quinta-feira, 17 de julho de 2025

Investimento, capital e produtividade nos Estados Unidos, Espanha e Brasil - Juan Pablo Mateo Tomé

MATEO TOMÉ, Juan Pablo. Inversión, capital y productividad en Estados Unidos, España y Brasil. Revista de Economía Mundial, [S.l.], n. 52, p. 65–88, 2019. ISSN 1576-0162. Disponível em: https://www.sem-wes.org/es/REM-52/.

SUMÁRIO

1. Introdução

2. Aspectos teóricos

 2.1. Dinâmica do processo de acumulação

 2.2. Acumulação e desenvolvimento desigual: comparação centro–periferia

  2.2.1. Esfera monetária

  2.2.2. Capital e produtividade

3. Resultados empíricos

 3.1. Evolução do capital e da produtividade

 3.2. Questões monetárias

 3.3. Comparação dos níveis absolutos

4. Conclusões


RESUMO

Este artigo apresenta uma análise comparativa da dinâmica de acumulação em três economias com diferentes níveis de desenvolvimento produtivo — Estados Unidos, Espanha e Brasil — no período de 1995 a 2014, destacando as particularidades das razões do estoque de capital e sua relação com a produtividade do trabalho. Embora a evolução das categorias da acumulação apresente certas semelhanças, a pesquisa revela que essas economias sofrem de certa disparidade na relação entre as razões capital-trabalho e capital-produto, alcançando um progresso mais limitado na produtividade do trabalho. Além disso, não se verifica nenhuma tendência de convergência da Espanha e do Brasil em relação aos Estados Unidos em termos de produtividade do trabalho em dólares.

1. Introdução

Este artigo apresenta uma análise comparativa da dinâmica de acumulação em três economias com níveis heterogêneos de desenvolvimento produtivo — Estados Unidos (EUA), Espanha e Brasil — durante o período de 1995 a 2014, com base em uma abordagem de economia política. Especificamente, estuda-se a relação entre o estoque de capital e a produtividade, com o objetivo de revelar as particularidades de cada economia e identificar se há alguma tendência de convergência em termos de produtividade do trabalho.

Os conceitos teórico-abstratos de centro e (semi)periferia são apropriados por seu caráter ilustrativo e esclarecedor (ver Martínez, 2011), embora não estejam isentos de limitações e suas fronteiras possam ser difusas. Ainda que não se adote completamente o marco teórico estruturalista de raiz cepalina, nem a abordagem circulacionista (Astarita, 2010), as categorias mencionadas são pertinentes para diferenciar — qualitativamente — distintos grupos de países. O critério adotado prioriza a esfera da produção, isto é, o desenvolvimento produtivo e a capacidade de gerar excedente de forma sustentada ao longo do tempo. Quantitativamente, isso se expressa em variáveis como o PIB per capita, a produtividade do trabalho ou o conteúdo tecnológico do estoque de capital, além de aspectos da estrutura econômica e, por extensão, em indicadores de renda, desigualdade e bem-estar.

O desenvolvimento produtivo está relacionado à disponibilidade de ativos de capital (K). Assim, o estoque de capital constitui uma variável central que, em grande medida, condiciona o tipo de evolução macroeconômica ao longo do tempo e explica as diferenças no nível de desenvolvimento produtivo entre os países. Pode-se defini-lo como uma grandeza de valor inserida em um processo de incremento de valor — valorização — e materializada no conjunto de elementos, tangíveis ou não, que fazem parte do processo: capital-dinheiro, capital produtivo e capital-mercadoria. Em outras palavras, trata-se de uma relação social de produção (ver Mateo, 2007) [1]. Por isso, levantam-se as seguintes perguntas:

i) Qual é a correspondência entre o nível dos rácios de capital e a produtividade?

ii) Quais são as particularidades da evolução do capital em relação à produtividade nas fases de crescimento e crise?

iii) Como os aspectos monetários influenciam essa relação?

iv) Pode-se afirmar que existe uma tendência de convergência em termos de produtividade?

[1] Esta definição não coincide com o fundamento teórico das medidas oficiais, pois, por um lado, abrange todos os elementos suscetíveis de possuir valor, independentemente de seu conteúdo material, mas ao mesmo tempo, refere-se apenas ao âmbito capitalista. Sobre isso, ver Câmara (2003), Mateo (2007) e Shaikh (2016).

Neste artigo, o termo “centro” refere-se às áreas mais desenvolvidas, como de fato são classificadas pelos próprios organismos internacionais. A chamada “periferia”, por sua vez, agrupa um conjunto de economias com maior atraso, ou seja, com baixos níveis de produtividade, geralmente dependentes de atividades primárias com baixo conteúdo tecnológico, o que resulta em um PIB per capita menor, mais pobreza e menor índice de desenvolvimento humano. Entre esses dois grupos pode-se situar uma “semiperiferia”, conceito que surge a partir das mudanças na divisão internacional do trabalho nas últimas décadas (Martínez, 2011). Embora sua delimitação não seja simples, esse conceito refere-se às economias que, sem pertencerem ao mundo desenvolvido, possuem níveis de produtividade e estoque de capital superiores aos da periferia, integram algumas cadeias globais de valor ou possuem atividades com certo grau de desenvolvimento produtivo. Exemplos mais significativos seriam México, Brasil, Argentina e Chile na América Latina, além dos demais integrantes do BRIC e de países recentemente industrializados da Ásia [2].

[2] Para essa classificação, ver Martínez (2011), Palazuelos (2016); sobre a problemática relativa à semiperiferia, ver Worth e Moore (2009).

A escolha do período se deve a aspectos relacionados às economias do Brasil e da Espanha. Por um lado, o início em 1995 se explica porque, no Brasil, aplica-se o Plano Real entre 1993 e 1994 para controlar a hiperinflação, que já em 1995 se encontrava em níveis reduzidos; enquanto, na Espanha, havia sido implementado um programa econômico que seguia as diretrizes dos Acordos de Maastricht. Por outro lado, o estudo vai até 2014 devido à disponibilidade de dados estatísticos no Brasil e, além disso, no caso da Espanha, existem séries consolidadas das contas nacionais a partir de 1995 [3].

[3] Deve-se observar que, no caso do Brasil, certos indicadores da primeira metade da década de 1990 apresentam resultados anômalos devido à hiperinflação. Além disso, só há deflator de investimento disponível até 2013.

Essa perspectiva analítica do processo de acumulação é relevante, em primeiro lugar, por constituir a dimensão central que explica o processo de crescimento, impactando, portanto, as esferas da distribuição, monetária-financeira e, assim, o crescimento econômico. Pelo lado da demanda, é a investimento, e não a poupança, a variável fundamental para caracterizar os ciclos de expansão e crise, materializando-se em um determinado volume de capital. Em segundo lugar, pela ausência de estudos empíricos que incluam economias com diferentes níveis de desenvolvimento, os quais, de todo modo, priorizam os fluxos de investimento.

Em terceiro lugar, a pertinência dessa abordagem se justifica também pelas particularidades do contexto histórico e dos casos estudados. EUA, Espanha e Brasil são economias com distintos níveis de desenvolvimento produtivo. A primeira representa a principal potência econômica mundial, enquanto a Espanha, embora seja uma economia desenvolvida e membro da OCDE, está localizada na periferia de uma região avançada como a Zona do Euro (Del Río, 2018), com um PIB per capita que representava entre 59% e 65% do norte-americano no período de 1995 a 2014. Já o Brasil é um exemplo de economia semiperiférica com enclaves industriais e financeiros (Palazuelos, 2015), integrando o grupo das economias emergentes — os BRICs —, e com um PIB per capita equivalente a um quinto do dos EUA (Banco Mundial, 2017). Nesse sentido, as duas décadas analisadas são marcadas pela adoção de políticas econômicas com certo caráter neoliberal na Espanha e no Brasil, nas quais a estabilidade monetária e a apreciação cambial tornaram-se aspectos distintivos [4]. Trata-se, portanto, de um período no qual se corrigem, a priori, certas tendências monetárias polarizadoras que serão discutidas no marco teórico, e que impactam de maneira crucial o modelo de acumulação.

[4] Utiliza-se o termo neoliberalismo porque se constata uma diferença em relação às fases anteriores quanto à lógica que articula as decisões fundamentais de política econômica (ver Mateo, 2016). Naturalmente, isso não implica uma semelhança absoluta com o conteúdo do termo, mas sua pertinência (ainda que com ressalvas) para Brasil e Espanha pode ser verificada em Carcanholo (2011) e Buendía e Molero-Simarro (2018), respectivamente.

Para isso, o artigo começa expondo os elementos teóricos do processo de acumulação e as assimetrias presentes em um esquema centro–periferia. Posteriormente, procede-se à análise dos resultados do estudo empírico, primeiramente em relação à evolução das diferentes categorias e, em seguida, realizando-se uma comparação entre Espanha e Brasil em relação aos EUA.

2. Aspectos teóricos

2.1. Dinâmica do processo de acumulação

Em primeiro lugar, situamos o objeto de investigação — a acumulação de capital — em seu marco mais geral. A partir de uma abordagem de economia política (Shaikh, 2016), o crescimento do produto (Y) depende fundamentalmente do investimento (I), que por sua vez responde ao objetivo de maximizar o lucro (B), de modo que a relação causal pode ser descrita como: rentabilidade (r) leva ao investimento (I), que leva ao crescimento do produto (Y). No entanto, essa relação também apresenta uma reciprocidade quanto à influência entre as variáveis [5].

Assim, a rentabilidade (r), que relaciona o objetivo da atividade econômica (o lucro, B) com o valor monetário do conjunto de elementos necessários para obtê-lo — provenientes dos fluxos de investimento —, ou seja, o estoque de capital (K), pode ser expressa em função de três tipos de indicadores (ou razões) do capital:

r = taxa de rentabilidade ou lucro sobre o capital;

B = benefício (lucro);

K = estoque de capital;

π = produtividade do trabalho;

P_y = deflator de preços do produto;

w_L = salário real por trabalhador (w = salário real, L = número de trabalhadores);

P_c = deflator de preços do consumo;

θ = razão capital–trabalho (K/L);

P_k = deflator de preços do capital;

e = razão benefício–salários (B/W);

τ = razão capital–salários (K/W);

β = participação do lucro no produto (B/Y);

δ = razão capital–produto (K/Y), que é o inverso da produtividade do capital.

[5] Portanto, entende-se que a taxa de poupança é uma categoria derivada, pois não se explica por uma decisão livre, mas sim pela necessidade de investir e pela capacidade de gerar excedente.

A taxa de lucro depende positivamente da margem da produtividade do trabalho (π) sobre o salário real por trabalhador (wL), ou seja, da diferença entre π e wL; do índice lucro-salários (e = B dividido por W); e da participação do lucro no produto (β = B dividido por Y). Por outro lado, ela depende negativamente do índice capital-trabalho (θ, a preços constantes), do índice capital-produto (d), que é o inverso da produtividade do capital (Πk), e do índice capital-salários (τ), levando em conta os deflatores de preços do produto (Py), do capital (Pk) e do consumo (Pc). Esses indicadores, associados à tecnologia da produção — ou seja, às dimensões da composição do capital — serão analisados empiricamente na próxima seção e se expressam da seguinte forma.

θ = Razão capital–trabalho (nível de mecanização) = capital por trabalhador ajustado pelo preço do capital;

τ = Razão capital–salários = capital total dividido pela massa salarial;

δ= Razão capital–produto = capital em relação ao produto real ajustado (inverso da produtividade do capital);

K* = Estoque de capital a preços constantes (capital líquido não residencial);

L = Número de trabalhadores (emprego);

θ = Razão capital–trabalho (nível de mecanização) = capital por trabalhador ajustado pelo preço do capital

τ = Razão capital–salários = capital total dividido pela massa salarial

δ = Razão capital–produto = capital em relação ao produto real ajustado (inverso da produtividade do capital);

K* = Estoque de capital a preços constantes (capital líquido não residencial);

L = Número de trabalhadores (emprego);

Pk = Deflator de preços do capital;

W = Massa salarial;

wL = Salário real por trabalhador;

π = Produtividade do trabalho (produto real por trabalhador);

Pky = Relação de preços entre produto e capital (Py/Pk).

Observe-se que o segundo indicador (τ) também depende da esfera da distribuição de renda, ao incorporar o salário. Por isso, neste trabalho, focamos nos indicadores θ e δ. O primeiro possui certa prioridade analítica porque relaciona os dois fatores nos quais o investimento se materializa: o capital fixo e a força de trabalho (L), ainda que essa medida não esteja isenta de controvérsias. Esse indicador representa o nível de mecanização do processo econômico — o volume de ativos de capital por unidade de trabalho — e constitui o fundamento inicial para a melhoria da produtividade do trabalho (π), que é estimada como o total do produto a preços constantes (Y*) por unidade de trabalho (L), de modo que, em termos gerais, pode-se dizer: quanto maior θ, maior π. Portanto, o aumento dos indicadores de capital (θ, τ, δ) tende a pressionar a rentabilidade para baixo e, por consequência, o crescimento econômico. No entanto, ao mesmo tempo, esses aumentos permitem elevar a produtividade. E, se essa produtividade de fato aumenta, os custos de produção diminuem, o que afeta os preços relativos. Por isso, destaca-se a importância da relação entre o preço do produto (Py) e o preço do capital (Pk).

Em consequência, esses dois fatores, a saber:

i) a eficiência produtiva do capital, ou seja, a medida em que o estoque de capital permite melhorar a produtividade do trabalho (θ → π); e

ii) o índice de preços relativos (Py, Pk), ou seja, a medida em que é possível reduzir relativamente o preço dos ativos que contribuem para aumentar a produtividade,

determinarão o perfil do índice capital-produto — ou, alternativamente, sua inversa, chamada de “produtividade do capital”.


Assim, a relação entre a acumulação de capital e a produtividade é relevante na medida em que constitui um determinante fundamental do crescimento econômico, ao influenciar a estrutura de custos (competitividade).

Por outro lado, o artigo faz referência a duas versões do produto:

i) o PIB, conforme aparece na contabilidade nacional; e

ii) aquilo que será denominado “valor novo” ou “produto” (Y), obtido a partir da dedução, do PIB, dos setores financeiro e imobiliário, juntamente com os serviços sociais e as administrações públicas. Essa medida será utilizada nos índices de capital e na produtividade do trabalho, e sua metodologia se justifica pela consideração do trabalho improdutivo (assalariado e mercantil) e pelo objetivo de eliminar qualquer viés decorrente de uma expansão relativamente elevada das finanças, do setor imobiliário ou de atividades não mercantis [7].

[7] Sobre essa questão, ver Mateo (2018b), Mateo e Outro (2018) e Shaikh (2016).

2.2. Acumulação e desenvolvimento desigual: comparação centro–periferia

Ao comparar os processos de acumulação de capital entre países, especialmente aqueles com níveis desiguais de desenvolvimento produtivo, as categorias devem ser medidas em uma mesma moeda — neste caso, uma divisa internacional (dólares), própria das áreas centrais. Por isso, inicialmente abordam-se as assimetrias das variáveis monetárias, já que se entende haver uma integração orgânica entre o real — ou seja, o que é produtivo em termos de valor — e o monetário. Nesta seção, tomamos como exemplo uma economia desenvolvida (A) e uma periférica, subdesenvolvida ou em desenvolvimento (B), o que representa uma simplificação metodológica necessária para revelar as tendências que se espera que operem sobre estas últimas. Em seguida, são discutidas as tendências próprias dos índices de capital e produtividade.

2.2.1. Esfera monetária

A relação entre os valores das moedas, ou seja, o tipo de câmbio (TC), é fundamental na análise comparativa das dinâmicas produtivas, já que o principal fator que condiciona as paridades cambiais é o nível de competitividade dos capitais (Astarita, 2010; Shaikh, 2016). Assim, o ponto de equilíbrio — ou o nível em torno do qual as moedas tendem a flutuar no longo prazo — entre dois países é determinado pelos custos unitários do trabalho real (Martínez-Hernández, 2017). Portanto, o desenvolvimento tecnológico de uma economia tende a conduzir, ou pressionar, à valorização da sua moeda, enquanto o contrário ocorre em economias que perdem competitividade. Isso significa que, em uma economia atrasada, o seu TC pode situar-se acima do correspondente à paridade do poder de compra (PPC), dadas as disparidades entre os diversos índices de preços (Astarita, 2010).

Uma primeira ressalva é necessária: a análise comparativa aqui adota os tipos de câmbio de mercado em vez da PPC, como faziam os organismos internacionais até o início da década de 1990. Isso se deve ao fato de que a perspectiva adotada enfatiza o desenvolvimento produtivo comparado das economias, e não o poder de compra de seus habitantes (Freeman, 2004; Saad-Filho, 2014; Mateo, 2020) [8]. Para os fins desta pesquisa, a aquisição dos elementos que permitem o aumento da produtividade — os bens de capital — é realizada em moeda internacional a taxas de mercado, e até mesmo as dívidas associadas são vinculadas a essa mesma paridade.

[8] Vale observar que um dólar medido por paridade do poder de compra é uma unidade de conta fictícia, que não existe em nenhum sentido concreto — nem para realizar pagamentos nem para contabilizar transações. Embora isso não signifique que o conceito careça de valor analítico, ele não é relevante para a análise da acumulação de capital, da capacidade produtiva ou da força econômica que, de forma tendencial (ou subjacente), explicam o desenvolvimento produtivo e o poder geopolítico.

Em princípio, espera-se que as economias mais competitivas apresentem maior estabilidade monetária, refletida em uma inflação média mais baixa. Do mesmo modo, há uma pressão estrutural para a redução relativa do custo do estoque de capital, ou seja, uma tendência ao aumento do índice Pyk, ou pelo menos uma certa sincronização entre os preços do produto (Py) e do capital (Pk), o que se explica pelo papel central que o estoque de capital exerce no desenvolvimento produtivo — área em que as economias periféricas são menos competitivas e precisam importar uma parte considerável dos ativos com maior conteúdo tecnológico (Mateo, 2020).

Essa tendência é coerente com a disparidade entre as medidas a PPC e os tipos de câmbio de mercado entre países desenvolvidos e periféricos. O primeiro índice refere-se ao custo da cesta de consumo, que é substancialmente mais baixo nas regiões não desenvolvidas, enquanto há apenas um mercado internacional para os ativos de capital. Em outras palavras, existe um sistema dual de preços globais: um custo universal para o capital e outro, de caráter local, para a força de trabalho, dado que os salários são definidos em mercados de trabalho diversos (Freeman, 2004). Por isso, espera-se que a esfera monetária amplifique as tendências divergentes que, no entanto, têm origem na capacidade produtiva heterogênea.

2.2.2. Capital e produtividade

Considerando a centralidade do capital para diferenciar o nível de desenvolvimento das economias, é necessário comparar os diversos índices de capital. Em primeiro lugar, é de se esperar que o grau de mecanização seja superior no país desenvolvido, embora este também possa dispor de mecanismos para evitar seu aumento excessivo. Por isso, é possível verificar as diferenças relativas entre a economia central e a periférica quanto aos meios (a mecanização) e aos resultados (a produtividade): a produtividade relativa de ‘b’ em relação a ‘a’ é o índice de produtividades em dólares, (π_ba)^$ = (π_b / π_a)^$, o que deve ser comparado com o índice capital-trabalho relativo (θ_ba)^$ = (θ_b / θ_a)^$, portanto


Se a distância entre os índices θ (capital-trabalho) for menor do que o diferencial de π (produtividade), então pode-se afirmar que o estoque de capital é relativamente ineficiente na economia mais atrasada, e σba > 1; ou seja, o nível de mecanização seria excessivamente elevado em relação ao nível de produtividade que se obtém. Nesse caso, observe-se que essa ineficiência pode vir acompanhada de um encarecimento relativo do capital (Pky), o que ampliaria a diferença nos índices de produtividade relativa do capital. De fato, as economias periféricas podem sofrer ainda mais com a desconexão entre os diversos indicadores de capital, pois δ = (θ dividido por π) multiplicado por Pky, o que faz com que esse índice seja duplamente pressionado para cima — tanto pelo aumento de θ (com menor crescimento de π) quanto pelo aumento de Pky. Assim como foi feito na expressão (6), pode-se aplicar o mesmo raciocínio ao índice capital-produto (ou produtividade do capital), relação que será representada por µ, e compará-lo com σ, para ilustrar a relação relativa entre os indicadores de capital frente à divergência na produtividade do trabalho em relação à economia de referência.


A hipótese de partida é, por um lado, que os índices de capital estão associados à produtividade do trabalho — uma relação geral que, no entanto, é mediada por aspectos concretos do contexto, bem como pela estrutura dos investimentos (capital) em termos de ativos e setores econômicos. Por outro lado, considera-se que existem obstáculos estruturais à convergência e ao equilíbrio, ou seja, afirma-se que a dinâmica de acumulação se caracteriza por um desenvolvimento desigual [9], com fatores estruturais que tendem a reproduzir, e talvez até a ampliar, as divergências produtivas internacionais. Em suma, propõe-se que o subdesenvolvimento produtivo pode se manifestar em um nível relativamente elevado dos seus índices de capital em relação ao seu nível de produtividade. Considerando uma comparação em moeda internacional, isso representa um obstáculo ao seu processo de acumulação, contribuindo para a reprodução das diferenças entre centro e periferia.

[9] O termo "desenvolvimento desigual" implica que não há uma tendência à convergência na economia mundial, e que o processo de acumulação e desenvolvimento não é uniforme entre setores e regiões geográficas. No entanto, isso não exclui a possibilidade de existirem dinâmicas convergentes.





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