RIEU, Dong-Min; TIME, Money. A Mathematical Approach to Marxian Value Theory: Time, Money, and Labor Productivity. Cham: Palgrave Mcmillan, 2022.
Sumário
1 Introdução
Parte I - Valor e Preço
2 A Conexão Quantitativa Entre Valor e Preço
2.1 Configuração Básica
2.2 Trabalho: Abstrato, Social e Homogêneo
2.3 A Determinação do Valor da Força de Trabalho
2.4 Uma Exposição Diagramática
2.5 Uma Formulação Matemática
Referências
3 A Nova Interpretação: Rumo a um Desenvolvimento Crítico
3.1 Introdução
3.2 A Estrutura Formal da Nova Interpretação
3.3 Dupla Contagem e o Valor da Força de Trabalho
3.4 A Aplicação da Nova Interpretação no Nível Microeconômico
3.4.1 Desvio Valor-Preço
3.4.2 Heterogeneidade do Trabalho
3.4.3 Decomposição da Expressão Monetária do Tempo de Trabalho
3.4.4 O Método de Transformação Inversa
3.5 Conclusão
Referências
Parte II Exploração do Trabalho
4 Exploração do Trabalho como Origem dos Lucros
4.1 Introdução
4.2 O Teorema Marxiano Fundamental
4.3 Contexto Histórico
4.3.1 Conexão Shibata-Okishio-Morishima
4.3.2 Do Teorema Marxiano Fundamental ao Problema da Transformação
4.3.3 A Necessidade da Teoria do Valor do Trabalho
4.4 Interpretações do Teorema Marxiano Fundamental
4.4.1 Introdução
4.4.2 Interpretação Temporal Único-Sistema
4.4.3 A Nova Interpretação
4.4.4 Resumindo
4.5 Conclusão
Referências
Parte III Taxa de Lucro
6 O Teorema de Okishio
6.1 Introdução
6.2 O Teorema de Shibata-Okishio
6.3 Uma Refutação da Crítica da Interpretação Temporal Único-Sistema ao Teorema de Okishio
6.3.1 A Concepção de Tempo na Interpretação Temporal Único-Sistema
6.3.2 A Lei da Queda Máxima da Taxa de Lucro: Um Modelo de Um Setor
6.3.3 Análise de Simulação para um Modelo de Dois Setores
6.3.4 Generalização
6.3.5 Resumindo
6.4 O Destino do Teorema de Okishio?
6.4.1 O Teorema de Okishio como uma Tese Contrafactual
6.4.2 O Teorema de Foley-Laibman
6.4.3 Equilíbrio Competitivo e Preços de Produção
6.4.4 Observações Finais
Referências
7 Taxa de Lucro Decrescente: Falsificável ou não?
7.1 Introdução
7.2 Interpretação de Saad-Filho da Teoria de Valor Marxiana
7.3 Composição Orgânica do Capital
7.4 Tendência da Taxa de Lucro a Cair como uma "Lei Abstrata"
7.5 Observações Finais
Referências
8 Piketty Após Marx
8.1 Introdução
8.2 Piketty e Marx
8.2.1 A Estrutura do Modelo de Piketty
8.2.2 Diferenças nas Definições
8.2.3 Uma Leitura Alternativa de Piketty
8.3 Observações Finais
Referências
Parte IV Uma Nova Direção de Pesquisa
9 Relação Preço-Valor com Taxa de Lucro Estocástica e Heterogeneidade do Trabalho
9.1 Introdução
9.2 Especificação do Modelo
9.3 Análise de Simulação
9.3.1 Fluxos Físicos e Monetários
9.3.2 Métodos
9.3.3 Resultados
9.4 Conclusão
Referências
10 Sobre a Distinção de Marx Entre Produktivkraft e Produktivität
10.1 Introdução
10.2 Produktivkraft versus Produktivität
10.3 A Produtividade do Trabalho e o Poder Produtivo do Capital
10.3.1 A Produtividade do Trabalho
10.3.2 Poder Produtivo do Capital
10.4 Conclusão
Referências
11 Rumo a uma Análise Integrada da Produtividade do Trabalho
11.1 Introdução
11.2 Como Ler o Volume 1 de O Capital
11.3 Produtividade de Valor
11.4 A Dinâmica Entre a Expressão Monetária do Valor e a Expressão de Valor do Tempo de Trabalho
11.5 Exemplo: O Caso da Coreia do Sul
11.6 Conclusão
Referências
Lista de Figuras
Fig. 2.1 A ordem lógica de valor para preço 12
Fig. 2.2 A relação entre tempo de trabalho, valor e preço 19
Fig. 2.3 A conexão entre tempo de trabalho, valor e preço 26
Fig. 2.4 A mudança no valor da força de trabalho 27
Fig. 6.1 Taxas de lucro: um caso de OCP constante 125
Fig. 6.2 Taxas de lucro: um caso de aumento de OCP 125
Fig. 6.3 A lógica da competição inter-setorial 135
Fig. 6.4 Dinâmicas cruzadas-duais 137
Fig. 8.1 Aposta em negrito itálico de Piketty beta em negrito itálico na Coreia do Sul, 1995–2020 160
Fig. 8.2 A taxa de lucro, produtividade do capital e participação no lucro na Coreia do Sul: todas as indústrias, 1995–2020 (1995 = 1) 161
Fig. 9.1 Fluxograma das simulações 179
Fig. 9.2 Funções de densidade simuladas das taxas de lucro 182
Fig. 9.3 Funções de densidade simuladas do R-Quadrado ajustado na regressão preço-valor 183
Fig. 9.4 Funções de densidade simuladas da medida de distância na desvio preço-valor 184
Fig. 10.1 Frequência de uso dos termos “produtividade” e “productiveness” 190
Lista de Tabelas
Tabela 3.1 Um exemplo simples de reprodução 37
Tabela 3.2 Decomposição dos preços de produção em custo preço e lucro no estágio anterior de produção 38
Tabela 3.3 Modelo de três departamentos: exemplo 44
Tabela 3.4 Solução da nova interpretação 45
Tabela 3.5 Exemplo numérico para nova interpretação 46
Tabela 3.6 Decomposição da expressão monetária do tempo de trabalho 51
Tabela 4.1 O FMT e interpretações da teoria do valor Marxiana 88
Tabela 6.1 ‘‘Instâncias’’ de Shibata (1934) 112
Tabela 6.2 Trajetórias de Shibata e Marx 115
Tabela 6.3 Distinção de Kliman (2007) entre custo histórico e custo de reprodução pré-produção 119
Tabela 6.4 Exemplo de um setor de Kliman (2007) 120
Tabela 6.5 Cenários para simulações 124
Tabela 6.6 Um exemplo de economia de um único bem 133
Tabela 9.1 Medida de distância preço-valor 183
Tabela 11.1 A intensificação do trabalho 210
Tabela 11.2 O aumento no poder produtivo do trabalho 212
Tabela 11.3 Equalização das taxas de lucro 214
Tabela 11.4 Decomposição do MELT: dois casos 215
Tabela 11.5 Quatro tipos de setores 218
Tabela 11.6 Quatro tipos de indústrias baseadas na taxa de mudança 220
Tabela 11.7 Tipos de indústrias: Coreia do Sul, 1990–1995–2000 220
Tabela 11.8 Taxas crescentes de produtividade total do trabalho: Coreia do Sul, 1990–1995–2000 (taxa anual, %) 221
Tabela 11.9 Expressão monetária do tempo de trabalho no nível da indústria: Coreia do Sul, 1990–1995–2000 221
Parte I - Valor e Preço
2 A Conexão Quantitativa Entre Valor e Preço
2.2 Trabalho: Abstrato, Social e Homogêneo
Em relação à teoria do valor do trabalho Marxista, é importante especificar semelhanças e diferenças entre o par de conceitos, trabalho abstrato/concreto, trabalho social/privado, e trabalho homogêneo/heterogêneo. Vamos começar com o conceito de trabalho abstrato, que geralmente é considerado como a substância do valor apesar de todas as diferenças entre as diversas correntes da teoria do valor Marxista. Dois problemas cruciais e mutuamente relacionados são: se o trabalho abstrato é um conceito específico ao capitalismo, e sua relação com o trabalho social e o trabalho homogêneo. Se o trabalho abstrato é um conceito trans-histórico representando a divisão social do trabalho em geral que "constitui a base material comum para todas as sociedades" (Itoh, 2021, p. 97) ou um conceito historicamente específico aplicável apenas às sociedades capitalistas, deve ser abordado a partir de uma perspectiva de situações sociais e históricas que tornam tal abstração possível.
Uma hipótese de trabalho neste capítulo é que o trabalho abstrato como a substância do valor é um ponto de partida, ou um axioma da análise econômica de Marx sobre o capitalismo. Os axiomas não são produzidos do nada, mas são determinados pelo objetivo da teoria, ou dito de outra forma, uma posição ideológica [3]. Sem dúvida, a razão pela qual um axioma específico é escolhido deve ser verificada na realidade. No entanto, a realidade depende de qual objeto de análise é escolhido. Se o problema da distribuição de bens (e serviços) que são escassos em relação às necessidades humanas é colocado como objeto de análise, é necessário ter um axioma sobre princípios entre seres humanos e recursos escassos, como a maximização da utilidade através do comportamento racional dos agentes econômicos. No entanto, como Marx notou no primeiro parágrafo do primeiro volume do Capital, o objeto de sua crítica à economia política é o modo de produção capitalista com "uma imensa coleção de mercadorias" (Marx, 1976, p. 125). Com isso em mente, o conceito de trabalho abstrato deve ser derivado de algumas características específicas da realidade capitalista [4]. É neste sentido que uma "visão pré-analítica" com "implicações éticas definitivas e importantes" deve ser demonstrada (Hunt, 1983, p. 335).
[3]: Segundo o instrumentalismo metodológico, axiomas ou suposições básicas de um determinado sistema teórico podem ser escolhidos para conveniências analíticas ou pragmáticas, como modelagem matemática mais fácil e coleta de dados empíricos. O instrumentalismo, no entanto, também é ideológico no sentido de que mantém nossos olhos longe dos contextos históricos e sociais do sistema teórico.
[4]: As coisas seriam diferentes se alguém colocasse uma sociedade produtora de mercadorias em geral como o objeto da economia. Como é bem conhecido, a "produção de mercadorias simples" de Engels é aplicada a todas as sociedades pré-capitalistas.
Agora estamos diante dos seguintes dois pontos.
Primeiro, a mercantilização da força de trabalho em si é compatível com qualquer noção de valor. O problema é que a força de trabalho e as mercadorias devem ser definidas sem pressupor nenhum conceito específico de valor. Alternativamente, o conceito de força de trabalho logicamente precede o conceito de trabalho abstrato. É por isso que a mercantilização da força de trabalho é historicamente explicada nos últimos capítulos da "acumulação primitiva" no primeiro volume do Capital, depois que foi previamente fornecida com base puramente lógica para explicar a origem do lucro capitalista. Portanto, o trabalho abstrato inclui o momento da própria mercantilização da força de trabalho.
Segundo, a definição do valor da força de trabalho pode facilmente correr o risco de um raciocínio circular. Isso ocorre porque o trabalho abstrato em si é baseado no fato de que a força de trabalho é mercantilizada, enquanto a força de trabalho, na medida em que é uma mercadoria, tem seu valor e sua substância não é nada além de trabalho abstrato. Para evitar esse ciclo vicioso, o valor da força de trabalho também deve ser introduzido como uma definição axiomática [5]. Visto sob esta luz, a estrutura lógica do Capital, volume 1, que tenta provar a existência de exploração partindo da troca igual de força de trabalho, deve ser reexaminada (Obata, 1988, p. 161).
[5]: No caso da teoria da utilidade do valor, o caráter mercantil da força de trabalho não causa nenhum problema. Basta dizer que a força de trabalho é realmente negociada como uma mercadoria e, portanto, pode ser trocada por dinheiro como uma fonte de utilidade.
Em resumo, a proposição de que o trabalho abstrato é um conceito específico à sociedade na qual a força de trabalho é mercantilizada tem as seguintes duas fundamentações.
Primeiro, o principal objeto da economia não é a interação entre seres humanos e a natureza, mas a relação social entre pessoas e pessoas em seu contexto histórico. Este conceito é uma posição teórica que resulta do materialismo histórico.
Segundo, o conceito de trabalho deve ser determinado de forma consistente com a mercantilização da força de trabalho. Neste caso, o trabalho deve conter a determinação da força de trabalho como um de seus momentos importantes [6].
[6]: De um ponto de vista mais ortodoxo, a mercantilização da força de trabalho é considerada uma pré-condição para o conceito de trabalho abstrato da seguinte forma: “...sob condições de produção de mercadorias em pequena escala (auto-propriedade), mesmo que todos os meios de produção sejam monetizados (trocados), as mercadorias não trocarão seus valores, exceto como uma exceção. Isso ocorre porque uma parte do tempo de trabalho incorporado nas mercadorias produzidas permanece como trabalho concreto. O trabalho vivo gasto na produção é o do proprietário e da família e não é monetizado, e, portanto, não é normalizado pela troca” (Weeks, 1981, p. 36). Enquanto Weeks enfatiza que a quantidade de trabalho abstrato não pode ser medida sem a mercantilização da força de trabalho, este capítulo foca na consistência teórica para manter o axioma de que a substância do valor é o trabalho abstrato.
Como o trabalho abstrato é um conceito que extrai características comuns e gerais de todo trabalho humano, por definição, ele contém um momento de homogeneização. Em outras palavras, o trabalho abstrato deve ser comensurável para “construir um espaço econômico homogêneo” (Bidet, 2007, p. 12). Este ponto está diretamente relacionado à questão de se o trabalho abstrato possui uma quantidade. Se o trabalho abstrato como a substância do valor não tem uma quantidade, existem duas possíveis soluções. Uma é introduzir outro conceito que reflita a substância do valor e que seja mensurável ao mesmo tempo. A outra é argumentar que o preço é a expressão do trabalho abstrato como a essência, ou mais significativamente, que o próprio dinheiro é trabalho abstrato (Reuten & Williams, 1989). No entanto, é difícil aceitar esta última pois o valor se torna um conceito redundante no sentido de que não é diferenciado qualitativa ou quantitativamente do preço na medida em que o trabalho abstrato é representado apenas pelo dinheiro. Ao contrário, a primeira é uma teoria ineficiente porque um conceito adicional é necessário para torná-la uma teoria autossuficiente. Em resumo, deve-se concluir que o trabalho abstrato tem uma quantidade por necessidade teórica.
A quantidade de trabalho abstrato é determinada pela lógica de homogeneização incluída no conceito de trabalho abstrato em si. As bases reais para o processo de homogeneização são encontradas na mobilidade livre do trabalho, a “versatilidade do trabalho” (Lee, 1990) fortalecida pela expansão da troca de mercadorias. A homogeneização é realizada através da repetição das trocas de mercadorias capitalistas. É impossível, e até mesmo sem sentido, postular o conceito de trabalho abstrato sem homogeneização. Excluir a priori o trabalho homogêneo leva à crítica de redundância do conceito de valor (Bowles & Gintis, 1977), ou então, à determinação de fato do valor pelo preço (Krause, 1982). Para resumir, trabalho abstrato e homogêneo referem-se à mesma coisa em uma sociedade capitalista. O trabalho abstrato pode ser definido como trabalho homogeneizado através da troca de mercadorias capitalista. Este ponto é indiretamente confirmado pelo seguinte parágrafo do Capital, Volume 1. Aqui, a substância do valor é trabalho homogêneo; em outras palavras, trabalho abstrato.
o trabalho que forma a substância do valor é o trabalho humano igual, o dispêndio de força de trabalho humana idêntica. A força de trabalho total da sociedade, que se manifesta nos valores do mundo das mercadorias, conta aqui como uma massa homogênea de força de trabalho humana, embora composta por inúmeras unidades individuais de força de trabalho. Cada uma dessas unidades é a mesma que qualquer outra, na medida em que tem o caráter de uma unidade média social de força de trabalho e atua como tal. (Marx, 1976, p. 129)
Agora, vamos abordar a distinção entre trabalho privado e trabalho social.
O trabalho privado é validado como trabalho social quando seu produto é reconhecido como socialmente útil. O conceito de trabalho social em si é trans-histórico. Por exemplo, na chamada produção de mercadorias simples, a distinção entre trabalho privado e trabalho social é válida sem a mercantilização da força de trabalho. No entanto, um modo de socialização é historicamente específico. Nas sociedades capitalistas, trabalho social é um conceito que reflete a anarquia da produção capitalista.
O objeto principal da socialização é o valor de uso de uma mercadoria. O trabalho privado falha na socialização se seu produto não é vendido no mercado, e por isso é considerado socialmente inútil. O seguinte parágrafo de Marx deixa claro este ponto:
...elas [mercadorias-Rieu] devem passar no teste como valores de uso antes que possam ser realizadas como valores. Pois o trabalho despendido nelas só conta na medida em que é despendido em uma forma que é útil para outros. No entanto, apenas o ato de troca pode provar se esse trabalho é útil para outros, e seu produto, consequentemente, capaz de satisfazer as necessidades de outros. (Marx, 1976, pp. 179–180)
Sem dúvida, como as mercadorias em sociedades capitalistas possuem tanto valor de uso quanto valor, a invalidação do valor de uso implica simultaneamente a invalidação do valor. No entanto, como a troca de mercadorias capitalistas prevalece, bens e serviços socialmente úteis sem valor também podem ser validados através de vendas de mercado. Terras e recursos naturais são exemplos representativos. No entanto, em sociedades pré-capitalistas, o produto do trabalho é validado como útil, sem que todo trabalho humano seja considerado igual. Portanto, a lógica da socialização é independente da lógica da homogeneização, que é a base para o conceito de trabalho abstrato. Neste sentido, são dois pilares teóricos da interpretação da troca de mercado capitalista. Sem uma distinção clara entre essas duas lógicas, conclui-se que o valor é explicado pelo preço, ou então o valor é redundante para explicar o preço [7].
[7]: É Lipietz (1985, p. 163) quem claramente distingue a lógica da socialização e a da homogeneização quando argumenta que a contradição resolvida pela troca é aquela entre trabalho privado e social, nem valor de uso/valor nem trabalho concreto/abstrato.
A lógica da homogeneização e da socialização estão relacionadas à reprodução das relações de produção e dos agentes individuais, respectivamente.
A lógica da socialização está diretamente conectada à reprodução de agentes individuais. Em uma sociedade capitalista, os produtores de mercadorias (independentes ou capitalistas) podem realizar o valor produzido através da validação social ao venderem seus produtos no mercado. A reprodução dos trabalhadores individuais também depende de se eles conseguem se socializar vendendo sua força de trabalho. Por contraste, a lógica da homogeneização é sempre acompanhada pela tendência de diferenciação. Os capitalistas, na medida em que aumentam o lucro, tentam diferenciar o trabalho usando a estratégia de dividir para conquistar. Mercado de trabalho dividido ou diferenciação de acordo com elementos sociais e culturais como gênero e raça podem ser entendidos neste contexto. Portanto, a lógica da homogeneização é “um movimento cíclico mostrando a realização alternada da tendência e então da contrariedade” (Carchedi, 1991, p. 5) [8]. Embora a tendência de diferenciação tenha prevalecido por muito tempo (Roemer, 1978), a lógica da homogeneização é a tendência principal porque a organização do processo de produção capitalista é praticada pela iniciativa dos capitalistas.
[8]: Carchedi (1991, pp. 4–5) chama isso de “uma tendência do segundo tipo” enquanto “uma tendência do primeiro tipo” indica “um movimento em direção a um ponto ou uma área em que a maioria dos fenômenos realizados estão agrupados.” De acordo com essa terminologia, a lógica da socialização é do primeiro tipo enquanto a lógica da homogeneização é do segundo tipo.
Outro ponto a ser notado é que o conflito entre a tendência e a contrariedade é refletido na determinação da taxa de mais-valia, o que leva à evolução desigual das taxas de mais-valia entre setores industriais ou grupos de trabalhadores, como qualificados vs. não qualificados, masculino vs. feminino, etc. Enquanto a lógica da homogeneização implica que o potencial valor de uso da força de trabalho é dado como a capacidade de criação de valor no ponto do contrato de emprego, a equalização das taxas de mais-valia implica que a capacidade de criação de valor é equalizada no processo de despesa de trabalho após o ponto do contrato de emprego. Diferente de outras mercadorias, no caso da força de trabalho, o valor de uso potencial e o valor de uso real não são proporcionais nem estão em uma relação quantitativa fixa. Enquanto a socialização em geral em mercadorias é a transformação do valor de uso potencial em valor de uso real, essa transformação no caso da força de trabalho ocorre no processo de produção após o ponto do contrato de emprego.
Para concluir, a distinção entre tempo de trabalho, valor e preço está relacionada à lógica da homogeneização e da socialização como mostrado na Fig. 2.2. Tempo de trabalho, valor e preço, respectivamente, correspondem ao sistema físico, sistema de valor e sistema de preço da produção capitalista. Em particular, tempo de trabalho aqui implica o dispêndio de força de trabalho humana em uma forma concreta útil medida em horas de relógio. A seta indicada por ➂ denota a lógica da socialização na qual o produto deste trabalho concreto é trocado por dinheiro, sendo assim socialmente reconhecido. Este processo pode ser estabelecido entre trabalho concreto e dinheiro diretamente sem a mediação de valor ou trabalho abstrato. Por contraste, a seta ➀ indica o processo de transformar trabalho concreto heterogêneo em trabalho abstrato homogêneo enquanto a seta ➁ representa a conexão qualitativa e quantitativa entre valor e preço ou, de outra forma, trabalho abstrato e dinheiro.
2.3 A Determinação do Valor da Força de Trabalho
Ao explorar a conexão quantitativa entre valor e preço, esta seção se concentrará em determinar o valor da força de trabalho. Como a força de trabalho não é um produto do capital, a categoria correspondente ao preço de produção não pode ser definida. Portanto, a ordem lógica da transformação é do valor da força de trabalho para o preço da força de trabalho, e finalmente para o salário de mercado. Ou seja, A → B → C → D no caso de mercadorias gerais na Fig. 2.1 torna-se A → B → D no caso da força de trabalho. Em outras palavras, composições orgânicas diferenciais de capital ou taxas setoriais de lucro não têm nenhum impacto no caso da força de trabalho porque não existe um setor que produza "força de trabalho". A força de trabalho tem um preço de valor ou preço de mercado. Portanto, é possível "transformar inversamente" salários de mercado no valor da força de trabalho através do processo de D → B → A [9].
[9]: O próprio Marx discutiu "a transformação do valor da força de trabalho em salários" no capítulo 19 do Capital, Volume 1 antes de abordar o problema da transformação em geral no Volume 3. Isso pode ser plausível porque a conexão entre o valor da força de trabalho e o salário só requer o nível de abstração do Volume 1. Nesse sentido, o argumento aqui não é necessariamente inconsistente com a própria ideia de Marx.
Para explicar a existência da exploração capitalista, Marx introduziu a distinção entre trabalho e força de trabalho. Esta distinção tem dois significados. Um é que a força de trabalho também tem seu valor de uso na medida em que é uma mercadoria. O outro é que, ao contrário de outras mercadorias, valor e valor de uso são homogêneos no caso da força de trabalho. A força de trabalho como uma mercadoria não é um conceito qualitativamente novo; antes, a novidade pode ser encontrada no fato de que o caráter não-comercial da força de trabalho é enfatizado. Portanto, o destaque deve ser dado ao "peculiar" em vez de "mercadoria" quando a força de trabalho é definida como uma "mercadoria peculiar" (Marx, 1976, p. 274). O domínio específico da teoria do valor Marxiana é a análise do processo de trabalho capitalista no qual o conflito de classe em torno da produção e apropriação de valor emerge. Este domínio pode ser capturado reconhecendo as características não-comerciais da força de trabalho.
Valor e preço são dois sistemas diferentes que medem o mesmo sistema físico de acordo com dois princípios diferentes. No caso de mercadorias gerais, seu peso em um sistema é diferente do outro sistema. Alternativamente, o valor relativo e o preço relativo são diferentes. No entanto, no caso da força de trabalho, essa incongruência não ocorre. Portanto, um fio condutor para perseguir a conexão quantitativa entre valor e preço é dado pela determinação do valor da força de trabalho.
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