sábado, 2 de setembro de 2023

Microeconomia Mainstream e Heterodoxa - Fábio Petri

PETRI, Fabio. Microeconomics for the critical mind: mainstream and heterodox analyses. Springer Nature, 2021.

Sumário

1 Abordagem Clássica ou do Excedente 1

1.1 Uma Breve Introdução Histórica 3

1.2 Excedente Social e Distribuição de Renda 6

1.3 Distribuição de Renda, Salários 12

    1.3.1 Nível Geral de Salários 12

    1.3.2 Salários Relativos. 18

1.4 Outros Dados na Determinação do Excedente 19

    1.4.1 Quantidades 19

    1.4.2 Tecnologia. 20

1.5 Renda da Terra 24

    1.5.1 Renda Diferencial Extensiva 24

    1.5.2 Renda Diferencial Intensiva 26

1.6 Taxa de Lucro e Preços Relativos 30

1.7 Modelo de Cereais, Bens de Luxo, a Função Decrescente w(r) 36

1.8 A Teoria do Valor-Trabalho 39

1.9 Marx 46

    1.9.1 Valores, Mais-Valor, Valor da Força de Trabalho 46

    1.9.2 Determinação da Taxa de Lucro 48

    1.9.3 Um Erro na Determinação de Marx da Taxa de Lucro 51

1.10 A Tradição Marxista 52

1.11 A Commodity Padrão como a Commodity 'Média' que Marx Procurava 57

1.12 Mais sobre Marx 59

    1.12.1 Salários 59

    1.12.2 Quantidades 62

    1.12.3 Crescimento, Mudança Técnica, a 'lei' da Tendência da Taxa de Lucro a Cair 64

    1.12.4 Marx e o Futuro do Capitalismo 69

1.13 Análises 'Centrais' e 'Externas' na Abordagem do Excedente 71

1.14 Uma Visão Moderna dos Determinantes da Produção Agregada 73

    1.14.1 Indo Além de Marx sobre o que Determina a Produção Agregada 73

    1.14.2 O Princípio da Demanda Efetiva 75

    1.14.3 O Multiplicador Dinâmico 81

    1.14.4 A Adaptabilidade da Produção à Demanda 83

1.15 Conclusões 85

1.16 Perguntas de Revisão e Exercícios  85

Referências 88

2 Preços de Longo Prazo 91

2.1 Preços de Longo Prazo: Representação Matricial 93

2.2 Autovalores e o Teorema de Perron–Frobenius 96

2.3 Aplicando Perron–Frobenius. A Commodity Padrão 100

2.4 Commodities Não-Básicas 105

2.5 Modelo Aberto de Leontief 106

2.6 A Condição de Hawkins-Simon 109

2.7 A Interpretação do Inverso de Leontief 109

2.8 Subsistemas; Trabalho Incorporado como Multiplicadores de Emprego 110

2.9 Precificação com Coeficientes Técnicos Verticalmente Integrados 112

2.10 A Relação Entre a Taxa de Lucro e a Taxa de Salários 112

2.11 Escolha de Técnica 119

2.12 Não-Básicas e Escolha de Técnicas 127

2.13 Técnicas Incluindo Diferentes Commodities 129

2.14 O Modelo Samuelson-Garegnani e o Modelo Champagne-Whiskey 130

2.15 Capital Fixo 137

2.16 Conclusões 147

2.17 Perguntas de Revisão e Exercícios 148

Referências 151

3 Introdução à Abordagem Marginal 153

3.1 Introdução 156

3.2 Equilíbrio e Gravitação 157

3.3 Economia de Trabalho-Terra-Milho: Substituibilidade Direta (ou Tecnológica) dos Fatores 159

    3.3.1 Funções de Produção, Isoquantas e Produtos Marginais 159

    3.3.2 Curvas de Demanda de Fatores, Função de Custo e Equilíbrio nos Mercados de Fatores 163

    3.3.3 Importância da Substituibilidade de Fatores 174

    3.3.4 Estática Comparativa 175

3.4 O Papel da Escolha do Consumidor: O Mecanismo de Substituição Indireta de Fatores 177

3.5 A Operação Simultânea de Ambos os Mecanismos de Substituição e a Importância de Curvas de Demanda de Fatores Altamente Elásticas 180

3.6 Dinheiro 184

3.7 Eficiência, Economia de Trocas na Floresta, Curvas de Escolha e Equilíbrio na Caixa de Edgeworth. 185

    3.7.1 Elementos da Teoria do Consumidor: Função de Utilidade, Curvas de Indiferença, MRS 185

    3.7.2 Economia de Trocas, Caixa de Edgeworth, Eficiência de Pareto 190

3.8 Eficiência de Pareto na Economia de Produção. Custo Marginal 196

3.9 Robinson Crusoe e a Valoração de Mercado como Reflexo de Leis 'Naturais' 206

3.10 Introdução da Taxa de Juros e do Capital na Teoria Marginalista da Distribuição 209

    3.10.1 A Taxa de Juros na Economia de Trocas 209

    3.10.2 A Taxa de Juros na Economia de Milho 211

    3.10.3 Capital e o Mecanismo de Substituição Indireta de Fatores 213

3.11 Dinheiro e a Taxa de Juros 217

3.12 Acumulação 218

3.13 Uma Comparação Entre as Abordagens Clássica e Marginal para a Distribuição de Renda: A Diferença Analítica Básica e Algumas Implicações 219

    3.13.1 Os Dados Diferentes na Determinação da Taxa de Retorno sobre o Capital 219

    3.13.2 O Papel dos Elementos Sociais e Políticos. Concorrência nos Mercados de Trabalho 222

    3.13.3 Exploração? 224

    3.13.4 Progresso Técnico, Salários Relativos, Troca Desigual 226

3.14 Renda Diferencial Intensiva e a Abordagem Marginal 228

3.15 Elementos Finais de Diferenciação: Oferta de Capital, Lei de Say 236

3.16 Conclusão 240

3.17 Perguntas de Revisão e Exercícios 241

Referências 245

4 Consumidores e a Economia de Trocas 247

4.1 Introdução 250

4.2 O Conjunto de Consumo, o Tempo e o Papel do Equilíbrio 250

4.3 Preferências e Utilidade 253

4.4 Preferências Convexas, Utilidade Quase Côncava, Curvas de Indiferença Típicas. 259

4.5 Otimização 261

4.6 Demanda, Continuidade e Hemicontinuidade Superior de Correspondências 264

4.7 A Economia de Trocas de Dois Bens e a Importância da Continuidade da Demanda 268

4.8 Condições de Primeira Ordem. Soluções de Canto. O Teorema de Kuhn-Tucker 272

4.9 Teorema do Envelope 280

4.10 Utilidade Indireta, Função de Despesa, Demanda Compensada 282

4.11 Identidade de Roy, Lema de Shephard, Algumas Dualidades e Algumas Funções de Utilidade 287

    4.11.1 Identidade de Roy e Lema de Shephard 287

    4.11.2 Funções de Utilidade Homotéticas e Preferências Homotéticas 289

    4.11.3 Utilidade Quase Linear 290

    4.11.4 Função de Utilidade Cobb-Douglas e Elasticidade de Substituição 291

    4.11.5 Função de Utilidade CES 293

4.12 A Equação de Slutsky 295

4.13 Dadas as Dotações: O MUP Walrasiano, A Equação de Slutsky Walrasiana 301

4.14 Oferta de Trabalho. Decisão de Poupança 305

4.15 Algumas Notas Sobre a Utilidade da Teoria do Consumidor para Estimação Empírica 310

4.16 Função de Utilidade Métrica em Dinheiro, Variação Equivalente, Variação Compensatória 313

4.17 Utilidade de Marginal Constante de Dinheiro. Excedente do Consumidor. Preços de Reserva 319

4.18 Índices de Preços e Inflação 324

4.19 Agregabilidade Hicksiana de Bens 326

4.20 Preferência Revelada 328

4.21 Agregabilidade de Consumidores: Agregabilidade de Gorman e depois Consumidor Representativo 333

4.22 Equilíbrio Geral de Troca Pura. Agregabilidade de Consumidores 337

4.23 Demanda Agregada ou de Mercado e o Axioma Fraco da Preferência Revelada 341

4.24 Conclusões 344

4.25 Perguntas de Revisão e Exercícios. 344

Referências 351

5 Empresas, Equilíbrio Parcial e Equilíbrio Geral com Produção 353

5.1 Introdução 356

5.2 Conjuntos de Possibilidades de Produção, Produtos Líquidos, Funções de Produção 357

5.3 Axiomas sobre o Conjunto de Possibilidades de Produção 364

5.4 Retornos à Escala 365

5.5 Funções de Produção Diferenciáveis e Capital em Valor 368

5.6 Funções de Produção Homogêneas e Retornos à Escala 369

5.7 Análise de Atividade 372

5.8 Produto Marginal, Curva de Transformação 373

5.9 Maximização de Lucro e WAPM 376

5.10 Emprego Ótimo de um Fator 378

5.11 Minimização de Custos 379

5.12 WACm; Condições de Kuhn–Tucker e Minimização de Custos 382

5.13 Curvas de Oferta: Análise Marshalliana de Curto Prazo, Quase-Rendas 384

5.14 De Curto Prazo para Oferta de Longo Prazo 388

5.15 O Teorema da Exaustão de Produtos com CAC em Forma de U 393

5.16 Agregação 394

5.17 Lema de Shephard 395

5.18 A Função de Lucro e o Lema de Hotelling 395

5.19 Demandas de Fatores Condicionais e Incondicionais, Insumos Inferiores, Insumos Rivais, Efeito de Substituição e Efeito de Saída 397

5.20 Separabilidade Funcional: Separabilidade de Leontief 402

5.21 Dualidade 403

5.22 Elasticidade de Substituição 404

5.23 Equilíbrio Parcial 405

5.24 Estabilidade de Equilíbrios Parciais 408

5.25 Análise de Bem-Estar de Equilíbrios Parciais 409

5.26 Preço Tomador, Concorrência Perfeita, Tâtonnement 413

5.27 O Número de Empresas na GE Moderna 419

5.28 As Equações do Equilíbrio Geral Não-Capitalista com Produção 423

5.29 A 'Redução' a uma Economia de Troca 427

5.30 O Papel da Demanda na Determinação dos Preços dos Produtos: Por Que as Curvas de Oferta de Produtos de Equilíbrio Geral São Crescentes 429

5.31 Comércio Internacional 430

5.32 Sobre a Persistência de Preferências. Será Possível sem Curvas de Demanda? 433

5.33 Conclusões 437

5.34 Perguntas de Revisão e Exercícios 438

Referências 441

6 Existência, Unicidade e Estabilidade dos Equilíbrios Gerais Não-Capitalistas 443

6.1 Introdução. A Economia de Troca 446

6.2 Existência: Propriedades da Correspondência de Demanda de Excesso de Mercado 447

6.3 Continuidade: Preferências Não Estritamente Convexas 450

6.4 Continuidade: Conjuntos de Consumo Não Convexos 453

6.5 Continuidade: Sobrevivência 456

6.6 Continuidade: O Problema da Renda Zero 458

6.7 Continuidade: Sobrevivência Novamente e Subsistência 460

6.8 Existência de Equilíbrio Geral de Troca: Uma Nova Demonstração Simples 463

6.9 Teorema do Ponto Fixo de Brouwer 465

6.10 Existência de Equilíbrio de Troca com Preferências Fortemente Monotônicas 466

6.11 Unicidade: A Não Unicidade do Equilíbrio em Geral. Possibilidade de Vários Equilíbrios Localmente Estáveis 469

6.12 Unicidade: Economias Regulares 471

6.13 O Resultado de Sonnenschein–Mantel–Debreu 474

6.14 Unicidade por Meio de Condições na Demanda de Excesso: Substitutos Brutos 475

6.15 Unicidade por Meio de Condições na Demanda de Excesso: WAM 478

6.16 Unicidade: Equilíbrio sem Comércio e Teorema do Índice 481

6.17 Condições na Distribuição de Características 482

6.18 Estabilidade: A Teia de Aranha (Cobweb) 483

6.19 Estabilidade: O Tâtonnement Walrasiano de Samuelson 485

6.20 Estabilidade: Alguma Matemática e o Teorema WAM 488

6.21 Estabilidade: Outros Aspectos do Problema 492

6.22 Sobre a Probabilidade de Unicidade e Estabilidade 494

6.23 Produção 498

6.24 Existência de um Equilíbrio Geral de Produção e Troca 499

6.25 Unicidade do Equilíbrio de Produção 502

6.26 WAM e a Observação de Hildenbrand–Grodal 509

6.27 Substituição Bruta Não é Suficiente para a Unicidade 511

6.28 Estabilidade: O Tâtonnement na Economia de Produção 512

6.29 Tâtonnement de Fatores de Mandler 515

6.30 Novamente Sobre a Probabilidade de Unicidade e Estabilidade 518

6.31 Conclusões 523

6.32 Perguntas de Revisão e Exercícios 523

Referências 527

7 Capital: Equilíbrios de Longo Prazo 529

7.1 A Noção de Equilíbrio de Longo Prazo 531

7.2 A Determinação Endógena dos Dotes de Capital de Equilíbrio 534

7.3 As Equações do Equilíbrio Geral de Longo Prazo 539

7.4 A Quantidade de Capital: Problemas do Lado da Oferta 548

7.5 A Quantidade de Capital: Problemas do Lado da Demanda. Demanda por 'capital' e Investimento 551

7.6 Re-switching e Aprofundamento Reverso do Capital 558

7.7 Mais Sobre Aprofundamento Reverso do Capital. Efeitos de Preço Wicksell 563

7.8 Estados Estacionários e a Crítica de Hicks aos Preços de Longo Prazo 569

7.9 A Abordagem 'Austríaca' 572

7.10 Sobre a Substituibilidade em Funções de Produção Modernas e Tradicionais 575

7.11 Funções de Produção Agregadas 579

7.12 'Funções de Produção Substitutas' em uma Economia Não-Neoclássica. Produtos Marginais Determinados Endogenamente 587

7.13 Percepção das Dificuldades com 'Capital' e o Retorno a Walras — ou Quase 591

7.14 Conclusões 595

7.15 Perguntas de Revisão e Exercícios 596

Referências 599

8 Equilíbrio Intertemporal, Equilíbrio Temporário 601

8.1 Introdução 605

8.2 A Reinterpretação Intertemporal do Modelo Atemporal Não-Capitalista 606

8.3 Adiando para o Capítulo 9 sobre Incerteza 609

8.4 A Função de Utilidade Intertemporal do Consumidor 609

8.5 Significado de Preços; Taxas Próprias de Juros 611

8.6 Produção 612

8.7 A Reinterpretação não Deve Esconder uma Diferença 615

8.8 Diferentes Taxas Próprias de Juros e Uniformidade Efetiva das Taxas de Retorno 616

8.9 Taxa de Retorno Efetiva Uniforme Versus Taxa de Lucro Uniforme de Longo Prazo 618

8.10 UERRSP e URRSP 619

8.11 Equilíbrios Sequenciais de Radner (Sem Incerteza) 620

8.12 Existência, Unicidade, Estabilidade 622

8.13 Realmente Apenas uma Reinterpretação? Alguns Primeiros Problemas 623

8.14 Dinheiro 625

8.15 Problema de Impermanência, Problema de Mudança de Preços, Problema de Substitutibilidade 627

8.16 O Problema Poupança-Investimento 632

    8.16.1 A 'Assunção Adicional' 632

    8.16.2 A Diferença que Faz Assumir ou Não a 'Assunção Adicional' 635

    8.16.3 A Síntese Neoclássica 640

8.17 Equilíbrio ao Longo do Futuro Infinito 641

    8.17.1 O Modelo de Crescimento de Um Bem 641

    8.17.2 Os Problemas Antigos Permanecem, Além de um Novo 648

8.18 Por Trás da Dependência Neoclássica em Equilíbrios Intertemporais 650

8.19 Gerações Sobrepostas 652

8.20 Múltiplos Equilíbrios de Gerações Sobrepostas 656

8.21 O Núcleo das Alocações na Economia Neoclássica 661

8.22 O Teorema de Equivalência do Núcleo não é Válido para Economias de Gerações Sobrepostas 668

8.23 Um Contínuo de Equilíbrios em Modelos de Gerações Sobrepostas 669

8.24 Conclusão sobre Modelos de Gerações Sobrepostas 675

8.25 Equilíbrios Temporários. Uma Apresentação Informal de Alguns Problemas 677

8.26 Um Modelo Puro de Troca Introdutório 679

    8.26.1 Descrição Geral da Economia de Troca 679

    8.26.2 Uma Descrição Mais Detalhada do Comportamento do Agregado Familiar 680

    8.26.3 Problemas com o Modelo Introdutório 685

    8.26.4 Um Aspecto Perplexo do Equilíbrio de Green 689

8.27 Extensão para o Caso de Economias com Produção 691

    8.27.1 O Modelo Estendido 691

    8.27.2 Discussão do Modelo Estendido 697

8.28 Equilíbrio Temporário em Economias com 'Dinheiro' 702

    8.28.1 Introdução de Dinheiro 702

    8.28.2 Existência de Equilíbrio Monetário 707

    8.28.3 Algumas Dúvidas sobre a Caracterização da Função do Dinheiro por Grandmont 713

8.29 Conclusões sobre a Abordagem Marginal/Neoclássica, com Ênfase Especial na Curva de Demanda por Trabalho e na Função de Investimento 714

8.30 Perguntas de Revisão e Exercícios 718

Referências 723

9 Incerteza e Equilíbrio Geral 727

9.1 Loterias e Utilidade Esperada 730

9.2 Axiomas para Utilidade Esperada 734

9.3 Existência de Utilidade Esperada 738

9.4 Aversão ao Risco e Perspectivas 742

9.5 Aversão ao Risco e Convexidade da Utilidade Esperada 746

9.6 Comparação da Riscosidade de Loterias: Dominância Estocástica 748

9.7 O Paradoxo de São Petersburgo 749

9.8 Cardinalidade da Utilidade VNM 750

9.9 Seguro 752

9.10 Seguro Atuarialmente Justo e Prêmio de Risco 753

9.11 Seguro Injusto 755

9.12 Medindo a Aversão ao Risco: Arrow-Pratt 757

9.13 Comparação Global da Aversão ao Risco 759

9.14 Diminuição da Aversão Absoluta ao Risco 760

9.15 Aversão Relativa ao Risco 761

9.16 Uma Aplicação de Arrow-Pratt: Pooling Eficaz de Riscos na Ausência de Efeitos de Riqueza 763

9.17 Diversificação 767

9.18 Consumo e Poupança sob Incerteza 768

9.19 Comportamento da Empresa sob Incerteza 769

9.20 Seleção de Portfólio: Dois Ativos 771

9.21 Seleção de Portfólio: Muitos Ativos. Tobin. 776

9.22 Utilidade Dependente do Estado. 782

9.23 Utilidade Esperada Subjetiva 784

9.24 Risco ou Incerteza? 787

9.25 Utilidade Não-Expectativa: Paradoxo de Allais, Teoria Prospectiva, Paradoxo de Ellsberg 790

9.26 Redução da Incerteza por Meio de Mais Informações. Satisficing. Cascatas Informativas 796

9.27 Incerteza e Equilíbrio Geral em Autores Marginalistas Tradicionais 801

9.28 Commodities Contingentes 804

9.29 Equilíbrio com Commodities Contingentes 811

9.30 Equilíbrio de Radner (EPPPE) 814

9.31 Mercados Incompletos 817

9.32 Conclusão. Considerações Finais sobre a Abordagem de Oferta e Demanda 821

9.33 Perguntas de Revisão e Exercícios 823

Referências 829

10 De Volta aos Preços de Longo Prazo 831

10.1 A Atração pelos Preços de Longo Prazo na História da Teoria Econômica e Algumas Evidências Empíricas 833

10.2 Objeções à Taxa de Lucro Uniforme 839

10.3 A Explicação Tradicional 842

10.4 Modelos Cruzados-Duais 844

10.5 A Possibilidade de um Preço Alto e uma Taxa de Lucro Baixa 851

10.6 Produção Conjunta e Sraffa 853

10.7 Representação Gráfica: Produção Única 858

10.8 Representação Gráfica: Produção Conjunta 865

10.9 Escolha de Técnica como um Problema de Programação Linear 870

10.10 Contribuição de Piccioni 879

10.11 Nenhuma Atração para uma Técnica Definida? 885

10.12 Renda Extensiva 889

10.13 Renda Intensiva 895

10.14 Renda Intensiva Externa; Renda devido à Demanda do Consumidor 902

10.15 Quantidades Dadas? 904

10.16 Retornos Constantes à Escala? 906

10.17 Falta de Consistência? 911

10.18 Conclusões 913

10.19 Perguntas de Revisão e Exercícios 913

Referências 916

11 Jogos e Informação 919

11.1 Introdução e Alguns Exemplos de Jogos Simultâneos de Única Rodada 921

11.2 Jogos Sequenciais ou Dinâmicos 925

11.3 Forma Extensiva e Forma Estratégica (ou Normal) 929

11.4 Estratégias Mistas 931

11.5 Estratégias Comportamentais 933

11.6 Soluções. Eliminação de Estratégias Estritamente Dominadas. Algumas Dúvidas 935

11.7 Estratégias Estritamente Dominadas, Jogos com Solução por Dominância 939

11.8 Estratégias Mistas Dominadas 941

11.9 Equilíbrio de Nash em Estratégias Pura 942

11.10 Equilíbrios de Nash em Estratégias Mistas 943

11.11 Existência de Equilíbrio de Nash. As Razões para o Interesse nos Equilíbrios de Nash 944

11.12 Equilíbrios de Mão Trêmula 950

11.13 Indução Reversa e Perfeição de Subjogos 951

11.14 Indução Reversa Repetida e o Jogo da Centopeia 954

11.15 Jogos Repetidos Infinitamente 957

11.16 Jogos Repetidos Finitamente 962

11.17 Jogos Bayesianos 963

11.18 Leilões como Jogos Bayesianos. Teorema de Equivalência de Receita. Maldição do Vencedor 970

11.19 Jogos Dinâmicos com Informação Imperfeita 976

11.20 Racionalidade Sequencial, Estratégias Comportamentais, Equilíbrio Bayesian Perfeito (EBP) 978

11.21 Limites do Equilíbrio Bayesian Perfeito. Equilíbrio Sequencial 983

11.22 Informação Assimétrica. Jogos de Sinalização. Equilíbrios de Separação e Aglutinação 985

11.23 Seleção Adversa 994

11.24 Modelos Principal–Agente 996

11.25 Seleção 1003

11.26 Conclusões 1008

11.27 Perguntas de Revisão e Exercícios 1008

Referências 1019

12 Mercados de Produtos: Preços, Capacidade, Investimento, Concorrência Imperfeita 1021

12.1 Introdução 1023

12.2 Dois Tipos de Mercados. Produtos Primários 1024

12.3 Preços Administrados e Utilização de Capacidade 1027

12.4 Capacidade Ociosa 1029

12.5 Preços de Insumos Específicos no Tempo 1030

12.6 Variações na Demanda 1035

12.7 A Decisão de Investimento das Empresas 1041

    12.7.1 Teoria do Investimento Neoclássico sem Pleno Emprego de Mão de Obra 1041

    12.7.2 Abordagem da 'Gama de Oportunidades' 1046

    12.7.3 Abordagem dos Custos de Ajustamento 1050

    12.7.4 Investimento Determinado pelos Lucros? 1052

    12.7.5 Investimento e Perspectivas de Vendas 1060

12.8 Preços Administrados, Produtos Diferenciados e Concorrência 1062

12.9 Precificação de Custo Total 1063

12.10 Monopólio 1067

12.11 Concorrência Monopolística Versus Precificação de Custo Total 1073

12.12 Duopólio 1079

    12.12.1 Duopólio de Cournot 1079

    12.12.2 Variações Conjeturais 1086

    12.12.3 Stackelberg (Liderança de Quantidade) 1086

    12.12.4 Liderança de Preços 1089

    12.12.5 Bertrand 1090

    12.12.6 Bertrand-Edgeworth 1092

    12.12.7 Restrições de Capacidade e Competição de Bertrand 1094

    12.12.8 Produtos Diferenciados e Competição Bertrand Versus Cournot 1095

    12.12.9 Combinação de Preços e a Curva de Demanda Kinked 1096

12.13 Interação Repetida, Cartéis, Colusão Tácita, Teoremas Populares 1098

12.14 Entrada 1102

12.15 Conclusões 1109

12.16 Perguntas de Revisão e Exercícios 1110

Referências 1113

13 Mercados de Trabalho e Distribuição de Renda 1115

13.1 Introdução 1117

13.2 A Curva de Demanda por Trabalho é Indeterminável 1118

13.3 Teoria da Busca 1127

13.4 Contratos Implícitos 1140

13.5 Insiders–Outsiders 1143

13.6 Salários de Eficiência 1146

    13.6.1 Cinco Versões 1146

    13.6.2 Seleção Adversa 1149

    13.6.3 Custos de Rotatividade 1150

    13.6.4 Produtividade Inferior ao Potencial (Shirking) 1152

    13.6.5 Troca de Dádivas, Equidade, Moral 1164

13.7 Sindicatos 1165

13.8 Abordagem de Solow ou Solow–Hahn 1180

13.9 Teorias de Longo Prazo dos Salários: Quatro Abordagens. A Escola de Cambridge 1188

13.10 Abordagem Kaleckiana 1200

13.11 Abordagem Clássica-Marxista. Goodwin. Investimento 1202

13.12 Pivetti 1214

13.13 Conclusões sobre Salários Reais 1216

13.14 Perguntas de Revisão e Exercícios 1220

Referências 1223

14 Bem-Estar, Externalidades, Bens Públicos e Felicidade 1227

14.1 Introdução 1229

14.2 Eficiência de Pareto e Julgamentos de Valor 1230

14.3 Externalidades 1234

    14.3.1 O Teorema de Coase 1234

    14.3.2 Externalidades de Produção 1236

    14.3.3 Direitos de Poluição 1241

    14.3.4 Externalidades de Rede e a Internet 1241

    14.3.5 A Tragédia dos Comuns 1246

    14.3.6 Segregação Urbana 1248

14.4 Bens Públicos 1249

    14.4.1 Bens Não Rival e Não Excludentes 1249

    14.4.2 Quando Obter um Bem Público Indivisível 1250

    14.4.3 Qual Quantidade de um Bem Público Divisível? 1251

    14.4.4 Equilíbrio de Lindahl 1254

14.5 O Mecanismo Groves–Clarke 1255

14.6 Os Teoremas Fundamentais da Economia do Bem-Estar 1258

    14.6.1 A Competição Produz Eficiência de Pareto? 1258

    14.6.2 O Primeiro Teorema Fundamental 1260

    14.6.3 O Segundo Teorema Fundamental 1265

14.7 Algumas Limitações Geralmente Aceitas dos Dois Teoremas Fundamentais 1271

14.8 Eficiência de Pareto: Uma Perspectiva Não Neoclássica 1277

14.9 Análise de Custos e Benefícios e o Princípio de Compensação 1281

14.10 Análise de Custos e Benefícios Fora de Controle 1287

14.11 Funções de Bem-Estar Social 1292

14.12 Três Aplicações de Funções de Bem-Estar Social 1301

14.13 Teorema da Impossibilidade de Arrow 1305

14.14 Felicidade e Externalidades Novamente 1322

14.15 Conclusões 1330

14.16 Perguntas de Revisão e Exercícios 1330

Referências 1334

15 Revisão Matemática 1337

15.1 Conjuntos, Relações, Funções, Convexidade, Combinação Convexa de Vetores 1338

15.2 Lógica: Se, Somente Se, Contrapositivo, Demonstração por Contradição, Conexão com Subconjuntos 1342

15.3 Vetores, Matrizes, Hiperplanos. Matrizes Definidas 1343

15.4 Análise 1353

15.5 Correspondências 1364

15.6 Otimização 1366

15.7 Programação Linear e Dualidade 1381

15.8 Números Complexos 1382

15.9 Integrais 1384

15.10 Probabilidade e Estatísticas 1385

15.11 Processo de Poisson 1391

Referências 1394

Capítulo 01 - A Abordagem Clássica ou do Excedente

Neste capítulo, você aprenderá:

  • que a abordagem atualmente predominante na teoria do valor e da distribuição, a abordagem marginal ou neoclássica, foi precedida por uma abordagem muito diferente, a abordagem clássica ou de excedente, que muitos economistas hoje consideram valer a pena retomar;
  • as visões sobre salários, lucros, renda da terra e crescimento dos três principais representantes da abordagem clássica: Adam Smith, David Ricardo e Karl Marx;
Nota do tradutor (Borti): Marx não pode ser considerado um autor da economia/escola clássica, visto que este autor, mesmo se valendo de certos aspectos das teorias de Smith e Ricardo, cria a sua própria abordagem e método, formando uma escola de pensamento distinta. Parece que o autor (Fábio Petri), sabendo dessa distinção, utiliza o termo "abordagem clássica ou do excedente" para englobar tanto as ideias da escola clássica, quando a abordagem crítica marxiana.
  • a noção de preços relativos de longo período e sua conexão com a teoria do valor-trabalho;
  • as dificuldades de Ricardo e Marx na determinação da taxa de lucro e por que, contrariando uma interpretação amplamente dominante, essas dificuldades podem ser superadas sem abandonar sua abordagem geral;
  • como a abordagem keynesiana moderna à demanda agregada pode ser integrada à abordagem clássica.

1.1 Uma Breve Introdução Histórica

Este capítulo apresenta as visões sobre valor e distribuição de renda da abordagem clássica ou de excedente, cujos principais representantes foram Adam Smith, David Ricardo e Karl Marx. Essa abordagem está experimentando um considerável ressurgimento, e a familiaridade com ela pode ajudar a perceber que a abordagem marginal/neoclássica dominante não é a única maneira possível de conceber o funcionamento das economias de mercado. A apresentação adota uma abordagem histórico-analítica, avançando de Smith para Ricardo e Marx, ilustrando as noções necessárias quando as teorias do autor as exigem. Dessa forma, o leitor compreende a evolução histórica da abordagem e entende, em particular, as dificuldades encontradas pelos três autores ao explicar a taxa de lucro. Essas dificuldades parecem ser superáveis; no entanto, o capítulo considera que as teorias dos autores clássicos sobre o que determina as quantidades produzidas e o emprego não são muito satisfatórias e conclui observando a possibilidade de integrar a abordagem clássica com uma determinação keynesiana da produção agregada (e emprego) com base na demanda agregada e no multiplicador. Em um Apêndice online deste capítulo, no site do livro, você encontrará as visões muito interessantes de Ricardo sobre a possibilidade de o progresso técnico aumentar o desemprego e os princípios básicos da contabilidade nacional para leitores novos na economia.

A microeconomia é o ramo da teoria econômica em que, a partir do estudo das decisões individuais e de seus efeitos, procura-se responder à pergunta: o que é produzido, como e para quem em uma economia de propriedade privada. Historicamente, esse conjunto de questões interconectadas costumava ser estudado sob um nome diferente: 'teoria do valor e da distribuição de renda'. A teoria do valor, entendida de forma restrita, estuda o que determina os preços relativos normais (ou valores) dos bens produzidos em uma economia de mercado; mas desde o início da teoria econômica como uma investigação sistemática, descobriu-se que esse estudo está intimamente ligado ao estudo do que determina salários, rendas da terra, lucros, juros, em outras palavras, a distribuição de renda; daí a impossibilidade de separar o estudo do valor do estudo da distribuição de renda. Descobriu-se também que o estudo da distribuição de renda envolvia necessariamente o estudo das forças que determinam as quantidades produzidas e a utilização global dos recursos, tópicos mais frequentemente classificados hoje como parte da macroeconomia; no entanto, a separação entre microeconomia e macroeconomia não pode ser rígida e, na verdade, requer uma reconsideração radical (consulte o Prefácio deste livro).

Na história da análise econômica, é possível, embora com simplificações drásticas, distinguir duas abordagens principais sucessivas para a teoria do valor e da distribuição.

A abordagem anterior, a dos fisiocratas, Adam Smith, David Ricardo, foi chamada de clássica por Karl Marx. Para evitar confusões com outros usos atuais do termo 'clássico', hoje em dia também é chamada de abordagem de excedente, porque se baseia centralmente na noção de excedente social, a produção em excesso daquilo que (inclusive o consumo necessário dos trabalhadores) deve ser reinvestido no processo de produção para permitir a repetição da produção em uma escala inalterada. O foco estava no que determinava o tamanho, a distribuição entre as diferentes classes sociais e o crescimento do excedente social. Essa abordagem foi adumbrada por William Petty no século XVII e assumiu uma forma clara no terceiro quarto do século XVIII com o principal fisiocrata, François Quesnay; foi desenvolvida por Adam Smith (sua obra-prima, A Riqueza das Nações, foi publicada em 1776) e depois por David Ricardo (que escreveu entre 1810 e 1823). Quando já a maioria dos economistas estava seguindo em outra direção, a abordagem foi retomada e desenvolvida ainda mais por Karl Marx (o primeiro volume de O Capital, o único publicado na vida de Marx, saiu em 1867). Sua tentativa contra a corrente de confirmar e aprimorar a abordagem de excedente não foi bem-sucedida: a grande maioria dos economistas continuou se afastando da imagem de Ricardo dos interesses das três principais classes sociais (proprietários de terras, capitalistas, trabalhadores assalariados) como fortemente opostos. No último quarto do século XIX, a busca por uma imagem do capitalismo como uma forma fundamentalmente cooperativa e harmoniosa de organização econômica se solidificou em uma nova abordagem que reduziu a uma posição decididamente minoritária o que restava da influência da abordagem clássica. A nova abordagem baseava-se na noção de uma tendência à igualdade ou ao equilíbrio entre oferta e demanda pelos 'fatores de produção' trabalho, terra e capital, uma tendência devida a processos de substituição técnica e psicológica de fatores induzidos por mudanças nos 'preços dos fatores' relativos. Antecipações dessa abordagem são encontradas, por volta da metade do século XIX, no autor alemão Heinrich Von Thünen; os fundadores da abordagem são geralmente considerados como Stanley Jevons na Inglaterra, Carl Menger na Áustria e Léon Walras na França, que, com notável quase simultaneidade, propuseram, pouco antes ou depois de 1870, explicar as taxas de câmbio entre bens de consumo com base na utilidade marginal e distribuição de renda com base em um equilíbrio entre oferta e demanda por trabalho, terra e capital; mas Thünen deveria realmente ser considerado um co-fundador. Alfred Marshall (que se tornaria o economista mais influente por décadas) publicou mais tarde, mas havia alcançado autonomamente essencialmente a mesma abordagem aproximadamente na mesma época, e em grande parte sob a influência de Thünen. Devido ao papel central das noções de utilidade marginal e produto marginal (cf. Capítulo 3), essa abordagem foi chamada de marginal ou marginalista, mas hoje em dia é mais frequentemente referida como neoclássica (um nome potencialmente enganoso, porque, como o Capítulo 3 mostrará, ela é mais anti-clássica [1]). Com a segunda geração de economistas marginalistas (Edgeworth, Wicksteed na Grã-Bretanha; Wieser, Böhm-Bawerk na Áustria; J. B. Clark, Fetter, Irving Fisher nos EUA; Pareto, Barone, Pantaleoni na Itália; Wicksell, Cassel na Suécia, etc.), essa abordagem passou a dominar quase completamente a ciência econômica e ainda é amplamente dominante.

[1]: A abordagem é até mesmo às vezes chamada de 'clássica'. Assim, os termos 'clássico' e 'neoclássico' são suscetíveis de gerar confusões, e alguma clarificação é agora necessária, embora com o risco de mencionar noções ainda desconhecidas para alguns leitores. Karl Marx havia chamado de 'clássicos' o conjunto de teorias econômicas de Petty, passando pelos fisiocratas e Adam Smith até David Ricardo, mas John Maynard Keynes, em sua influente Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda (1936), estendeu o termo 'clássico' para abranger também a abordagem marginal. Ele escreveu: " 'Os economistas clássicos' foi um nome inventado por Marx para abranger Ricardo e James Mill e seus predecessores, ou seja, os fundadores da teoria que culminou na economia ricardiana. Eu estava acostumado, talvez perpetuando um solecismo, a incluir na "escola clássica" os seguidores de Ricardo, ou seja, aqueles que adotaram e aperfeiçoaram a teoria da economia ricardiana, incluindo (por exemplo) J. S. Mill, Marshall, Edgeworth e o Prof. Pigou" (Keynes, GT, 1936, p. 3, fn. 1). Como este trecho deixa claro, Keynes baseou seu uso do termo 'clássico' na interpretação de Marshall (a dominante na época) do marginalismo como não uma rejeição radical, mas sim um desenvolvimento e melhoria da abordagem de Ricardo; a frase 'talvez perpetuando um solecismo' [Dicionário Oxford: 'solecismo: 1. Uma violação do uso e gramática convencionais. 2. Uma violação de etiqueta. 3. Uma impropriedade, erro ou incongruência'] mostra que Keynes não estava certo de que tinha o direito de estender o significado de 'escola clássica' para incluir as teorias de emprego que ele realmente pretendia criticar, ou seja, as teorias marginalistas de Marshall, Pigou e a maioria dos economistas da época. O uso de Keynes, que essencialmente identifica 'clássico' com 'marginal', tornou possível para Paul Samuelson chamar a subsequente síntese das ideias de Keynes com a abordagem marginal operada por Hicks, Modigliani, Tobin de 'grande síntese neoclássica'. Durante os acalorados debates das décadas de 1950 e 1960 sobre a validade dessa 'síntese neoclássica', o termo 'neoclássico' passou a indicar cada vez mais as forças 'reais' que na 'síntese neoclássica' levam a um equilíbrio de pleno emprego marginalista se os salários nominais não forem rígidos para baixo; assim, 'neoclássico' passou a significar essencialmente 'marginalista'. O uso de Keynes do termo 'clássico' ocasionalmente reaparece na macroeconomia, por exemplo, no termo 'Nova Macroeconomia Clássica'. Mas hoje em dia a visão majoritária, estimulada sobretudo pela edição crítica do economista italiano Piero Sraffa das Obras Completas de David Ricardo e, em particular, por sua Introdução editorial ao Vol. I dessa edição (1951), rejeita a afirmação de Marshall de uma continuidade analítica entre Ricardo e a abordagem marginal e argumenta que Marshall e Pigou não adotaram e aprimoraram a economia ricardiana, eles a substituíram pela abordagem marginal, que era, se alguma coisa, anti-ricardiana. Assim, Keynes perpetrou um solecismo. Neste livro, 'clássico' é usado no sentido de Marx; o termo 'marginalista' ou 'marginal' será frequentemente preferido a 'neoclássico'.

No entanto, entre os especialistas em teoria do valor, as dúvidas sobre a validade da abordagem marginal aumentaram consideravelmente desde a década de 1960. A formulação rigorosa da abordagem - a teoria do equilíbrio geral - está cada vez mais sendo acusada de depender de pressupostos excessivamente implausíveis; além disso, muitos economistas passaram a acreditar que um tratamento satisfatório do capital nesta abordagem é impossível [2]. Além disso, a abordagem não se reconcilia facilmente com as evidências empíricas: ela prevê uma tendência espontânea das economias de mercado em direção ao pleno emprego de todos os recursos, uma previsão que, de acordo com muitos economistas, é contradita pelas evidências históricas de desemprego persistente.

Assim, por razões tanto teóricas quanto empíricas, várias escolas de pensamento dissidentes surgiram nas últimas décadas, argumentando a favor de abordagens alternativas. Atualmente, o ensino de microeconomia deve reconhecer que a situação é de pluralidade de abordagens e de fortes desacordos entre economistas. Os desacordos têm profundas implicações para a caracterização da sociedade em que vivemos; existe um amplo espectro de posições, desde teorias que veem a economia de mercado em que vivemos - o capitalismo moderno - como próxima do melhor dos mundos possíveis, até teorias que a caracterizam como mais semelhante a uma sociedade baseada na escravidão do que se tende a pensar com base nas aparências. E essas diferenças se baseiam não em julgamentos éticos diferentes, mas em descrições diferentes dos mecanismos básicos e das forças que operam em uma economia de mercado, ou seja, em desacordos científicos.

[2]: Este desenvolvimento (veja Capítulo 7) é em grande parte devido às contribuições de Piero Sraffa, que, portanto, figura ao lado de Keynes como um dos dois teóricos econômicos mais importantes do século XX.

Nesta situação de incerteza e debate sobre os fundamentos da teoria econômica, um grupo consistente de economistas argumenta que foi um erro abandonar a abordagem clássica ou de excedente em favor da abordagem marginal/neoclássica, porque as deficiências das análises dos autores clássicos podem ser superadas permanecendo dentro de sua abordagem, enquanto, pelo contrário, a abordagem marginal/neoclássica acabou por sofrer dificuldades insuperáveis; esses economistas argumentam que a retomada da abordagem clássica permite uma grande melhoria na consistência lógica e na correspondência entre as previsões da teoria econômica e a observação empírica. Começamos precisamente com uma apresentação da abordagem clássica, a fim de permitir que os alunos até agora apenas familiarizados com a abordagem marginal/neoclássica vejam que é possível ver as coisas de maneira diferente. Além disso, a abordagem clássica será útil mais tarde no livro como uma boa base para o estudo de outras teorias econômicas modernas não neoclássicas.

O presente capítulo introduz a abordagem clássica em termos simples, presumindo que não haja conhecimento prévio sobre ela; detalhes analíticos mais avançados são adiados para os Capítulos 2 e 10. Os leitores especialmente interessados em entender a diferença entre a abordagem clássica e a abordagem marginal podem pular o Capítulo 2 em uma primeira leitura e prosseguir diretamente para o Capítulo 3. No entanto, o estudo do Capítulo 2 não deve ser adiado por muito tempo e é indispensável para o Capítulo 7.

1.2 Excedente Social e Distribuição de Renda

A abordagem de excedente evoluiu consideravelmente desde os Fisiocratas até Karl Marx. Com o benefício da retrospectiva, podemos discernir uma estrutura analítica comum nas análises dos economistas clássicos. Todos esses autores concentram-se, antes de tudo, nas condições que devem ser atendidas para que os processos produtivos da economia sejam repetíveis na mesma escala período após período. Para esse fim, eles distinguem o conjunto de bens produzidos em uma economia em um ano em duas partes:

(a) consumo total necessário, ou seja, a parte que deve ser empregada novamente no processo produtivo para repeti-lo; nesta parte, incluem tanto a reposição de todos os meios de produção consumidos no    processo produtivo, quanto o consumo necessário ou subsistência dos trabalhadores empregados [3];

(b) o restante, que podemos chamar de 'excedente social', cujo valor corresponde à renda líquida das classes sociais diferentes dos trabalhadores[4]; esse excedente pode ser utilizado pela sociedade como quiser, sem prejudicar a continuação da atividade produtiva em pelo menos a mesma escala.

[3]: Na verdade, nesta definição, 'trabalhadores' deve ser interpretado como 'trabalhadores produtivos' apenas, cf. nota de rodapé 64 abaixo.

A centralidade da noção de excedente e sua conexão com a teoria da distribuição de renda derivam dos autores clássicos de seu interesse nas causas e nas formas de aumentar a 'riqueza das nações'. A utilização do excedente determina a evolução da economia; e essa utilização é vista como dependendo essencialmente de como o excedente é distribuído entre as diferentes classes sociais. Ricardo, por exemplo, vê o excedente como constituindo a renda dos capitalistas e dos senhorios e é a favor de dar o máximo possível do excedente aos capitalistas em vez dos senhorios, porque, segundo ele, os capitalistas reinvestem a maior parte de sua renda, favorecendo assim o crescimento da produção, enquanto os senhorios consomem sua renda em luxos.

Vamos entender alguns dos aspectos centrais da abordagem clássica por meio da descrição de uma economia simples, onde o único produto é o milho, [5] produzido em ciclos anuais por meio do trabalho e do milho (usado como semente e como alimento para os trabalhadores) em terras de qualidade diferente, ou mesmo de qualidade uniforme. Suponhamos que, em um determinado ano, 1000 toneladas de milho sejam produzidas por 1000 trabalhadores que, no processo, consumiram 300 toneladas como semente e 500 toneladas como subsistência. Em seguida, o produto físico líquido desse ano (produto total menos meios de produção produzidos utilizados como insumos [6]) é 1000-300 = 700; o produto excedente é o produto líquido menos a subsistência dos trabalhadores, 700-500 = 200. O consumo total necessário foi de 300 + 500 = 800 toneladas.

[5]: 'Milho/corn' nos autores clássicos é um nome genérico para todos os cereais, trigo, cevada, etc., e é tratado como a substância da qual a maior parte da comida dos trabalhadores é feita; e a comida na época era uma parte tão preponderante do consumo dos trabalhadores que seu consumo frequentemente era tratado como representativo de todo o consumo necessário deles.

[6]: 'Insumo' significa um bem ou serviço usado no processo de produção de uma mercadoria.

Se a produção deve ser repetida na mesma escala no ano seguinte, então 800 toneladas do milho produzido devem ser reservadas para serem usadas como semente e subsistência para o próximo ciclo de produção; a sociedade só é livre para usar como preferir as 200 toneladas de excedente, por exemplo, para consumo por senhorios ou guerreiros, ou para manter poetas ou músicos, ou para construir catedrais, ou para reinvestir. Esse último uso significa que parte do excedente é destinada a aumentar a semente e a subsistência necessárias para a produção de milho. Se, por exemplo, 10% do excedente total for reinvestido, então a semente e a subsistência empregadas no próximo ciclo de produção se tornam 880 toneladas; se houver mão de obra extra suficiente e terra extra da mesma qualidade que a terra utilizada até então, e desconsiderando irregularidades na produção agrícola, então no ciclo de produção subsequente, a produção será de 1100 toneladas, obtida por meio do uso de 1100 trabalhadores (que consumiram um total de 550 toneladas de milho como subsistência) e 330 toneladas de semente. (Isso pressupõe que a quantidade de trabalho realizada em média por um trabalhador não mude de um ano para o outro. Na verdade, quanto, em média, um trabalhador trabalha pode mudar, mas, por enquanto, vamos deixar essa complicação de lado.)

Até agora, a descrição também poderia se aplicar a uma sociedade baseada na escravidão, onde os trabalhadores agrícolas são escravos. Para uma sociedade capitalista, a descrição é enriquecida da seguinte forma. Os trabalhadores são assalariados; o excedente é dividido entre a renda da terra, obtida pelos proprietários de terras, e os lucros obtidos pelos capitalistas que organizam a produção e antecipam a semente de milho e os salários. Suponha que a renda da terra seja 100; então, em nosso exemplo numérico, os lucros também são de 100, já que a soma da renda e dos lucros deve ser igual ao excedente, que é de 200. O capitalista antecipou a semente de milho e os salários para os quais precisava emprestar (ou empregar o seu próprio) capital no valor de 800 unidades de milho; este capital lhe rendeu um produto final de 900, dos quais 800 substituem o capital antecipado e 100 são lucros; a taxa de lucro, ou taxa de retorno sobre o capital antecipado, foi de 100/800 = 12,5%.

Sua própria experiência concreta sugeriu aos autores clássicos que a população se divide em três classes sociais fundamentais: os proprietários de terras (geralmente aristocratas), cuja renda deriva da propriedade de terras; os burgueses (etimologicamente, habitantes de cidades), que são ou profissionais (advogados, médicos, professores, etc.) ou empresários (comerciantes, lojistas, industriais, agricultores, banqueiros, etc.); e os trabalhadores ou operários (principalmente assalariados, tanto agrícolas, comerciais e industriais). Vestimenta, maneiras, valores, tudo distinguia claramente os membros dessas três classes. Escravos e servos recebiam muito menos atenção porque, após a Revolução Francesa, a escravidão foi em grande parte abolida no mundo ocidental (ela sobreviveu nos EUA, um triste registro) e a servidão sobreviveu apenas na Rússia e em alguns outros países atrasados.

Na época de Adam Smith, e ainda mais nas décadas subsequentes com a Revolução Industrial, tornou-se evidente que o impulso para o desenvolvimento econômico e a mudança estava vindo, acima de tudo, dos capitalistas, ou seja, da parte da burguesia diretamente envolvida como empreendedores-proprietários na obtenção de uma renda do emprego de somas de dinheiro (capitais monetários) em atividades produtivas ou comerciais capazes de gerar uma receita em excesso dos custos, ou seja, um lucro. Esse lucro foi em grande parte destinado a aumentar o capital investido, ou seja, foi reinvestido na criação de mais fazendas, fábricas, lojas, navios, empreendimentos comerciais, etc., em um processo de expansão interminável acompanhado por uma busca incessante por inovações tecnológicas e que envolveu profundas transformações sociais. Esse processo é vividamente retratado por Karl Marx e Friedrich Engels em algumas páginas merecidamente famosas de seu Manifesto do Partido Comunista (1848), que valem a pena ser citadas na íntegra:

"A descoberta da América, a circunavegação do Cabo, abriram novos horizontes para a ascensão da burguesia. Os mercados do Oriente, Índia e China, a colonização da América, o comércio com as colônias, o aumento dos meios de troca e de mercadorias em geral deram ao comércio, à navegação, à indústria um impulso nunca antes experimentado, promovendo assim o desenvolvimento rápido do elemento revolucionário na sociedade feudal que vacilava.

O sistema feudal de indústria, no qual a produção industrial era monopolizada por guildas fechadas, já não era suficiente para atender às crescentes demandas dos novos mercados. O sistema manufatureiro tomou o seu lugar. Os mestres das guildas foram afastados pela classe média manufatureira; a divisão do trabalho entre as diferentes guildas corporativas desapareceu diante da divisão do trabalho em cada oficina individual. Enquanto isso, os mercados continuavam a crescer, a demanda a aumentar. Até mesmo a manufatura já não era suficiente. Então, vapor e maquinaria revolucionaram a produção industrial. O lugar da manufatura foi ocupado pela gigantesca indústria moderna, o lugar da classe média industrial pelos milionários industriais - os líderes de verdadeiros exércitos industriais, a burguesia moderna.

[..............]

Cada passo no desenvolvimento da burguesia foi acompanhado por um avanço político correspondente dessa classe. [...] a burguesia, desde o estabelecimento da indústria moderna e do mercado mundial, finalmente conquistou para si, no moderno estado representativo, domínio político exclusivo. O executivo do estado moderno é apenas um comitê para gerenciar os assuntos comuns de toda a burguesia.

A burguesia desempenhou um papel revolucionário na história. Onde quer que tenha prevalecido, pôs fim a todas as relações feudais, patriarcais e idílicas. Dilacerou impiedosamente os variados laços feudais que ligavam o homem aos seus "superiores naturais" e não deixou outro vínculo entre homem e homem além do interesse próprio nu, do insensível "pagamento em dinheiro". Afogou as mais celestiais êxtases de fervor religioso, de entusiasmo cavaleiresco, de sentimentalismo pequeno-burguês, nas águas geladas do cálculo egoísta. Resolveu o valor pessoal em valor de troca e, em vez das inúmeras liberdades inalienáveis concedidas, estabeleceu aquela única liberdade inescrupulosa - o Livre Comércio. Em uma palavra, para a exploração velada por ilusões religiosas e políticas, substituiu a exploração nua, impudente, direta e brutal.

[................]

A burguesia não pode existir sem revolucionar constantemente os instrumentos de produção e, assim, as relações de produção, e com elas todas as relações da sociedade. A conservação dos antigos modos de produção em sua forma inalterada era, ao contrário, a primeira condição de existência para todas as classes industriais anteriores. A revolução constante da produção, a perturbação ininterrupta de todas as condições sociais, a eterna incerteza e agitação distinguem a época burguesa de todas as épocas anteriores.

[……………………………]

A burguesia, durante seu domínio de escassos cem anos, criou forças produtivas mais massivas e colossais do que todas as gerações anteriores juntas. Submissão das forças da natureza ao homem, maquinaria, aplicação da química à indústria e agricultura, navegação a vapor, ferrovias, telegrafia elétrica, desbravamento de continentes inteiros para cultivo, canalização de rios, populações inteiras surgindo do solo − que século anterior sequer pressentia que tais forças produtivas dormiam no colo do trabalho social?

Vemos, então, que os meios de produção e de troca, que serviram como base para o crescimento da burguesia, foram gerados na sociedade feudal. Em certo estágio do desenvolvimento desses meios de produção e de troca, as condições sob as quais a sociedade feudal produzia e trocava, a organização feudal da agricultura e da indústria manufatureira, em uma palavra, as relações feudais de propriedade, deixaram de ser compatíveis com as forças produtivas já desenvolvidas; tornaram-se tantas correntes. Elas tiveram que ser rompidas; foram rompidas.

Em seu lugar surgiu a livre concorrência, acompanhada por uma constituição social e política adaptada a ela, e pelo domínio econômico e político da classe burguesa". $7$

[7]: O Manifesto do Partido Comunista está disponível em dezenas de edições e em diversas traduções. Aqui, segui a versão publicada pela International Publishers, Nova York, 1932, que é a tradução para o inglês autorizada e editada por Friedrich Engels. Esses trechos são do capítulo I, conforme reproduzidos em Freedman (1962, pp. 12–16).

Em uma imagem idealizada que maximiza a diferença entre as classes, os aristocratas, devido à sua formação cultural de origem feudal (que destaca a menor importância de questões monetárias em relação à coragem e honra), geralmente desgostam da ideia de se tornarem capitalistas envolvidos ativamente em atividades empreendedoras e, portanto, geralmente alugam suas terras para capitalistas agrícolas que criam fazendas administradas para lucro; a renda dos aristocratas, portanto, deriva do aluguel da terra que possuem. Os banqueiros, que emprestam dinheiro aos capitalistas, conseguem obter juros sobre seus empréstimos que dependem dos lucros dos capitalistas; como Adam Smith explica, se um empreendedor conta em obter uma taxa de retorno (taxa de lucro) de, digamos, 10% sobre um investimento, ele estará disposto, considerando o risco pessoal e a fadiga, a pegar emprestado o capital necessário para o investimento a uma taxa de juros talvez de 5%, raramente de 7%, dependendo do risco, etc., do investimento; se a taxa de retorno esperada for apenas 6%, então ele raramente aceitará pagar uma taxa de juros acima de 2 ou 3%; em ambos os casos, os juros são apenas uma parte do lucro, portanto, os juros determinam uma subdivisão dos lucros entre os credores e os empreendedores, só podem ser positivos porque os lucros são positivos.

Com base nisso, os economistas clássicos se concentram nas forças que determinam três rendas básicas: salários, lucros e aluguéis de terras, respectivamente as rendas dos trabalhadores assalariados, dos capitalistas e dos proprietários de terras. As trocas comerciais são, claro, realizadas por meio de dinheiro, mas os economistas clássicos perceberam que o valor monetário das coisas é, em última instância, de pouca importância; o que conta é quais bens concretos são produzidos e quem os recebe. Portanto, eles estavam interessados no valor real dessas rendas, ou seja, seu poder de compra em termos de mercadorias (o nome clássico usual para bens produzidos negociados nos mercados). A partir dos valores monetários das mercadorias, o valor real de uma renda monetária poderia ser derivado como seu poder de compra em termos de alguma mercadoria ou cesta de mercadorias escolhida como medida de valor (ou como numéraire na terminologia mais moderna derivada de Walras). (Quando falo do valor de algo sem mais especificações, significará o valor real, ou seja, o valor relativo em termos do numéraire escolhido. [8] O valor real de uma unidade da mercadoria numéraire é 1.) Na economia de milho do nosso exemplo numérico, a medida óbvia de valor ou numéraire é o próprio milho e o que deve ser determinado é a taxa real de salários (a quantidade de milho ganha pelos trabalhadores por unidade de tempo de trabalho), a taxa real de aluguel de cada tipo de terra (a quantidade de milho paga por um acre de terra por sua utilização por um período de tempo) [9] e a taxa real de lucro (lucros por unidade de capital em milho antecipado). Em nosso exemplo, todas essas magnitudes eram reais porque especificadas em milho. (Observe que, para a taxa de lucro, que é uma razão entre valores de troca - o valor dos lucros e o valor do capital avançado - a diferença entre 'real' e 'nominal' não é a mesma que para a taxa de salários ou a taxa de aluguéis; para estes, 'real' significa poder de compra em termos do bem ou conjunto de bens escolhido como medida de valor ou numéraire, e muda se se altera o numéraire; a taxa de lucro ou taxa de retorno do capital não é afetada por uma mudança de numéraire, no seu caso 'real' significa a taxa de retorno a preços monetários constantes, ou seja, eliminando a influência da inflação; quanto à taxa de juros real. A razão é que se a taxa de lucro em termos de milho em nosso exemplo for de 12,5%, a taxa de lucro em termos de dinheiro pode ser muito diferente se houver inflação. Suponha que o preço do milho seja 1 no início do ano e 2 no final do ano. Uma riqueza em dinheiro de 800 antecipada como capital no início do ano gera uma receita em dinheiro de 1800 no final do ano; a taxa de retorno monetária foi de 1000/800 = 125%, o que distorce totalmente o quão mais rico o capitalista realmente está, o que nesta economia deve significar em termos de seu poder de compra medido em milho, que aumentou em 12,5%.)

[8]: Se o bem 2 tem preço em dinheiro p2 e o numéraire, suponhamos que seja o bem 1, tem preço em dinheiro p1, o preço do bem 2 em termos de numéraire, ou seja, quantas unidades do bem numéraire devem ser dadas em troca de uma unidade do bem 2, é p2/p1. Verifique isso com algum exemplo.

[9]: O acre é a antiga medida de superfície de terra usada na Grã-Bretanha na época de Smith e Ricardo, equivalente a 4.046 m2; um hectare moderno (10.000 m2) equivale a 2,47 acres.

Neste exemplo, a tecnologia (o milho-semente, o trabalho e a superfície de terra necessários por unidade de milho produzido), a taxa de salário real e a taxa de terra real foram fornecidas. Os lucros poderiam então ser calculados como um residual, e a (real) taxa de lucro poderia ser determinada como a razão dos lucros de milho para o capital em milho avançado. Agora, devemos investigar como essas magnitudes, consideradas como dadas ao determinar a taxa de lucro, eram determinadas de acordo com os autores clássicos.

1.3 Distribuição de Renda, Salários

    1.3.1 Nível Geral de Salários

Na abordagem clássica, o nível da taxa de salário real$^10$ é determinado por um complexo de circunstâncias sociais, demográficas e econômicas, que podem ser classificadas em dois grupos.

[10]: O numéraire clássico é frequentemente o milho, na época o principal componente dos alimentos, que absorvia a maior parte da renda dos trabalhadores; às vezes é o ouro, considerado um bem produzido cujo preço é determinado pelo custo de produção da mesma forma que para outros produtos.

Um primeiro grupo abrange aqueles elementos institucionais e convencionais que estabelecem o nível do salário real considerado normal no período e na sociedade em discussão. Esse nível salarial, que os economistas clássicos chamam de 'salário natural' ou 'salário de subsistência', é o valor dos 'necessários', os consumos indispensáveis para a sobrevivência física, capacidade de trabalho e reprodução do trabalhador, e também indispensáveis na opinião comum (e historicamente específica) da sociedade para o papel social do trabalhador e sua integração na estrutura social. Uma citação de Adam Smith ilustra essa perspectiva:

"Pela palavra 'necessários', entendo não apenas as mercadorias que são indispensavelmente necessárias para a sustentação da vida, mas tudo aquilo que o costume do país torna indecente que pessoas respeitáveis, mesmo da ordem mais baixa, fiquem sem. Uma camisa de linho, por exemplo, estritamente falando, não é uma necessidade da vida. Os gregos e romanos, presumo, viveram bastante confortavelmente mesmo sem linho. Mas nos tempos atuais, em grande parte da Europa, um trabalhador diário respeitável teria vergonha de aparecer em público sem uma camisa de linho, cuja falta seria suposta denotar aquele grau vergonhoso de pobreza que, presume-se, ninguém pode cair sem uma conduta extremamente má. O costume, da mesma forma, tornou os sapatos de couro uma necessidade da vida na Inglaterra. A pessoa mais pobre e respeitável de qualquer sexo teria vergonha de aparecer em público sem eles. Na Escócia, o costume os tornou uma necessidade da vida para a ordem mais baixa de homens; mas não para a mesma ordem de mulheres, que podem, sem nenhum descredito, andar descalças. Na França, eles não são necessários nem para homens nem para mulheres, o menor grau de ambos os sexos aparecendo publicamente lá, sem nenhum descredito, às vezes com sapatos de madeira e às vezes descalços. Portanto, sob 'necessários', eu compreendo não apenas aquelas coisas que a natureza, mas aquelas coisas que as regras estabelecidas de decência tornaram necessárias para a classe mais baixa de pessoas." (A Riqueza das Nações, 1776, Livro V, Capítulo 2, Parte II, Artigo IV, Seção "Impostos sobre Mercadorias Consumíveis"; pp. 351–2 na edição Dent and Dutton, Everyman’s Library, vol. II, 1971 (1910). Para ajudar os leitores com edições diferentes, é costume localizar passagens em A Riqueza das Nações indicando Livro, Capítulo e parágrafo ou Seção.)"

Note especialmente a importância de ser 'respeitável': 'trabalhadores diários' precisam mostrar que não são tão pobres a ponto de ser provável que sejam não confiáveis. A ideia se aplica mais geralmente aos estilos de vida e faz muito sentido até mesmo para a vida moderna. A aceitação pelos outros na vida social moderna exige, por exemplo, estar razoavelmente limpo e não ter mau cheiro.

Uma implicação dessa perspectiva é que, se os salários aumentarem acima do nível de subsistência por um período considerável, o subsistência tende a aumentar também; o novo nível de salários reais tende a se tornar o novo subsistência, devido à internalização de novos hábitos de consumo que, ao se tornarem gerais, fazem parte do que é socialmente esperado.

O segundo grupo de fatores que afetam o salário real consiste nos vários elementos que influenciam a força relativa de barganha dos assalariados em relação aos empregadores e determinam se o nível salarial real está acima ou abaixo do normal e do subsistência costumeiro. Para começar a compreender esses elementos, podemos citar novamente Adam Smith (neste trecho, 'stock' significa capital):

"As comuns tarifas do trabalho dependem em toda parte do contrato geralmente feito entre as duas partes, cujos interesses de modo algum são os mesmos. Os trabalhadores desejam obter o máximo, os mestres dar o mínimo possível. Os primeiros estão dispostos a se unir para elevar, os últimos para diminuir os salários do trabalho.

Não é, no entanto, difícil prever qual das duas partes deve, em todas as ocasiões comuns, ter a vantagem na disputa e forçar a outra a concordar com seus termos. Os mestres, sendo menos em número, podem se unir muito mais facilmente; e a lei, além disso, autoriza, ou pelo menos não proíbe suas combinações, enquanto proíbe as dos trabalhadores. Não temos nenhum ato do parlamento contra a combinação para baixar o preço do trabalho; mas muitos contra a combinação para elevá-lo. Em todas essas disputas, os mestres podem resistir muito mais tempo. Um senhorio, um fazendeiro, um fabricante-mor, um comerciante, embora não empregassem um único trabalhador, geralmente poderiam viver um ano ou dois com os fundos que já adquiriram. Muitos trabalhadores não poderiam subsistir uma semana, poucos poderiam subsistir um mês, e quase nenhum um ano sem emprego. A longo prazo, o trabalhador pode ser tão necessário para seu mestre quanto seu mestre é para ele; mas a necessidade não é tão imediata.

Diz-se raramente, foi afirmado, que se ouve falar das combinações dos mestres, embora frequentemente se ouça falar das dos trabalhadores. No entanto, quem imagina, por este motivo, que os mestres raramente se combinam é tão ignorante do mundo quanto do assunto. Os mestres estão sempre e em toda parte em uma espécie de combinação tácita, mas constante e uniforme, para não elevar os salários do trabalho acima de sua taxa real. Violentar essa combinação é, em todos os lugares, uma ação muito impopular e uma espécie de reprovação a um mestre entre seus vizinhos e iguais. Raramente, de fato, ouvimos falar dessa combinação, porque é o estado usual e, pode-se dizer, natural das coisas, que ninguém ouve falar. Os mestres, às vezes, também entram em combinações particulares para diminuir os salários do trabalho ainda abaixo dessa taxa. Essas são sempre conduzidas com o máximo de silêncio e sigilo, até o momento da execução, e quando os trabalhadores cedem, como às vezes fazem, sem resistência, embora severamente afetados por eles, nunca são ouvidos por outras pessoas. Tais combinações, no entanto, são frequentemente resistidas por uma combinação defensiva contrária dos trabalhadores; que às vezes também, sem qualquer provocação desse tipo, se combinam por iniciativa própria para aumentar o preço de seu trabalho. Suas pretensões habituais são, por vezes, o alto preço dos alimentos; por vezes, o grande lucro que seus mestres obtêm com seu trabalho. Mas, quer suas combinações sejam ofensivas ou defensivas, sempre são amplamente divulgadas. Para resolver o ponto rapidamente, eles sempre recorrem ao clamor mais alto e, às vezes, à violência e ultraje mais chocantes. Eles estão desesperados e agem com a loucura e extravagância de homens desesperados, que devem ou passar fome ou assustar seus mestres para uma imediata concordância com suas demandas. Os mestres, nessas ocasiões, são tão clamorosos do outro lado e nunca cessam de clamar pela assistência do magistrado civil e pela execução rigorosa das leis que foram promulgadas com tanta severidade contra as combinações de servos, trabalhadores e aprendizes. Os trabalhadores, consequentemente, raramente obtêm vantagem alguma da violência dessas combinações tumultuadas, que, em parte pela intervenção do magistrado civil, em parte pela maior firmeza dos mestres, em parte pela necessidade que a maioria dos trabalhadores têm de se submeter por causa da subsistência imediata, geralmente resultam em nada além da punição ou ruína dos líderes (A Riqueza das Nações, Livro I, Capítulo VIII, parágrafos xi–xiii; 1975, pp. 58–60).

Assim, de acordo com Smith, os empregadores (os 'mestres') normalmente conseguem vencer nas disputas salariais devido à sua capacidade de resistir por mais tempo em caso de conflito, complementada pelo apoio ativo do Estado em caso de surtos de revolta e violência por parte dos trabalhadores. Os membros de cada classe estão unidos por uma consciência generalizada de um interesse de classe comum: assim, em relação à postura em relação aos trabalhadores, há uma 'combinação tácita, mas constante e uniforme' entre os capitalistas. Mecanismos sociais semelhantes relacionados à consciência de um interesse de classe comum estão ativos no lado dos trabalhadores, e essa aliança tácita ou às vezes vociferante entre os trabalhadores pode ser esperada para tornar a taxa de salário real bastante resistente a pressões descendentes, mesmo na presença de considerável desemprego, e mesmo na ausência de sindicatos ou outras 'combinações defensivas' explícitas. De fato, a experiência histórica mostra uma grande relutância dos trabalhadores em aceitar trabalhar por um salário inferior ao que, na situação histórica dada, é considerado 'justo' para o seu tipo de trabalho.

No entanto, para Smith e os outros autores clássicos, os capitalistas permanecem a classe mais forte; mas então, pode-se perguntar, por que eles não comprimem ainda mais a taxa salarial?

Smith continua:

"Quando, em qualquer país, a demanda por aqueles que vivem de salários... está continuamente aumentando... os trabalhadores não têm motivo para se unir para aumentar seus salários. A escassez de mão de obra causa uma competição entre os mestres, que fazem lances uns contra os outros para conseguir trabalhadores e, assim, voluntariamente rompem a combinação natural dos mestres de não aumentar os salários;

.......................

onde os fundos destinados à manutenção do trabalho estavam sensivelmente decaindo... a competição por emprego seria tão grande... a ponto de reduzir os salários a uma subsistência miserável e escassa para o trabalhador. Muitos não seriam capazes de encontrar emprego mesmo sob essas condições difíceis, mas ou morreriam de fome ou seriam forçados a procurar uma subsistência seja mendigando, seja cometendo talvez as maiores enormidades. A necessidade, a fome e a mortalidade prevaleceriam imediatamente nessa classe,... até que o número de habitantes no país fosse reduzido ao que poderia ser facilmente mantido pela receita e estoque que nele permaneciam (A Riqueza das Nações, Livro I, Capítulo VIII, parágrafos xvii, xxvi; 1975, pp. 61, 64–5)."

Pode-se derivar dessas observações uma teoria simples baseada em um mecanismo populacional, e essa teoria foi de fato derivada pelo contemporâneo de Ricardo, Thomas Malthus: se o salário real diminui abaixo da subsistência, então a população diminui, a oferta de trabalho diminui em relação à demanda por trabalho, mais cedo ou mais tarde ocorre uma 'escassez de mãos' e a competição entre capitalistas eleva o salário real acima da subsistência; mas então os trabalhadores — argumentou Malthus — têm tantos filhos e tantos desses sobrevivem até a idade de trabalho que um excesso de oferta de trabalho se desenvolve, o que empurra o salário para baixo, eventualmente abaixo do nível de subsistência; assim, o salário real oscila em torno do nível de subsistência devido ao seu efeito na população e, portanto, na oferta de trabalho. A conclusão é muito conservadora: é inútil aumentar os salários, as classes trabalhadoras estão condenadas a permanecer pobres devido à sua tendência de terem muitos filhos assim que o salário sobe acima da subsistência.

Smith, ao contrário, embora argumentando uma tendência de ajuste populacional à demanda,$^{11}$ admite que aumentos salariais nem sempre precisam causar aumentos na população: os confortos recém-disponíveis podem levar os trabalhadores a terem menos filhos, para melhor defender seus padrões de vida mais elevados.$^{12}$ Assim, aumentos persistentes nos salários reais são possíveis, devido à influência do próprio salário real no componente social da subsistência.

[11]: "...a demanda por homens, como a de qualquer outra mercadoria, regula necessariamente a produção de homens; acelera quando vai devagar demais e a interrompe quando avança rápido demais." (A Riqueza das Nações, Livro I, Capítulo VIII, xl; 1975, p. 71). A totalidade do Capítulo 8 do Livro I de A Riqueza das Nações é leitura extremamente interessante.

[12]: E Ricardo concorda: 'a população pode ser tão pouco estimulada por salários generosos a ponto de aumentar no ritmo mais lento - ou até mesmo retroceder' (em Sraffa, 1951–73, vol. VIII, pp. 168–69). A correção da atribuição usual a Ricardo de um endosso integral à teoria salarial malthusiana pode, portanto, ser questionada.

Observe que, ao contrário do que a análise moderna de oferta e demanda sugeriria, Smith não afirma que os salários continuam diminuindo enquanto a oferta de trabalho for maior que a demanda.$^{13}$ Ele classifica a Grã-Bretanha como um país onde a demanda por trabalho tem crescido e, portanto, os salários têm tendido a aumentar; e ainda assim, a existência de desemprego na Grã-Bretanha (mendigos, vagabundos e pessoas em assistência pública ou confinadas em casas de trabalho) não é negada por ele.$^{14}$

Mas, se o desemprego está geralmente presente, por que os capitalistas não usam seu maior poder de barganha para comprimir os salários até o mínimo biológico que permite aos trabalhadores ter a energia para trabalhar? O que permite aos trabalhadores geralmente defenderem o excesso histórico e costumeiro de salários acima da subsistência biológica básica? Por que Smith fala de uma 'taxa mais baixa [de salários] que é consistente com a humanidade comum', abaixo da qual até mesmo os capitalistas não acham conveniente comprimir os salários? (A Riqueza das Nações, Livro I, Capítulo VIII, xxiv; 1975, p. 63).

A resposta parece estar na descrição de Smith, citada acima, dos trabalhadores como 'Eles são desesperados e agem com a loucura e extravagância de homens desesperados'. Atos 'desesperados' e 'extravagantes' não precisam ser causados pela incapacidade física de sobreviver; os mesmos hábitos sociais, convenções e pressões que transformam certas mercadorias em 'necessidades' podem e farão com que seja insuportável viver sem elas; assim, parece que Smith está implicitamente admitindo que é o perigo de rupturas na paz social e consequentes perturbações na atividade econômica (tanto na empresa—por exemplo, sabotagem—quanto na sociedade em geral: revoltas, tumultos), que torna inconveniente para a classe dominante tentar reduzir o salário real abaixo do nível histórico de subsistência, ou seja, abaixo do nível considerado indispensável para uma vida tolerável pela grande maioria dos trabalhadores.

Uma visão semelhante dos salários como consideravelmente 'rígidos' para baixo também está implícita na teoria salarial malthusiana baseada no mecanismo populacional. Variações na população são muito lentas; uma diminuição dos salários reais só pode levar muitos anos antes que sua influência na população comece a ser sentida, mas a influência dessa diminuição na população só pode levar muitos anos para causar uma diminuição significativa do desemprego; se admitirmos que, enquanto houver excesso de oferta de trabalho, os salários continuam diminuindo, teríamos que concluir que os salários reais cairiam enormemente, até quase zero, contra a evidência empírica; assim, está necessariamente implícito no mecanismo populacional malthusiano que os salários reais mudam apenas muito lentamente e que um alto desemprego causará alguma diminuição nos salários reais abaixo do nível de subsistência costumeiro anterior, mas não indefinidamente; e a razão deve ser em última instância a mesma que em Smith.

[13]: "...a demanda por homens, como a de qualquer outra mercadoria, regula necessariamente a produção de homens; acelera quando vai devagar demais, e a interrompe quando avança rápido demais." (A Riqueza das Nações, Livro I, Capítulo VIII, xl; 1975, p. 71). A totalidade do Capítulo 8 do Livro I de A Riqueza das Nações é leitura extremamente interessante.

[14]: "...a competição por emprego seria tão grande..., a ponto de reduzir os salários a uma subsistência miserável e escassa para o trabalhador. Muitos não seriam capazes de encontrar emprego mesmo sob essas condições difíceis, mas ou morreriam de fome ou seriam forçados a procurar uma subsistência seja mendigando, seja cometendo talvez as maiores enormidades. A necessidade, a fome e a mortalidade prevaleceriam imediatamente nessa classe,... até que o número de habitantes no país fosse reduzido ao que poderia ser facilmente mantido pela receita e estoque que nele permaneciam" (A Riqueza das Nações, Livro I, Capítulo VIII, xxiv; 1975, p. 63).

Assim, na abordagem clássica, os salários reais resultam de um conflito contínuo, aberto ou latente, oscilando em torno de um salário real 'natural' ou costumeiro, que os trabalhadores esperam receber (e, portanto, consideram um salário 'justo'$^{15}$) porque reflete o equilíbrio médio do poder de barganha entre capitalistas e trabalhadores assalariados no passado recente; este salário 'subsistência' costumeiro, que garante um padrão de vida considerado indispensável para uma vida decente por meio do hábito, é o ponto de partida para negociações adicionais. Estas, se condicionadas por uma mudança no equilíbrio de poder de barganha,$^{16}$ podem resultar em uma divergência duradoura dos salários de seu nível costumeiro, com uma lenta mudança do próprio salário real costumeiro, 'natural' ou 'justo'. O desemprego não exerce necessariamente uma pressão descendente sobre os salários, exceto quando se torna muito severo, e mesmo assim é uma pressão descendente lenta e não indefinida; diminuições mais rápidas e drásticas dos salários reais só serão observadas em situações excepcionais envolvendo considerável mudança política (por exemplo, para dar um exemplo mais moderno, após um golpe militar de direita acompanhado por repressão sangrenta aos protestos dos trabalhadores).

[15]: A evidência histórica confirma a grande importância, no comportamento concreto dos trabalhadores, de noções de 'um salário justo para um dia de trabalho justo' (para evidências recentes, consulte os escritos de Truman Bewley: Bewley T. F. (1999), Why Wages Don’t Fall During a Recession, Cambridge, Mass., Harvard University Press; Bewley, T., (2005), ‘Fairness, Reciprocity and Wage Rigidity’, in H. Gintis, S. Bowles, R. Boyd, E. Fehr, Moral Sentiments and Material Interests. The Foundations of Cooperation in Economic Life, MIT Press.). O papel e o significado dessas noções são melhor apreciados, sugiro, ao visualizar o nível normal de salário real como refletindo, a cada período, um armistício ou trégua explícita ou implícita no contínuo conflito latente ou aberto entre trabalhadores assalariados e empregadores. Um armistício é um pacto que evita perdas e sofrimento para ambas as partes do conflito ao suspender a luta ativa; os pactos devem ser honrados; honrar um pacto é 'justo', ou seja, comportamento correto (lembre-se de que 'justo', em seu significado básico, não significa eticamente justo, significa respeitoso das regras e dando a cada um o devido, como em 'jogo limpo' ou 'decisão justa'); então, um salário justo é simplesmente o salário que os trabalhadores devem receber se trabalharem corretamente, de acordo com a trégua implicitamente ou explicitamente assinada por ambas as partes; pagar menos significaria quebrar o armistício, e então os trabalhadores também não estariam obrigados a cumprir o lado deles do pacto. Assim, eu sugeriria, salários justos são justos, não no sentido de refletir alguma justiça social percebida na distribuição resultante da renda, mas apenas no sentido de que correspondem à trégua atual e devem ser pagos se os capitalistas não desejam uma retomada do conflito ativo.

[16]: Para uma atualização do que determina o poder de barganha em situações mais modernas, pode-se partir das observações de Smith que enfatizam a importância não apenas do desemprego, mas também da unidade interna de cada classe, capacidade de ação coletiva, apoio do aparato estatal. Pode-se então adicionar o que a história subsequente mostra, como sindicatos, ampliação da base eleitoral, descoberta de novas formas de luta (por exemplo, greves de zelo; ameaça de deslocalização de empresas para outras nações), benefícios de desemprego, repressão militar, ideologias políticas, etc.

Essa perspectiva tornou natural considerar o salário real médio como algo difícil de mudar rapidamente e vê-lo como uma despesa de produção tão inevitável quanto ração para cavalos. Daí o tratamento do salário real como dado ao tentar determinar a taxa de lucro e as rendas da terra, e a concepção dos rendimentos que não sejam salários como um excedente sobre as necessidades de reprodução. Salários dados, não no sentido de exógenos em relação à análise econômica, mas no sentido de explicados por forças que permitem considerar os salários como determinados antes dos lucros e rendas. Mais tarde, veremos as opiniões de Marx sobre o assunto, e na seção 1.13 da parte 7 uma diferença importante será ilustrada entre a abordagem clássica indutiva para o salário real e a abordagem dedutiva para a taxa de lucro e preços relativos naturais (preços de produção).

    1.3.2 Salários Relativos

Até agora, falamos do trabalho como se fosse homogêneo,$^{17}$ com uma única taxa salarial. Os autores clássicos, é claro, sabem que existem diferentes tipos de trabalho, com diferenças nas taxas salariais, e discutem o que determina essas diferenças. Aqui também, uma referência principal é Adam Smith. Ele argumenta:

"As cinco seguintes são as circunstâncias principais que, até onde pude observar, compensam um pequeno ganho pecuniário em alguns empregos e equilibram um grande ganho em outros: primeiro, a agradabilidade ou desagradabilidade dos próprios empregos; segundo, a facilidade e a barateza, ou a dificuldade e o custo de aprendê-los; terceiro, a constância ou inconstância do emprego neles; quarto, a pequena ou grande confiança que deve ser depositada naqueles que os exercem; e, quinto, a probabilidade ou improbabilidade de sucesso neles" (Smith, WN, I, x, I, 1: isto é, Livro I, Capítulo X, Parte I, par. 1).

[17]: Esta é a grafia correta (analogamente, 'heterogêneo' = de espécies diferentes), não a muito frequente 'homògeno', que é erroneamente imitada da forma correta 'exógeno, endógeno' (= vindo de fora, de dentro).

Particularmente interessante é a quarta circunstância, sobre a qual Smith acrescenta: "Confiámos nossa saúde ao médico, nossa fortuna e às vezes nossa vida e reputação ao advogado e procurador. Tal confiança não poderia ser seguramente depositada em pessoas de condição muito baixa e insignificante. Portanto, a recompensa deles deve ser tal que lhes dê a posição na sociedade que uma confiança tão importante exige" (WN, I, x, I, 19). (As complexas visões sociológicas por trás destas linhas ainda estão esperando inserção na teoria microeconômica.)

Essas circunstâncias tornam as proporções entre os salários muito persistentes, argumenta Smith, e uma persistência similar existe para as diferenças nas taxas normais de lucro:

"A proporção entre as diferentes taxas tanto de salários quanto de lucro nas diferentes ocupações de trabalho e capital,$^{18}$ parece não ser muito afetada ... pela riqueza ou pobreza, pelo estado avançado, estacionário ou declinante da sociedade. Tais revoluções no bem-estar público, embora afetem as taxas gerais tanto de salários quanto de lucro, devem, no final, afetá-las igualmente em todas as ocupações diferentes. A proporção entre elas, portanto, deve permanecer a mesma e não pode ser alterada, pelo menos por um tempo considerável, por qualquer revolução desse tipo (WN, I, x, último parágrafo; 1975, p. 130)."

[18]: Lembre-se de que Smith chama de 'stock' os avanços de capital.

Dessa forma, segundo Smith, é possível tratar as taxas de salário relativas (a "proporção" entre as taxas de salário) como dadas ao tentar determinar as demais rendas e também ao analisar os efeitos das forças que influenciam o nível geral de salários; considerações análogas se aplicam às taxas relativas de lucro.

Portanto, para determinar os custos salariais das empresas, pode-se "reduzir" quantidades de trabalho heterogêneo a quantidades de um único tipo de trabalho com base nas taxas de salário relativas. Sempre que os autores clássicos falam do trabalho como se fosse homogêneo e da "taxa" de salário, estão implicitamente reduzindo quantidades de trabalho heterogêneo a diferentes quantidades de trabalho homogêneo com base em salários relativos dados, geralmente a quantidades de trabalho comum e não especializado.

Em conclusão, a existência de trabalho heterogêneo e de diferentes taxas de salário não impede o tratamento dos custos salariais como dados ao tentar determinar os aluguéis de terra e a taxa média de lucro.

1.4 Os Outros Dados na Determinação do Excedente

    1.4.1 Quantidades

Vamos agora ver brevemente como os autores clássicos determinam as outras circunstâncias necessárias para determinar a quantidade e a taxa de lucro: quantidades produzidas, métodos de produção, taxas de aluguel de terras.

Começamos com as quantidades produzidas. A composição da produção (uma questão que não surgiu no exemplo da economia de milho) é explicada, na parte relativa à composição do consumo, como dependente do desenvolvimento histórico dos hábitos de consumo; o tamanho e a composição da produção de bens de capital são explicados com base nas necessidades técnicas de reintegração do estoque de capital e na propensão da sociedade para acumular; tanto os hábitos de consumo quanto a propensão para acumular são considerados variáveis historicamente e dependentes das circunstâncias específicas do período. O nível agregado de produção é considerado depender do estágio alcançado pela acumulação de capital, ou seja, da participação passada do excedente alocada para reinvestimento em vez de consumo; e também, nos autores clássicos que não aceitam a Lei de Say (ver abaixo na Seção 1.9.2), dos fatores que determinam flutuações e crises, sobre os quais falaremos mais adiante.

Uma diferença importante dessas visões em relação à abordagem marginal posterior é que nos autores clássicos não encontramos a ideia de uma curva de demanda por trabalho, estabelecendo uma conexão unívoca entre salário real e emprego de trabalho e permitindo uma determinação simultânea de salários reais e emprego de trabalho e, portanto, do nível de produção agregada.$^{19}$ Os efeitos, por exemplo, de uma mudança na taxa de salário real na composição do consumo, ou nas economias, ou no emprego, são considerados suficientemente variáveis historicamente para sugerir um método de análise diferente: numa primeira etapa, os efeitos de uma mudança na taxa de salário real nos preços, nos aluguéis de terras e nos lucros são estudados mantendo as quantidades produzidas inalteradas; este estudo é estritamente analítico-dedutivo (ver abaixo); os resultados desse estudo podem então ser usados numa segunda etapa, mais indutiva da análise, para tentar estimar os efeitos prováveis nas quantidades produzidas de acordo com as especificidades do caso.$^{20}$ Assim, por exemplo, em Marx, um aumento dos salários reais reduz definitivamente a taxa média de lucro (a conclusão dedutiva e certa), mas seus efeitos nas quantidades produzidas devem ser determinados de acordo com as circunstâncias históricas, porque às vezes um aumento moderado nos salários pode estimular a produção agregada e o emprego devido à maior demanda dos trabalhadores por bens de consumo, enquanto em outras situações pode resultar num desestímulo ao investimento e ao emprego se for percebido pelos capitalistas como sinalizando uma perigosa força social dos trabalhadores, capaz de ameaçar a continuação da dominação de classe dos capitalistas.

[19]: Como veremos melhor no Capítulo 7, Seção 3, a abordagem marginal argumenta que salários mais baixos aumentam a demanda por trabalho mesmo na ausência de crescimento do estoque de capital; nos autores clássicos essa noção está ausente, nas análises clássicas, aumentos no emprego só podem ocorrer devido à acumulação de capital, veja o Apêndice deste capítulo sobre Ricardo e a maquinaria.

[20]: O caráter indutivo da abordagem clássica à escolha do consumidor merece um breve comentário. Veremos no Capítulo 7, Seção 3, que na abordagem marginal/neoclássica, mudanças na composição da demanda do consumidor dedutíveis de mudanças na distribuição de renda são muito importantes para determinar a distribuição de renda. Na abordagem clássica, a determinação da distribuição de renda é totalmente diferente, há pouco interesse nas propriedades gerais de como as escolhas do consumidor mudam com alterações nos preços relativos; a atenção volta-se mais para a evolução do conteúdo das escolhas do consumidor, por exemplo, a evolução ao longo do tempo das preferências entre renda e lazer, o nível mutável de 'subsistência' e, portanto, o significado de pobreza, a importância dos efeitos de demonstração, os efeitos de novos produtos como ferrovias (ou, nos tempos modernos, a Internet e smartphones): questões relacionadas a mudanças irreversíveis nos gostos, a serem estudadas com abordagens indutivas e históricas.






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