincula a distribuição de renda ao tamanho do exército de reserva de trabalho. As dinâmicas podem gravitar em direção a uma trajetória de baixo emprego na qual o gasto público tem efeitos expansionistas de longo prazo, ou uma trajetória de alto emprego caracterizada por um aperto nos lucros. A estabilidade das diferentes trajetórias depende da função de investimento.

1. INTRODUÇÃO

Como é amplamente conhecido, uma implicação fundamental da teoria Keynesiana é o paradoxo da parcimônia: a ideia de que, em economias capitalistas operando abaixo do limite de pleno emprego, se a taxa de poupança agregada diminuir, então a renda nacional e o emprego aumentarão como resultado. Na prática, tais mudanças na poupança agregada podem ser alcançadas por meio de variações nos gastos públicos e na tributação. Dessa forma, os governos podem estimular a demanda agregada e eliminar (ou pelo menos aliviar) uma das piores características do capitalismo: o desemprego massivo persistente. Economistas que trabalham na tradição Keynesiana desenvolveram modelos teóricos sofisticados mostrando como essas ideias podem ser implementadas na prática (Ryoo e Skott, 2017; Godley & Lavoie, 2006: Capítulo 11).

Economistas marxistas, por outro lado, têm razões para questionar a eficácia da política Keynesiana padrão. Do ponto de vista Marxista, os trabalhadores desempregados constituem o exército de reserva flutuante de trabalho, cuja existência é crucial para manter baixos salários e disciplina no local de trabalho (Bowles, 1985). Se a taxa de desemprego se tornar muito baixa, a capacidade dos trabalhadores de resistir à exploração aumentará, e isso prejudicará a lucratividade; os capitalistas podem responder reduzindo investimentos, o que causará eventualmente uma queda na taxa de emprego (Marx, [1867] 1990: Capítulo 25; Goodwin, 1967). Assim, os governos podem enfrentar limites inerentes quando tentam estimular o emprego aumentando a demanda agregada.

Ainda assim, Marx ([1894] 1992) às vezes falava sobre a possibilidade de que uma demanda insuficiente derrubasse os lucros, e ideias relacionadas desempenham um papel importante em algumas encarnações modernas da teoria Marxista (Rowthorn, 1981). Assim, as economias Keynesiana e Marxista compartilham pontos importantes em comum (Robinson, 1969). Tudo isso levanta algumas questões críticas: Qual é o status do paradoxo da parcimônia na análise marxista do desenvolvimento capitalista de longo prazo? Se as ideias básicas marxistas sobre como as economias capitalistas funcionam estiverem corretas, então em que medida os governos podem estimular o emprego reduzindo as taxas de poupança agregada? Estas questões são a motivação para o presente artigo.

Uma possível resposta a essas questões vem de Kalecki (1971). No modelo canônico Kaleckiano, a utilização da capacidade varia para acomodar mudanças na demanda agregada. Como consequência, o paradoxo da parcimônia é válido tanto no curto quanto no longo prazo. Sob essas condições, não há troca entre salários e acumulação de capital, e não há razão puramente econômica para que o governo não possa estimular permanentemente o emprego aumentando a demanda agregada. De fato, Kalecki argumenta que, se o pleno emprego não é sustentado a longo prazo, isso se deve à oposição política dos capitalistas às políticas macroeconômicas expansionistas. De uma perspectiva Marxista, o argumento de Kalecki parece tanto surpreendente quanto profundo. Se a barreira fundamental para o pleno emprego é política e não econômica, e as flutuações na demanda agregada podem ser controladas pelo estado, então deveria ser possível "eliminar as crises capitalistas sem eliminar o capitalismo em si" (Foley, 1986b).

Alternativamente, economistas clássico-marxistas sugerem um segundo conjunto de respostas possíveis, bastante diferente, para essas questões. Eles argumentam que, a longo prazo, as empresas ajustarão suas decisões de investimento e/ou preços até que a taxa desejada de utilização da capacidade seja atingida, e que, por essa razão, a taxa de utilização da capacidade em estado estacionário não pode ser determinada pela demanda agregada. Com base nesta ideia, eles construíram modelos com funções de investimento que se ajustam em resposta ao desequilíbrio, de modo que a utilização da capacidade converge para o nível desejado pelas empresas (ver Duménil & Lévy, 1999; Shaikh, 2009). Para esses modelos, o paradoxo da parcimônia vale no curto prazo, mas não no longo prazo, e existe um trade-off de longo prazo entre a taxa de acumulação de capital e o salário real. Se os formuladores de políticas tentarem estimular o emprego reduzindo as taxas de poupança agregada, então, a longo prazo, isso na verdade causará uma queda no emprego; para aumentar permanentemente a taxa de emprego, pode ser necessário colocar as decisões de poupança e investimento dos capitalistas sob controle público (Thompson, 2017). Assim, embora economistas Kaleckianos e clássico-marxistas tenham sido fortemente influenciados pelas ideias econômicas de Marx, eles chegaram a conclusões marcadamente diferentes entre si sobre os limites da política macroeconômica Keynesiana padrão nas economias capitalistas modernas, e o debate sobre o papel da demanda agregada no crescimento de longo prazo parece estar longe de ser resolvido (Duménil & Lévy, 2014; Dutt, 2011).

No presente artigo, eu apresento uma nova abordagem para tudo isso. Na verdade, eu argumento por uma posição intermediária entre os polos Kaleckiano e clássico-marxista. A base para meu argumento é um modelo de uma economia capitalista com três características principais: um setor público, um salário real determinado por um mecanismo de exército de reserva Marxiano, e uma função de investimento que se ajusta em resposta a desequilíbrios. A política fiscal, a estrutura do mercado de trabalho e o nível de atividade econômica determinam conjuntamente a poupança agregada. Eu mostro, como consequência, que o modelo pode ter duas trajetórias de estado estacionário: um caminho de crescimento de baixo emprego que se comporta de maneira Keynesiana (e para o qual o paradoxo da parcimônia vale tanto no curto quanto no longo prazo), e um caminho de crescimento de alto emprego com características clássico-marxistas. A economia pode gravitar em direção a qualquer uma dessas trajetórias; o resultado final é mostrado como dependente de alguns parâmetros chave que descrevem as decisões de investimento dos capitalistas. O resultado é que políticas fiscais expansionistas ainda podem ser capazes de estimular a economia a longo prazo ao afetar o estado estacionário de baixo emprego, mas elas não podem elevar a taxa de emprego acima de um certo ponto. Para trazer uma economia capitalista em direção ao pleno emprego, os formuladores de políticas podem precisar exercer algum grau de controle público sobre as decisões de poupança e investimento dos capitalistas.

O restante deste artigo está organizado da seguinte forma. Primeiro, na Seção 2, eu formulo o modelo. A terceira seção analisa os caminhos de crescimento equilibrado do modelo e sua estabilidade. Uma quarta seção estabelece algumas implicações políticas. A seção final conclui o artigo.

2 | O MODELO

2.1 | Estrutura básica

Neste artigo, eu estudo uma economia capitalista fechada que possui a seguinte estrutura. Os capitalistas utilizam trabalho e capital fixo, com tecnologia de coeficientes fixos, para produzir um fluxo de produto homogêneo. O preço de uma unidade de produto é p. Não há mudança tecnológica, e a produção ocorre instantaneamente. A razão de produto-capital agregado é ρ, e por simplicidade, assumo que as unidades foram escolhidas de modo que a razão de produto-trabalho seja um. Assim, a produção real agregada, Q, está relacionada ao capital fixo agregado, K, e ao emprego agregado, E, pelas equações

$Q = \rho K \tag{1}$


e

$E = Q \tag{2}$

Uma vez que o modelo descreve um mundo de mercadoria homogênea, Q e K denotam quantidades inequívocas de produção e capital, respectivamente. Permita que o investimento bruto em capital fixo real seja denotado por I, e que δ denote a taxa de depreciação para o capital fixo. A dinâmica de K é determinada por

$\dot{K} = I - \delta K$ (3)

(Neste artigo, um ponto acima de uma variável sempre denota uma derivada em relação ao tempo.) Essas equações estabelecem, portanto, relações fundamentais entre emprego, investimento e a escala de produção neste modelo.

A demanda agregada neste modelo consiste no consumo real dos trabalhadores Cw, no consumo real dos capitalistas Cc, na demanda bruta de investimento real I e nos gastos reais do governo G. Vou assumir que as vendas se ajustam instantaneamente para atender à demanda agregada. Assim, o volume total de vendas, medido em termos reais, é

$S = C_w + C_c + I + G \tag{4}$

A quantidade de estoques reais mantidos pelos capitalistas, X, é determinada pela equação diferencial

$\dot{X} = Q - S \tag{5}$

Quando os capitalistas vendem mercadorias, eles as trocam por dinheiro, que fica em um estoque de capital financeiro, F, e está disponível para financiar novos projetos de investimento, mas também pode ser gasto em bens de consumo ou simplesmente acumulado. Se denotarmos o fluxo de caixa dos capitalistas por pR, então F evolui de acordo com a equação

$\dot{F} = pR - pCc - pI \tag{6}$

onde pCc e pI denotam o valor monetário do consumo dos capitalistas e do investimento bruto.

O esquema acima representa, de forma simplificada, o circuito do capital, um framework originalmente formulado por Marx ([1894] 1992), e analisado ou estendido posteriormente de várias maneiras por outros (ver Basu, 2014; Foley, 1986a; Foley, 1986b; Dos Santos, 2015; Jiang, 2015; Vasudevan, 2016). Sob a perspectiva de um capitalista individual, o circuito começa quando ele troca dinheiro por capital fixo e força de trabalho. O processo de produção é então iniciado, e o resultado são mercadorias vendáveis que esperam em um estoque de inventários. Uma vez que um comprador é encontrado, o capitalista troca essas mercadorias por dinheiro. O capitalista pode então usar esse dinheiro para comprar novos meios de produção e força de trabalho, iniciando assim uma nova iteração do circuito. Somando os resultados de todas essas decisões individuais, obtemos um circuito agregado em que as três etapas — conversão de dinheiro em capital produtivo, o processo de produção e a troca de mercadorias acabadas por dinheiro — estão constantemente transformando valor de uma forma para outra. No total, isso proporciona uma maneira sistemática de estudar as partes interagentes de uma economia capitalista em expansão. Dentro do contexto do modelo formulado aqui, para estudar a dinâmica do sistema inteiro precisamos fornecer uma descrição de como as variáveis R, p, G, I, Cc e Cw evoluem ao longo do tempo. Vamos tratar disso agora.

2.2 | Salários

Antes de prosseguirmos com a construção deste modelo, precisamos de uma descrição do mercado de trabalho. Vou assumir que o tamanho da força de trabalho, N, cresce a uma taxa constante, n. Portanto:

$\hat{N} = n \tag{7}$

(Aqui e em outros lugares, um 'chapéu' indica uma taxa de crescimento, então, por exemplo, $\hat{N} = \frac{\dot{N}}{N}$.) A taxa de emprego é simplesmente

$e = \frac{E}{N} \tag{8}$

Eu assumo que o salário real, w, é uma função da taxa de emprego:

$w = f[e] \tag{9}$

onde $f' > 0$. (No interesse da legibilidade, incluo todos os argumentos das funções entre colchetes.) Esta formulação captura a ideia de que o tamanho do exército de reserva de trabalho afeta o poder de barganha dos trabalhadores. Mais concretamente, pode-se esperar uma relação de equilíbrio positiva entre emprego e a taxa salarial devido ao efeito da taxa de emprego sobre o custo da perda de emprego (Bowles & Boyer, 1988). A equação acima também é consistente com a existência de uma curva salarial como a investigada econometricamente por Blanchflower e Oswald (1995). De fato, Blanchflower e Oswald argumentam que $f$ deveria ter a forma $f[e] = A(1 - e)^{-\xi}$ onde $A$ é uma constante positiva e $\xi \approx 0.1$, embora a meta-análise de Nijkamp e Poot (2005) sobre a literatura da curva salarial sugira que $\xi = 0.07$ é um valor mais realista. Note que essa forma para $f$ significa que o salário torna-se mais sensível a mudanças no emprego à medida que a taxa de emprego se aproxima de um [1].

[1]: Poderíamos também argumentar, seguindo Bowles e Boyer (1988), que a razão trabalho-produto variará ao longo do tempo à medida que mudanças nas condições do mercado de trabalho afetem o nível de intensidade do trabalho. No entanto, no presente modelo, ignoro esta possibilidade em prol da simplicidade.

2.3 | Política fiscal

Neste modelo, os gastos reais do governo, G, são

$G = \phi N + \chi K \tag{10}$

onde $\phi$ e $\chi$ são constantes não negativas [2]. O primeiro termo, $\phi N$, no lado direito da equação (10) corresponde ao fato de que muitos componentes dos gastos governamentais (incluindo gastos com saúde, educação, habitação, infraestrutura, benefícios de aposentadoria e aspectos da rede de segurança social) tendem a crescer com o tamanho da população. O termo $\phi N$ pode ser considerado como um componente de gasto autônomo. O segundo termo, $\chi K$, leva em conta a possibilidade de que certos tipos de despesas governamentais possam crescer com o tamanho da capacidade produtiva da economia.

[2]: Neste modelo, os gastos governamentais consistem inteiramente em compras diretas do setor privado, mas isso não mudaria os resultados se, em vez disso, parte dos gastos assumisse a forma de benefícios em dinheiro para os trabalhadores que são imediatamente gastos.

Na realidade, não esperaríamos que qualquer componente significativo dos gastos governamentais crescesse exatamente em proporção à população, mas esperaríamos que os dispêndios do setor público atendessem a duas condições básicas. Primeiro, a razão entre os gastos governamentais e a renda nacional não deveria cair para zero nem subir para um a longo prazo. Segundo, quando há uma queda repentina no crescimento da renda nacional, geralmente não esperaríamos ver uma redução correspondente nos gastos públicos; é apenas no estado estacionário que as despesas do setor público e as rendas do setor privado cresceriam exatamente na mesma taxa. O termo $\phi N$ na Equação (10) fornece uma maneira direta de fazer a política fiscal atender a essas condições no presente modelo [3].

[3]: Claro, isso é equivalente à suposição de que um componente dos gastos governamentais cresça à taxa $n$. Em um modelo com mudança tecnológica, para atender às duas condições mencionadas acima, esse componente na verdade precisaria crescer à taxa natural, ou seja, a taxa de crescimento da população mais a taxa de crescimento da produtividade do trabalho. Isso pode ocorrer porque as expectativas sobre a qualidade dos serviços públicos aumentarão com o nível de desenvolvimento econômico. Assim, esperaríamos que os gastos com saúde, educação, benefícios de aposentadoria, auxílio aos desempregados etc., crescessem aproximadamente à taxa natural a longo prazo, mas não crescessem em sincronia com o capital fixo ou a renda nacional.

O governo financia seus gastos com uma combinação de impostos e empréstimos. Como uma descrição simples de um sistema tributário progressivo, assumo que apenas os capitalistas pagam impostos, e deixo o valor real do total de impostos em um dado momento ser $T$. Deixe $B$ denotar o estoque da dívida pública em aberto em qualquer momento e deixe $i$ ser a taxa de juros nominal sobre a dívida do governo. A dinâmica de $B$ é determinada por

$\dot{B} = pG + iB - pT \tag{11}$

Vou assumir que a dívida do governo circula como dinheiro e que a taxa de juros é definida por um banco central.

O valor nominal, $pD$, do déficit orçamentário do governo em qualquer momento é $pD = pG + iB - pT$. Vou assumir que o governo tenta regular o emprego variando o tamanho do déficit (como uma porcentagem do produto total) em resposta a mudanças na taxa de desemprego. Especificamente, assumo que o déficit orçamentário do governo satisfaz

$\frac{pD}{pQ} = \eta + \theta(1 - e) \tag{12}$

onde $\eta$ e $\theta$ são constantes e $\theta \geq 0$. Dado $G$ e as obrigações existentes da dívida do setor público, o governo realiza seu déficit alvo por meio de mudanças nos impostos agregados. Assim, os impostos reais agregados, $T$, devem satisfazer

$ T = G + \frac{iB}{p} - D \tag{13}$

Certamente, este modelo de política fiscal é uma aproximação simplificada da realidade. Mas ele captura o fato de que, em economias capitalistas reais, há uma forte tendência de os déficits orçamentários do governo aumentarem quando a taxa de desemprego sobe [4]. Além disso, este modelo de gastos deficitários nos permite explorar as possibilidades de estabilizar uma economia capitalista em uma taxa de emprego alta, variando agressivamente o déficit do governo em resposta às mudanças no emprego.

[4]: Por exemplo, Lowery (1985) estuda a dinâmica do déficit orçamentário federal dos EUA e descobre que um aumento de um ponto percentual na taxa de desemprego gera cerca de um aumento de três pontos percentuais no déficit orçamentário federal, medido como uma porcentagem dos gastos federais.

A descrição da política fiscal formulada aqui está relacionada a outras que apareceram na literatura. Se $\phi$ é definido como zero, o modelo de política fiscal torna-se semelhante à abordagem de finanças funcionais estudada por Ryoo e Skott (2017). Como veremos abaixo, a política contra-cíclica (12) cria um meio pelo qual a taxa de emprego pode influenciar a razão de vendas agregadas para o capital; Ryoo e Skott (p. 516–517) empregam uma ideia semelhante. Alternativamente, se $D$ e $\chi$ são definidos como zero, mas $\phi$ não, o modelo de política fiscal é muito semelhante ao estudado por Allain (2015), mas com a taxa de crescimento dos gastos autônomos limitada ao crescimento da população (veja também Fazzari, Ferri, Greenberg, & Variato, 2013). Essas suposições significam que a política fiscal pode desempenhar um papel significativo na determinação da poupança agregada, tanto por meio de mudanças na razão entre a renda nacional e os gastos governamentais quanto por mudanças no tamanho do déficit. No entanto, o presente modelo difere dos outros discutidos acima em um aspecto importante: neste artigo eu assumo que a distribuição de renda é ativamente contestada pelos trabalhadores e depende do nível de atividade econômica. Como veremos, esse fato complica significativamente a tarefa de gerenciamento macroeconômico.

2.4 | Renda e consumo

Os trabalhadores neste modelo não poupam nem possuem riqueza, e sua renda nominal total é $pwE$. Isso dá origem a uma função de consumo muito simples para os trabalhadores:

$pC_w = p_wE \tag{14}$

A renda em dinheiro agregada para os capitalistas é $pS + iB - pwE - pT$. Normalizada pelo nível de preços, isso é

$R = S + \frac{iB}{p} - wE - T \tag{15}$

Vou assumir que os capitalistas consomem uma proporção fixa não nula, $1-s$, de sua renda em dinheiro:

$pC_c = (1-s) pR \tag{16}$

Para simplificar a análise, ignorei a possibilidade de que os capitalistas levem em conta as perdas de inflação quando tomam decisões de consumo.

2.5 | Investimento em capital fixo

O investimento está sujeito a uma restrição de financiamento. Como resultado, o fluxo de caixa dos capitalistas, $R$, influencia decisões sobre investimento em capital fixo. Podemos incorporar essa ideia no modelo assumindo que a demanda bruta de investimento real, $I$, é determinada pela equação

$\frac{I}{K} = a - \beta i + \gamma r - \epsilon e \tag{17}$

onde $\beta$, $\gamma$ e $\epsilon$ são constantes não negativas. O primeiro termo, $a$, na função de investimento é um termo de 'espíritos animais' que pode variar ao longo do tempo, de uma maneira a ser especificada abaixo. A variável $r$ é o fluxo de caixa relativo ao capital fixo:

$r = \frac{pR}{pK} \tag{18}$

O termo $\gamma r$ captura o efeito do fluxo de caixa na demanda de investimento, como em Lavoie e Godley (2001–2002). O termo $-\beta i$ representa um efeito padrão da taxa de juros sobre o investimento; quando a taxa de juros sobre a dívida governamental é alta, torna-se relativamente mais atrativo para os capitalistas acumular dívida governamental, o que eles podem fazer diminuindo a taxa de investimento em capital fixo. Finalmente, o termo $-\epsilon e$ representa o fato de que a escassez de mão-de-obra — sem mencionar as mudanças nas relações sociais de produção resultantes de um mercado de trabalho apertado — provavelmente diminuirá a demanda por investimento [5]. Para evidências econométricas em apoio a essa suposição, veja Skott e Zipperer (2012).

[5]: À medida que a taxa de emprego se aproxima de um, pequenos aumentos na taxa de emprego podem ser esperados para ter um efeito cada vez mais significativo nas decisões de investimento. Poder-se-ia incorporar essa ideia no modelo com uma função de investimento não linear. No entanto, no interesse da simplicidade, usarei a especificação linear (17).





Equações:

$Q = pK \tag{1}$

$E = Q \tag{2}$

$\dot{K} = I - \delta K \tag{3}$

$S = C_w + C_c + I + G \tag{4}$

$\dot{X} = Q - S \tag{5}$

$\dot{F} = pR - pCc - pI \tag{6}$

$\hat{N} = n \tag{7}$

$e = \frac{E}{N} \tag{8}$

$w = f[e] \tag{9}$

$G = \phi N + \chi K \tag{10}$

$\dot{B} = pG + iB - pT \tag{11}$

$\frac{pD}{pQ} = \eta + \theta(1 - e) \tag{12}$

$ T = G + \frac{iB}{p} - D \tag{13}$

$pC_w = p_wE \tag{14}$


$R = S + \frac{iB}{p} - wE - T \tag{15}$

$pC_c = (1-s) pR \tag{16}$

$\frac{I}{K} = a - \beta i + \gamma r - \epsilon e \tag{17}$

$r = \frac{pR}{pK} \tag{18}$

$y = \frac{S}{X} \tag{19}$

$\hat{p} = \iota (y - \bar{y}) \tag{20}$

$\dot{a} = \kappa (y - \bar{y}) \tag{21}$

$\frac{d}{dt} i = \mu \hat{p} \tag{22}$

$c = a - \beta i \tag{23}$

$\dot{F} = \dot{B} \tag{24}$

$sR = I + D \tag{25}$

$sr = g + d \tag{26}$

$g = \frac{I}{K} = c + \gamma r - \epsilon e \tag{27}$

$d = \frac{D}{K} = p\eta + p\theta(1 - e) \tag{28}$

$r = r[c,e] \tag{29}$

$\frac{dr}{dc} = \frac{1}{s-\gamma} \tag{30}$



$\frac{dg}{dc} = \frac{s}{s-\gamma} \tag{31}$


$\frac{dr}{d\eta} = \frac{\rho}{s-\gamma} \tag{32}$

$\frac{dg}{d\eta} = \frac{\gamma \rho}{s-\gamma} \tag{33}$

$x = \frac{X}{K} \tag{34}$

$b = \frac{B}{pK} \tag{35}$







SIGLAS

B = estoque da dívida pública em aberto a qualquer momento;
$\dot{B}$ = taxa de variação do estoque da dívida pública ao longo do tempo;
Cc = consumo real dos capitalistas;
Cw = consumo real dos trabalhadores;
D = déficit orçamentário real;
e = taxa de emprego;
E = emprego agregado;
$\dot{F}$ = derivada do estoque de capital financeiro em relação ao tempo;
f[e] = função (f) da taxa de emprego (e);
G = gastos reais do governo;
i = taxa de juros nominal sobre a dívida do governo;
I = Investimento real bruto em capital fixo;
K = capital fixo; estoque de capital; quantidade de capital fixo;
$\dot{K}$ = derivada das quantidades de capital em relação ao tempo; taxa de variação (derivada) do estoque de capital ao longo do tempo;
N = tamanho da força de trabalho;
N^ = taxa de crescimento de N;
n = taxa de crescimento (considerada constante);
$\dot{N}$ = derivada de N em relação ao tempo; a taxa de variação de N ao longo do tempo;
p = preço de uma unidade de produto/bem;
pD = déficit orçamentário nominal do governo;
pR = Fluxo de caixa dos capitalistas;
pCc = valor monetário do consumo dos capitalistas;
pI = valor monetário do investimento bruto;
Q = produção agregada real;
S = demanda agregada;
T = valor real total dos impostos em certo momento;
$\dot{X}$ = derivada dos estoques reais mantidos pelos capitalistas em relação ao tempo;
w = salário real;

ρ = (letra grega minúscula rho) = razão produto-capital;
δ = taxa de depreciação do capital fixo;
Φ e χ = constantes não negativas.




segunda-feira, 8 de abril de 2024

Competição, Monopólio e Taxas de Lucro Diferenciais - Willi Semmler

SEMMLER, Willi. Competition, Monopoly, and Differential Profit Rates: On the Relevance of the Classical and Marxian Theories of Production Prices for Modern Industrial and Corporate Pricing. New York: Columbia University Press, 1984.

Sumário:

Parte 1 - Sobre Teorias de Concorrência e Suas Previsões Empíricas 1

Capítulo 1. Introdução e Visão Geral 3

Capítulo 2. Sobre Teorias de Concorrência 9

2.1 Sobre a Teoria Neoclássica: Concorrência e Convergência Para o Equilíbrio 10

2.2 Sobre a Teoria Clássica: Centro de Gravidade e Flutuação dos Preços de Mercado 14

2.2.1 Reprodução e Produto Excedente 14

2.2.2 Centro de Gravidade 16

2.2.3 Posição de Longo Prazo e Desvios 20

2.3 Sobre a Teoria Marxista: Concorrência e Desequilíbrio 21

2.3.1 Produção de Excedente, Autoexpansão do Capital e Concorrência 22

2.3.2 Valores de Mercado e Preços de Produção como Centros de Gravidade 24

2.3.3 Mudanças nos Centros de Gravidade 28

2.3.4 Taxa Média de Lucro, Taxas de Lucro Diferenciais e Renda 34

2.4 Sobre Teorias Pós-Marxistas e Pós-Keynesianas: A Ascensão do Oligopólio e Poder de Mercado 38

2.5 Resumo e Previsões Empíricas das Diferentes Teorias 44

Parte 2 - Evidência Empírica sobre Preços Industriais e Corporativos e Taxas de Lucro Diferenciais 53

Capítulo 3. Evidência Empírica sobre Preços Industriais e Corporativos 55

3.1 Equações de Preço para o Mecanismo Competitivo, Precificação Oligopolista e Preços de Produção 56

3.1.1 Mecanismo Competitivo e Oferta e Demanda — Teoria Neoclássica 56

3.1.2 Poder de Mercado e Precificação Oligopolista — Teoria PósKeynesiana 58

3.1.3 Preços de Produção — Teorias Clássica e Marxista 63

3.2 Evidência Empírica sobre Determinantes dos Preços Industriais e Corporativos 69

3.2.1 Oferta e Demanda e Preços Competitivos 69

3.2.2 Poder de Mercado e Precificação Oligopolista 72

3.2.3 Preços de Produção como Centros de Gravidade para os Preços de Mercado 77

3.2.4 Resumo e Conclusões 81

3.3 Oferta e Demanda, Poder de Mercado, Preços de Produção e Mudança de Preço 82

3.3.1 Efeito Neutro da Concentração sobre Mudança de Preço 83

3.3.2 Concentração, Amortecendo ou Reforçando o Aumento de Preço 85

3.3.3 Concentração, Rigidez de Preço e Ciclos Econômicos 89

3.4. Resumo e uma Explicação Alternativa para a Mudança de Preço no Ciclo Econômico 96

Capítulo 4. Evidência Empírica sobre Taxas de Lucro Diferenciais para Indústrias e Empresas 106

4.1 Observações Metodológicas 106

4.2 Resultados Empíricos sobre Taxas de Lucro Diferenciais 111

4.2.1 Resumo de Estudos sobre Poder de Mercado e Taxas de Lucro Diferenciais 111

4.2.1 Resumo de Estudos sobre Poder de Mercado e Taxas de Lucro Diferenciais 111

4.2.2 Concentração e Diferenças de Rentabilidade Interindustriais e Interempresariais 111

4.3 Concentração, Barreiras à Mobilidade e Taxas de Lucro Diferenciais: Um Teste Simples para a Alemanha Ocidental 128

4.3.1 Concentração e Condições de Oferta 129

4.3.2 Concentração e Taxas de Lucro Diferenciais 131

4.3.3 Barreiras à Mobilidade e Taxas de Lucro Diferenciais 133

Parte 3 Estudos Empíricos e as Teorias Clássica e Marxista 139

Capítulo 5. Preços de Produção, Indústrias de Produto Único e Precificação Industrial 141

5.1 Avaliação dos Estudos Empíricos sobre Taxas de Lucro Diferenciais 141

5.1.1 Condições de Oferta e Demanda e Taxas de Lucro Diferenciais 141

5.1.2 Variáveis de Poder de Mercado e Taxas de Lucro Diferenciais 142

5.1.3 Tamanho da Empresa, Participação de Mercado e Taxas de Lucro Diferenciais 145

5.1.4 Causas dos Diferenciais nas Margens de Lucro 146

5.2 Preços de Produção e Taxas de Lucro Diferenciais 147

5.3 Preços de Produção, Precificação Industrial e Markups 151

Capítulo 6. Preços de Produção, Produção Conjunta e Precificação Corporativa 160

6.1 Um Modelo Simples de Produção Conjunta e Atividades Corporativas 161

6.2 Produção Conjunta com Atividades Separadas e Não Separadas 167

6.2.1 Produção Conjunta e Atividades Separadas 171

6.2.2 Produção Conjunta e Atividades Não Separadas 177

6.3 Preços de Produção, Precificação Corporativa e Markups 182

Capítulo 7. Poder de Mercado e Poder Corporativo — Algumas Conclusões 190

Apêndices 195

Apêndice 1. Mudança Técnica e Mudança nos Valores 197

Apêndice 2. Mudança Técnica e Mudança nos Preços de Produção 201

Apêndice 3. Produção Conjunta, Taxa de Lucro Uniforme, Preços e Não Substituição 205

A3.1 Problema de Autovalor Generalizado e Preços 205

A3.2 Produção Conjunta e Teorema da Não Substituição 207

Apêndice 4. Produção Conjunta, Taxas de Lucro Diferenciais e Preços 209

Apêndice 5. A Lei de Oferta e Demanda: A Existência e Estabilidade de um Equilíbrio Geral 212

quinta-feira, 4 de abril de 2024

Como Começar a Estudar Economia

Por: Felipe Borti (Canal Grundrisse). Economista e mestrando em Desenvolvimento Socioeconômcio.

Obs: as sugestões a seguir não pretendem ser um guia definitivo de como começar estudar economia, trata-se apenas da partilha de algumas experiências, dicas de leitura e problemas com os quais me deparei nos anos inicias dos estudos em economia, visando ajudar aqueles que pretendem embarcar nessa longa jornada.

Introdução

Ao começar a estudar economia, é comum deparar-se com uma série de desafios, desde compreender os conceitos básicos até mergulhar em análises mais complexas. Desse modo, é fundamental criar bases sólidas que possibilitem o avanço nos estudos.

A primeira e mais impotante recomendação de livro, visando tanto uma introdução à economia de modo geral, mas dando certa ênfase em macroeconomia, é o livro A Nova Contabilidade Social: Uma Introdução à Macroeconomia da professora Leda Paulani e do Márcio Bobik Braga (ambos professores da USP). A contabilidade social está para a macroeconomia assim como o pré-cálculo está para o cálculo, ou seja, trata-se de uma disciplina fundamental para o estudo da macroeconomia.

PAULANI, Leda Maria e BRAGA, Márcio Bobik.  A Nova Contabilidade Social: uma introdução à macroeconomia - 5. ed. - São Paulo: Saraiva, 2020.

Nosso curso de contabilidade social, baseado principalmente no referido livro, está disponível aqui.

Materiais para o estudo da contabilidade social marxista podem ser encontrados aqui.

Outros materiais para o estudo da contabilidade social convencional estão disponíveis aqui.

Alternativamente, para um estudo mais geral de introdução à economia, abordando noções introdutórias de contabilidade social, macroeconomia, economia monetária, economia internacional, orçamento público, dentre outros, veja o nosso curso Introdução à Economia - Teoria e Exercícios.

Edições

Além do livro da Leda Paulani e do Márcio Braga, existe outro livro de altíssimo nível chamado Contabilidade Social (2017) escrito pela professora Carmem Feijó. Todavia, esse livro possui um grau de complexidade maior, sendo o livro da Leda e do Braga muito mais didático.

Um cuidado importante que se deve ter ao começar estudar contabilidade social é justamente o ano da publicação do material utilizado. O sistema de contas nacionais brasileiro teve alterações importantíssimas a partir de 2015, mudando muitos elementos no que tange as contas nacionais e a metodologia do balanço de pagamentos. Além disso, em 2020 ocorreram alterações importantes nas definições dos agregados monetários, ou seja, textos anteriores a 2020 apresentam conceitos ultrapassados acerta dos agregados monetários (M1, M2, M3, e M4) e trabalhos anteriores a 2015 apresentam a versão antiga do sistema de contas e do balanço de pagamentos. Portanto, trabalhos anteriores já estão desatualizados em termos de conteúdo.

Conteúdo

Como dito anteriormente, a contabilidade social é um pré-requisitos INDISPENSÁVEL para o estudo da economia como um todo e, principalmente, da macroeconomia. Uma explicação do motivo desta ser a matéria mais importante do curso de economia se encontra aqui. O conteúdo do livro da Leda e do Braga podem ser divididos basicamente em 4 partes:

  • Contas Nacionais
  • Balanço de Pagamentos (BPM6)
  • Introdução à Economia Monetária (moeda, sistema monetário e inflação)
  • Indicadores sociais

Em Contas Nacionais, estudamos a mensuração sistemática da atividade econômica de um país, incluindo a produção de bens e serviços (Produto Interno Bruto - PIB), distribuição de renda, consumo, investimento e setores econômicos. Além disso, se estuda as contas específicas como as Tabelas de Recursos e Usos, as Contas Econômicas Integradas Institucionais (CEI), etc.

Em Balanço de Pagamentos (BPM6), se estudo basicamente o registro contábil que acompanha as transações econômicas entre um país e o resto do mundo - as contas externas. Inclui transações comerciais (exportações e importações), investimento estrangeiro, transferências financeiras, etc. O BPM6 é a metodologia atual do Balanço de Pagamentos do Brasil.

Em Introdução à Economia Monetária (dividido em três capítulos: "moeda", "sistema monetário" e "sistema monetário e inflação"), se estuda papel da moeda na economia, incluindo sua criação, circulação e controle por autoridades monetárias, as funções do Banco Central, a distinção entre moeda manual e moeda escritural, os tipos de déficits públicos, introduz as discussões acerca da inflação, os agregados monetários, dentre outros. Também aborda o sistema monetário de um país, incluindo políticas monetárias e seus efeitos sobre a inflação, o nível de preços e a estabilidade econômica.

Em Indicadores Sociais, se estuda as medidas que avaliam o bem-estar e o desenvolvimento social de uma sociedade. Incluem indicadores como taxa de desemprego, índice de desenvolvimento humano (IDH), desigualdade de renda, acesso à saúde e educação, entre outros. Esses indicadores são essenciais para compreender os aspectos sociais e distributivos da economia.

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