segunda-feira, 10 de junho de 2024

O Impacto da Financeirização na Taxa de Lucro - Stefano Di Bucchianico

DI BUCCHIANICO, Stefano. The Impact of Financialization on the Rate of Profit. Review of Political Economy, [s. l.], p. 1-21, 09 nov. 2020. DOI: 10.1080/09538259.2020.1835109.

SUMÁRIO

1. Introdução

2. Como Podemos Definir 'Financeirização'?

3. Um Esquema Clássico-Marxiano como Estrutura Teórica e o Método do 'Setor Integrado Salário-Mercadoria'

    3.1. Elementos Financeiros em um Esquema Clássico-Marxiano

    3.2. Componentes Reais e Financeiros do IWCS: Uma Configuração Analítica

4. A Relação entre Financeirização e Rentabilidade

    4.1. Intensidade das Inovações Financeiras e Regulação Financeira

    4.2. O Tamanho do Setor Financeiro

    4.3. Endividamento das Famílias

    4.4. Ambiente Sociopolítico

5. Conclusão

RESUMO

Este trabalho investiga alguns canais pelos quais a financeirização pode impactar a taxa normal de lucro, utilizando a metodologia do 'setor integrado de salário-mercadoria'. Analisamos o efeito das inovações técnicas no setor financeiro, a maior participação do setor financeiro nos lucros e no PIB, o aumento do endividamento das famílias e fatores sociopolíticos que reduzem o poder de barganha dos trabalhadores. Constatamos que, durante a era da financeirização, o primeiro fator não impactou a lucratividade normal, pois envolvia principalmente instrumentos como derivativos. O segundo, em princípio, não deveria afetar a taxa normal de lucro, embora possa impactar a distribuição da renda agregada. O terceiro, no que se refere ao seu efeito sobre a demanda agregada, não impacta a taxa normal de lucro. O quarto fator se revela como o principal fator que eleva a taxa normal de lucro, por meio de seu impacto na distribuição funcional da renda.

1. Introdução

Nas últimas décadas, juntamente com vários outros padrões notáveis, duas grandes tendências emergiram na economia dos EUA. Por um lado, observamos uma recuperação na taxa de lucro, cuja queda prolongada atingiu seu ponto mais baixo durante os anos 1980. Nas décadas seguintes, experimentou amplas flutuações, mas, em média, recuperou consistentemente um valor mais alto [1]. Como apontam Lapavitsas e Mendieta-Muñoz (2016, p. 9), "a taxa de lucro realmente se recuperou do início dos anos 1980 até meados dos anos 1990 e depois permaneceu amplamente estável, novamente com flutuações cíclicas". Entre outros, Duménil e Lévy (2002), Wolff (2003), Basu e Vasudevan (2013) oferecem evidências desse padrão, que também é ilustrado na Figura 1.

[1]: Calculamos como produto interno líquido menos compensações de empregados (corrigido para números de trabalhadores autônomos), tudo dividido pelo estoque de capital líquido a preços correntes. Os valores médios para cada década são: 20,7% (1960–1969), 18,0% (1970–1979), 15,7% (1980–1989), 17,5% (1990–1999), 17% (2000–2009), 17,4% (2010–2018). Dados e definições são retirados de Duménil e Lévy (2016).

Por outro lado, muitos autores descrevem essas décadas como caracterizadas pela ascensão da 'financeirização'. Segundo Sawyer (2018, p. 44), que estende uma definição bem conhecida de Epstein (2005), "Financeirização é percebida em termos do papel crescente de motivos financeiros, mercados financeiros, atores financeiros e instituições financeiras nas economias domésticas e internacionais, sociedades, meio ambiente e mudança nas relações entre o setor financeiro e o setor real não financeiro". Portanto, no mesmo período, também testemunhamos o surgimento de uma nova configuração para o capitalismo avançado, que mudou drasticamente o cenário.

Figura 1. A tendência da taxa de lucro nos Estados Unidos (1960–2018). Fonte: elaboração do autor com base em Duménil e Lévy (2016).

A questão que precisa ser respondida é: dado que um aumento prolongado na taxa de lucro realizada também pode ser considerado uma boa indicação de um aumento na taxa normal de lucro, qual poderia ter sido o impacto da financeirização nesta última? Podemos pensar na financeirização como um fenômeno que contribui para elevá-la? [2].

[2]: Definimos a taxa normal de lucro como aquela gerada por novos bens de capital instalados, obtida pelo emprego da técnica dominante disponível, para um nível normal de utilização da capacidade (Garegnani 1992). A taxa de lucro realizada (Figura 1), por outro lado, é afetada por flutuações de utilização de capacidade no curto prazo, pela presença de ‘quase-rendas’ em antigos vintages, preços desviando-se dos valores normais, e assim por diante. Precisamos nos abstrair de todos esses elementos.

Este artigo, portanto, pretende fazer duas contribuições. A primeira diz respeito ao tratamento da financeirização em um contexto teórico Clássico-Keynesiano, ou Sraffiano. Contribuições valiosas já foram feitas nessa linha de pesquisa (Barba e de Vivo 2012; Panico, Pinto e Anyul 2012; Panico e Pinto 2018). Nossa novidade ao analisar este fenômeno reside na utilização da metodologia do 'setor integrado de salário-mercadoria' (Garegnani 1984, 1987; Fratini 2015, 2019; Di Bucchianico 2019, 2020). Esta tentativa é guiada pela convicção de que este quadro é bem adequado para acolher um estudo perspicaz de como vários aspectos da financeirização podem impactar a taxa normal de lucro. Entre eles, analisaremos o papel das inovações financeiras, a crescente participação do setor financeiro nos lucros e no PIB, o aumento do endividamento das famílias e a mudança no poder sociopolítico desfavorável aos trabalhadores.

A segunda é uma contribuição para a literatura sobre financeirização e seus efeitos na distribuição de renda. Nesse sentido, há vários estudos que elaboram sobre a distribuição funcional da renda e os possíveis canais pelos quais a financeirização pode ter um efeito adverso na participação dos salários (entre outros, Hein 2015; Dünhaupt 2017; Kohler, Guschanski e Stockhammer 2019). Outras contribuições também investigam seu impacto nos lucros financeiros (Lapavitsas e Mendieta-Muñoz 2019b) e na taxa de lucro (Hein e Van Treeck 2010; Lapavitsas e Mendieta-Muñoz 2019a). Em relação a esta literatura, focaremos na taxa normal de lucro, conforme mencionado anteriormente. Nossa análise teórica mostra que inovações financeiras geralmente aumentam a lucratividade normal, mas não quando envolvem instrumentos como derivativos, que consideramos bens não básicos. O aumento da renda financeira e das participações nos lucros, em princípio, não deve afetar a taxa normal de lucro, embora possam impactar as participações de renda agregada. O aumento do endividamento das famílias não impacta a taxa normal de lucro na medida em que seu efeito na demanda agregada é levado em conta. Em nossa estrutura, os principais elementos que impulsionam o movimento da taxa normal de lucro são as quedas nos padrões do salário real e da participação dos salários devido à posição enfraquecida de barganha dos trabalhadores. Essa posição de barganha pode, por sua vez, ser afetada de várias maneiras não mecânicas, discutidas na literatura existente, pela financeirização.

O artigo está estruturado da seguinte forma: a Seção Dois define os aspectos da financeirização que se destacam como principais; a Seção Três apresenta o quadro teórico no qual os analisamos; a Seção Quatro discute cada elemento individualmente e mostra o possível impacto na lucratividade normal; a Seção Cinco conclui.

2. Como Podemos Definir 'Financeirização'?

Financeirização é uma categoria analítica bastante abrangente. Revisamos algumas contribuições desta extensa literatura para detectar aspectos precisos a serem examinados.

A literatura já havia começado a se desenvolver no final dos anos oitenta graças ao trabalho seminal de Magdoff e Sweezy (1987), enriquecido, entre outros, pela contribuição perspicaz de Arrighi (1994), e então ganhou fama generalizada com a contribuição pioneira de Krippner (2005). Este último autor destacou o processo de financeirização na economia dos EUA, afirmando que a acumulação tendia a ser cada vez mais realizada por canais financeiros. De fato, durante os anos oitenta e noventa, tanto a proporção da renda de portfólio em relação aos fluxos de caixa corporativos quanto a proporção dos lucros financeiros em relação aos não financeiros mais do que dobraram em comparação com os valores das décadas de cinquenta e sessenta. Subsequentemente, Van Treeck (2009) propôs o uso de uma perspectiva mais 'macro', analisando o papel dos hábitos culturais, das relações de poder político e da política macroeconômica.

Passando para autores que tentaram listar alguns dos elementos destacados que marcam a financeirização, Lapavitsas (2013) destaca três características: empresas não financeiras se envolvendo cada vez mais em operações financeiras independentes com menor recurso à intermediação bancária, transações em mercados financeiros e empréstimos a famílias tornando-se uma fonte importante de lucros para os bancos, famílias tornando-se cada vez mais financeirizadas tanto no empréstimo quanto na poupança. Palley (2013) argumenta que a financeirização contribui para criar um ambiente favorável a: um aumento no volume da dívida (seja corporativa e/ou familiar), uma mudança na renda em direção ao capital, implicando também um aumento na participação dos lucros do setor financeiro, e uma tendência para o comportamento corporativo ser subjugado pelos mercados financeiros. A influente revisão sobre financeirização feita por van der Zwan (2014) foca em três aspectos principais. Primeiro, a financeirização é descrita como um regime de acumulação que surgiu em resposta à queda da produtividade no final dos anos sessenta, trazendo mercados de trabalho flexíveis e expansão do crédito. Segundo, a financeirização é vista como uma forma moderna de comandar corporações que, através da orientação pelo valor do acionista, legitima a redistribuição de riqueza e poder em direção aos acionistas e afastando-se dos trabalhadores. Terceiro, a financeirização é estudada em seu impacto na vida cotidiana, enfatizando a incorporação das classes baixa e média nas operações dos mercados financeiros.

Uma vertente da literatura que é de particular interesse para nossa investigação foca nos efeitos de médio a longo prazo da financeirização na distribuição funcional da renda. Entre outros, Hein (2012, Cap. 2, pp. 8-35; 2015) oferece uma perspectiva Kaleckiana na qual a precificação com mark-up em mercados não perfeitamente competitivos determina as participações de renda. O autor identifica três canais que podem ter tido um efeito claramente prejudicial na participação dos salários. Eles são: as composições setoriais das economias se movem em direção a uma configuração na qual o setor de negócios financeiros tem mais peso, aumento dos pagamentos de juros e dividendos do setor corporativo causando aumento dos custos indiretos, sindicatos mais fracos como resultado de vários fatores (incluindo a crescente orientação pelo valor do acionista na gestão, desregulamentação do mercado de trabalho, globalização) [3]. Além disso, em Hein e Van Treeck (2010), os modelos Kaleckianos e Pós-Kaleckianos são utilizados para estudar como o aumento do poder dos acionistas afeta a taxa de utilização da capacidade, a taxa de lucro e a taxa de acumulação.

[3]: O quadro desenvolvido nessas contribuições também forneceu uma base para trabalhos aplicados (Hein et al. 2017; Hein et al. 2018).

A análise do tema também estimulou uma lista de contribuições econométricas que variam de acordo com os elementos específicos que adicionam ao quadro geral. Entre elas, Dünhaupt (2017) investiga a relação entre financeirização e participação dos salários em 13 países (1986–2007), constatando que o aumento dos pagamentos de dividendos e juros, a globalização e o enfraquecimento da força de barganha dos trabalhadores desempenham um papel crucial na compressão da participação dos salários na renda. Pariboni e Tridico (2019) também levam em consideração, juntamente com a financeirização, o papel das mudanças estruturais e dos elementos institucionais específicos de cada país. Eles mostram o impacto adverso da financeirização, da distribuição de dividendos e da globalização na participação dos salários para um painel de 28 países da OCDE. Kohler, Guschanski e Stockhammer (2019) estudam, do ponto de vista teórico e empírico, vários elementos que impactam negativamente a participação dos salários: entre eles, o grau de abertura financeira, os custos gerais financeiros e a competição nos mercados de capitais, e a acumulação de dívida das famílias. Questões semelhantes também são investigadas, de uma maneira marxista, por Lapavitsas e Mendieta-Muñoz (2016, 2018, 2019a, 2019b), que se concentram na crescente relação entre lucros financeiros e não financeiros e na lucratividade do setor bancário em relação à economia geral.

Sobre a questão de situar esse fenômeno em um contexto histórico e institucional, Fasianos, Guevara e Pierros (2018) propõem uma periodização em quatro fases: (i) primeiro período, do início do século 20 até 1933, (ii) segundo período, um período transitório de 1933 até a Segunda Guerra Mundial, (iii) terceiro período, a ‘Era de Ouro’ que vai de 1945 a 1973, terminando com a crise relacionada, e (iv) quarto período, a era do chamado ‘capitalismo financeirizado’, abrangendo de 1974 a 2010. Os autores (Fasianos, Guevara e Pierros 2018, p. 56) finalmente resumem suas descobertas em uma tabela notavelmente informativa. Na Tabela 1, relatamos isso de forma mais compacta.

Usaremos, portanto, as categorias da Tabela 1 para orientar nossa investigação sobre se a financeirização tem impacto na taxa normal de lucro: uma alta intensidade de inovações financeiras combinada com desregulamentação financeira, um grande tamanho do setor financeiro, um alto nível de endividamento das famílias e um ambiente sociopolítico pró-capital.

Tabela 1. Principais elementos que caracterizam a financeirização do pós-Segunda Guerra Mundial ao pós-Grande Recessão.


3. Um Esquema Clássico-Marxiano como Estrutura Teórica e o Método do 'Setor Integrado Salário-Mercadoria'

3.1. Elementos Financeiros em um Esquema Clássico-Marxiano

Desenvolvemos nosso argumento dentro de um ponto de vista Clássico-Marxiano, conforme revivido por Sraffa (1960). Na tradição Sraffiana, o papel dos fatores monetários e financeiros na determinação da distribuição de renda foi investigado especificamente por Panico (1988) e Pivetti (1991) [4]. Algumas inconsistências no tratamento de Marx no Vol. III de O Capital ([1894] 1967), tanto no papel do setor financeiro em estabelecer uma taxa de lucro uniforme quanto na relação entre a taxa de juros e a taxa de lucro, levaram esses autores a apresentar uma proposta Sraffiana [5]. Apesar das diferenças significativas, o resultado em seu esquema é que uma política monetária que estabelece taxas de juros mais altas (mais baixas) por um período prolongado pode ser esperada, dado o salário monetário e os lucros normais das empresas, para trazer um nível de preços mais alto (mais baixo) e, assim, uma taxa de lucro normal mais alta (mais baixa) [6].

[4]: Para outras contribuições nessa linha de pensamento, veja Dvoskin e Feldman (2020).

[5]: Panico (1980) destacou uma contradição entre a conclusão de Marx de que não existe uma taxa de juros média 'natural' e o fato de que a taxa de juros, a taxa de lucros e a taxa de salário real estão conectadas em um equilíbrio de longo prazo. Pivetti (1987) apontou a dificuldade de conceber a existência do componente de lucros das empresas acima da taxa de juros em um equilíbrio de longo prazo se o primeiro, como Marx fez, é concebido como residual.

[6]: A taxa nominal de juros é dada exogenamente pelas autoridades monetárias. O salário real, inversamente relacionado à taxa de lucro normal, é a variável residual.

No entanto, em vez de estudar a influência nos preços relativos e nas variáveis distributivas da financeirização via um 'método tradicional de equações de preço' Sraffiano, empregamos um 'setor integrado salário-mercadoria' Marxiano (Garegnani 1984, 1987; a partir de agora, IWCS). Esta decisão é motivada pelas seguintes considerações. Primeiro, o que temos observado desde o início dos anos 80 são duas tendências divergentes: por um lado, a taxa de lucro realizada recuperando, em média, um valor mais alto em comparação com os anos 80 e, por outro lado, os salários reais estagnando e as participações salariais caindo. Em um esquema Panico-Pivetti, esperaríamos que isso fosse causado (ou pelo menos acompanhado) por taxas de juros reais crescentes. Pelo contrário, taxas de juros reais em queda têm caracterizado o capitalismo avançado nas últimas décadas. Portanto, recorrer a um esquema no qual a relação inversa entre o salário real e a taxa de lucro normal é mais evidente parece desejável. Em segundo lugar, segue-se do ponto anterior que, ao preservar a estrutura geral Sraffiana, um ponto de vista diferente que se refere mais de perto a categorias Marxianas, como mais-valia e exploração do trabalho, seria mais palatável. O IWCS se encaixa perfeitamente em ambas as tarefas (Di Bucchianico 2019). Nesta estrutura teórica, Garegnani demonstrou que a taxa de lucro depende exclusivamente de dois fatores: a taxa de mais-valia e as condições técnicas de produção, enquanto os lucros surgem como fruto da exploração do trabalho (Garegnani 1984, pp. 313–320; 1987, pp. 19–23).

Nosso exercício consiste em adicionar a esfera financeira ao IWCS. O setor financeiro opera ao lado do setor industrial, oferecendo serviços utilizados na produção corrente e necessários para a reprodução do sistema. Por sua vez, o setor financeiro participa do compartilhamento daquele 'pool' de lucros originados na produção (Lapavitsas e Mendieta-Muñoz 2016) e deve ganhar, em uma posição normal, uma taxa de lucro igual à do ramo industrial (Panico 1988, Cap. 2–3, pp. 47–101) [7]. Shaikh (2016, Cap. 10, pp. 443–490) também endossa a descrição do setor financeiro como uma indústria que fornece serviços financeiros para a produção e entra no processo de equalização das taxas de lucro. Panico e Pinto (2018, pp. 10–12) listam algumas características da indústria financeira retiradas dos escritos de Marx [8]: (i) serve como intermediário entre unidades econômicas com superávits financeiros e unidades econômicas com déficits financeiros, (ii) fornece às outras indústrias serviços financeiros (intermediários) necessários para iniciar e levar adiante a produção, como empréstimos e/ou outros tipos de serviços, (iii) para produzir os serviços financeiros, incorre em custos materiais, como ocorre com outras indústrias, (iv) fornece empréstimos para serem usados em investimentos e/ou consumo por empresas, capitalistas e trabalhadores, (v) ativamente faz lobby junto a órgãos políticos para direcionar a legislação a seu favor. Nosso exercício baseia-se nos pontos (i) a (iii); não formalizamos os pontos (iv) e (v).

[7]: Obviamente, o setor financeiro provavelmente desfruta de uma posição monopolista-oligopolista, ganhando, assim, lucros extras e uma taxa de lucro acima do normal. No entanto, isso não altera muito o raciocínio, pois estamos interessados na taxa de lucro normal (veja a discussão na Seção 4.2).

[8]: Na Parte IV do Vol. III de O Capital de Marx, há uma discussão sobre como a indústria de serviços financeiros tem um papel na formação dos custos de produção e nos níveis das variáveis distributivas, enquanto a Parte V descreve como as pressões da indústria bancária afetam a legislação monetária (Panico 1980, 1988).

No entanto, é importante notar que existem muitas possibilidades de introduzir elementos financeiros a uma estrutura Marxiana geral. Uma visão clara da notável importância dos aspectos monetários no pensamento Marxiano é oferecida por Hein (2006, 2019). O autor argumenta que os principais elementos do pensamento econômico de Marx devem ser enquadrados em termos de uma ‘análise monetária’, e que isso tem implicações para a avaliação das teorias de valor, precificação, endogeneidade do dinheiro, taxa de juros e lucro, e acumulação de Marx. Portanto, ao prosseguir com nosso estudo, destacamos a riqueza das formas pelas quais os elementos financeiros podem ser investigados em uma estrutura Marxiana.

3.2. Componentes Reais e Financeiros do IWCS: Uma Configuração Analítica

Para usar o IWCS para nosso propósito, configuramos um exemplo em pequena escala mantendo todas as características fundamentais que discutimos na seção anterior. De Garegnani (1984, 1987), pegamos a ideia geral de uma taxa de lucro normal determinada uma vez que as equações de preços dos bens que compõem a cesta salarial e de seus meios de produção diretos e indiretos, além da mercadoria-salário usada como numerário, são isoladas (no nível abstrato) dentro de toda a economia. De Panico (1988; Panico, Pinto e Anyul 2012), pegamos o tratamento da esfera financeira como um setor que oferece serviços que entram no processo de produção da mesma forma que outros meios de produção. Distinguimos entre os bens e serviços produzidos pelo setor industrial que entram na produção direta e indireta do salário real, e os produzidos pelo setor financeiro. Exemplos de bens industriais podem ser alimentos, roupas, etc. Exemplos de serviços financeiros podem ser: um serviço de colocação de ações para ajudar as empresas a captar fundos, um serviço de seguro sem o qual a produção não pode ser iniciada, a antecipação de custos de investimento (Cesaratto e Di Bucchianico 2020), e assim por diante [9]. O exercício baseia-se na análise completa do IWCS encontrada em Fratini (2015, 2019), da qual replicamos, de forma simplificada, as passagens necessárias para calcular a taxa de lucro normal.

[9]: À luz da recente experiência dos EUA, também podemos incluir nesses produtos serviços financeiros como empréstimos a famílias que se tornaram indispensáveis para pagar estudos universitários e cuidados de saúde.

No sistema (1) temos, nas primeiras quatro equações, quatro produtos e seus preços p: w o único bem-salário, mp um bem de capital circulante usado como meio de produção, f um serviço financeiro, nw um bem não-salarial. Supomos que f seja um serviço financeiro como a colocação de ações, como aquela realizada em uma oferta pública inicial. Consequentemente, seu preço pf remunera o intermediário financeiro que oferece esse serviço a uma empresa industrial. Os coeficientes técnicos de produção foram normalizados pelas quantidades produzidas de cada bem. Tanto os coeficientes de produção quanto as quantidades produzidas são considerados dados. Os coeficientes mp, q e l são as quantidades de meios de produção, crédito e trabalho necessários em cada linha de produção específica. O coeficiente lw representa uma única unidade da mercadoria-salário enquanto w representa as unidades da mercadoria-salário adquiridas pelos trabalhadores; ambos são considerados dados. Os salários são pagos post factum. A quinta equação serve para calcular o preço pl da mercadoria-salário; neste exemplo simplificado, a cesta salarial foi reduzida a um único componente. A sexta equação define o numerário como sendo o trabalho comandado pelas unidades w da mercadoria-salário.

Agora podemos transformar o sistema de preços (1) em um esquema IWCS. Primeiro passo, o ramo da economia composto pelas indústrias envolvidas na produção tanto da mercadoria-salário quanto de seus meios de produção diretos e indiretos deve ser isolado. Reconhecendo que a linha de produção do bem não-salarial (quarta equação em (1)) não é necessária para a reprodução do sistema, podemos omiti-la: ela representa um exemplo de bem de 'luxo'. Assim, acabamos com um sistema de 5 equações em 5 incógnitas (pw, pmp, pf, pl, r) que determina preços relativos e variáveis distributivas. Segundo passo, as indústrias são reescalonadas de tal forma que o produto líquido do IWCS corresponde apenas à mercadoria-salário. O produto bruto do IWCS é a mercadoria-salário mais os outros bens usados no processo integrado de produção.

Em (2) temos o produto líquido do IWCS (NPv), a quantidade de salários físicos pagos aos trabalhadores empregados no IWCS (Wv), os meios de produção usados no processo integrado de produção (MPv e Fv) (as quantidades de meios de produção e serviço financeiro, respectivamente), e a quantidade de trabalho empregado no IWCS (Lv). Os termos Q representam os produtos brutos do IWCS, e são precedidos por mp, f e l, que são os coeficientes de bens, serviços e trabalho unitários usados em cada linha de produção. O produto líquido do IWCS é a quantidade total de salários em termos físicos a ser distribuída a todos os trabalhadores empregados em toda a economia, enquanto o produto bruto também compreende os meios de produção consumidos durante o processo. Terceiro passo, a taxa de mais-valia deve ser derivada. Apesar de sua semelhança com a taxa de mais-valia original de Marx (Garegnani 1984), neste framework, referir-nos-emos ao lucro por unidade de trabalho no IWCS (Fratini 2019) [10].

[10]: Existem duas principais diferenças entre os dois conceitos. Primeiro, a formulação de Marx foi derivada com referência a toda a economia, enquanto a de Garegnani se referia apenas ao sub-setor dedicado à produção integrada da mercadoria-salário. Segundo, Garegnani empregou o padrão de 'trabalho comandado' em vez do 'trabalho incorporado' para os cálculos (veja Garegnani 2018).

De (3) vemos que a quantidade de lucro no IWCS (Pv) é calculada como a folha de pagamento salarial paga a todos os trabalhadores menos a folha de pagamento salarial paga aos trabalhadores empregados no IWCS. A equação 4, resultante do acoplamento da quinta e sexta equação em (1), define como antes o numerário como sendo o trabalho comandado pelas unidades w da mercadoria-salário. Ao acoplar as equações 3 e 4, vemos a quantidade de lucro emergir da diferença entre o trabalho empregado em toda a economia L = Lw + Lmp + Lf + Lnw, e no IWCS Lv = Lw + Lmp + Lf. Isso pode ser calculado sem recorrer a valorações de preços, dada a homogeneidade física entre o produto líquido do setor e os salários dados aos seus trabalhadores. O lucro por unidade de trabalho no IWCS (πv) é:

Podemos ver que a origem dos lucros deve ser rastreada até a produtividade do trabalho no IWCS, que permite o surgimento de um excedente físico. Este último pode, em geral, assumir duas formas: ou bens-salário em excesso do que é consumido pelos trabalhadores, ou bens de 'luxo' (ou, claro, ambos). Em nosso exemplo, o excedente assume a segunda forma, ou seja, um bem cujo 'papel é puramente passivo' (Sraffa 1960, p. 8). Quarto passo, o valor do capital por unidade de trabalho (vv), que expressa o investimento em adiantamentos de capital necessários para iniciar o processo de produção, é o outro fator necessário. De fato, o lucro por unidade de trabalho no IWCS dividido por ele fornece a taxa de lucro normal:

Na equação 6, temos os preços p de cada meio de produção e as relações entre meios de produção e trabalho m. Enquanto os últimos termos são derivados usando os coeficientes técnicos nas últimas quatro equações de (2), os primeiros aparentemente tornam inevitável um tratamento do investimento em termos de valor. Teríamos, portanto, que calcular a taxa de lucro normal usando avaliações de preços que, por sua vez, dependem da taxa de lucro normal. Para superar essa dificuldade, a 'redução a quantidades datadas de trabalho' (Sraffa 1960, Cap. VI, pp. 40–47) é explorada. Nela, os meios de produção são substituídos pelos coeficientes de trabalho empregados em sua produção ao longo de uma série de t períodos anteriores, multiplicados pelo elemento de lucro:


Dessa forma, na equação 7, os preços p dos meios de produção dependem apenas de dois fatores: as condições técnicas de produção (descritas pelos coeficientes de trabalho l) e a taxa de lucro normal r [11]. Neste ponto, multiplicamos os termos reduzidos pelos respectivos meios de produção por unidade de trabalho m e, somando todos os fatores, obtemos o valor do capital por unidade de trabalho vv como uma função da taxa de lucro normal:

[11]: A taxa de salário não aparece na equação 7 porque, seguindo a equação 4, o numerário é o produto w · pw · λw. Além disso, os coeficientes de trabalho são quantidades de salários expressos em termos de trabalho comandado.

Então, multiplicamos vv por r. Isso resulta em uma chamada função de lucro f(r) ≡ r · vv(r), expressando a quantidade de lucro no IWCS necessária para pagar uma taxa de lucro normal r. Ao fazer isso, agora temos todos os elementos necessários. Quinto e último passo, a taxa de lucro normal é obtida igualando o lucro por unidade de trabalho no IWCS πv (equação 5) e a função de lucro (equação 8): πv = r · vv(r).

Em (9), r é a única incógnita, que pode ser calculada por meio desta única equação. No lado esquerdo, temos um elemento independente da taxa de lucro normal. No lado direito, há uma função tal que: seu valor é zero quando a taxa de lucro normal é zero, aumenta monotonamente com r, é convexa e, quando a produção (como no nosso caso) é circular, possui uma assíntota vertical que corresponde à taxa de lucro máxima (ver Fratini 2019, pp. 13–15). De fato, na Figura 2, o lucro dado por unidade de trabalho no IWCS e a função de lucro que aumenta monotonamente se cruzam em um único ponto onde a taxa de lucro normal r é univocamente determinada; R é a taxa de lucro máxima.

Agora que a taxa de lucro normal foi obtida, queremos colocar os componentes reais e financeiros do IWCS em evidência mais clara. Isso serve para destacar o papel do setor financeiro na determinação da taxa de lucro normal e, posteriormente, discutir as características específicas da financeirização que listamos na Tabela 1. Dado que estamos descrevendo uma posição normal da economia na qual a competição exibiu plenamente seus efeitos, r deve ser a mesma nos dois setores. Assim, precisamos realizar duas operações. Primeiro, devemos permitir que a quantidade de lucro no IWCS seja compartilhada endogenamente entre os dois setores de tal forma que a taxa de lucro normal seja uniforme. Para fazer isso, introduzimos 0 < α < 1, um parâmetro que multiplica o lucro dado por unidade de trabalho no IWCS, fornecendo a cota que vai para um setor; 1 − α é a cota que vai para o outro setor.

Segundo, distribuímos o valor total do capital por unidade de trabalho entre os dois setores. Cada setor terá, assim, seus adiantamentos em valor sobre os quais deve ganhar uma cota do lucro total no IWCS. Portanto, em vez do valor agregado como em (6), agrupamos os termos a serem encontrados em: meios de produção em valor por unidade de trabalho no setor industrial $(v_{is}$ e meios de produção em valor por unidade de trabalho no setor financeiro $v_{fs}$, conforme visto no sistema (11):

Figura 2. A determinação da taxa de lucro no 'setor integrado salário-mercadoria'. Fonte: Garegnani (1984), Fratini (2019).

Desta vez, os termos m representam a relação entre os meios de produção e o trabalho em cada linha específica de produção; por exemplo, πmp−w, mp deve ser lido como a quantidade de meio de produção por unidade de trabalho que entra na produção bruta da mercadoria-salário e do próprio meio de produção. Como antes, através da redução a quantidades datadas de trabalho, é possível dispensar as avaliações de preços. Portanto, os valores dos meios de produção por unidade de trabalho em função da taxa de lucro normal nos setores industrial e financeiro são obtidos, como no sistema (12):


Como antes, ao multiplicar $v_{is}(r)$ e $v_{fs}(r)$ pela taxa de lucro normal r, obtemos as duas funções de lucro setoriais que mantêm as características discutidas anteriormente. Finalmente, igualamos o lucro por unidade de trabalho nas cotas do IWCS e as funções de lucro setoriais:


O sistema formado pelas equações 13 e 14 possui 2 incógnitas (r, a) em 2 equações, sendo, portanto, determinado. Nele, a quantidade de lucro no IWCS é compartilhada de forma que ambos os setores ganhem, em cada antecipação de capital em valor, a mesma taxa de lucro normal. Uma representação gráfica do IWCS de dois ramos é mostrada na Figura 3.

Nela, podemos ver as duas funções de lucro, uma para o setor industrial e outra para o setor financeiro (não especificada). Abaixo, encontramos a linha horizontal que representa o lucro dado por unidade de trabalho no IWCS, distribuído endogenamente de forma a garantir a uniformidade da taxa de lucro normal. Com este modelo IWCS modificado, podemos discutir o impacto da financeirização na rentabilidade normal.

Figura 3 - A taxa de lucro normal uniforme entre dois setores diferentes no IWCS. Fonte: elaboração do autor.


4. A Relação entre Financeirização e Rentabilidade

4.1. Intensidade das Inovações Financeiras e Regulação Financeira

Nesta parte da investigação, focaremos no papel das inovações financeiras e da regulação em afetar a rentabilidade normal. Duas coisas são importantes: primeiro, distinguir entre os serviços financeiros que entram no IWCS ou não, e segundo, observar o papel da regulação financeira no sentido de permitir a utilização das inovações recém-disponíveis. A partir de Jovanovic e Rousseau (2005), é possível ver a tendência das inovações financeiras ocorridas nos EUA (1900–96) em termos de patentes de invenções e marcas no setor financeiro em relação ao total de patentes registradas.

Na Figura 4, podemos ver a mesma tendência para a intensidade das inovações financeiras entre os períodos pré- e pós-1973, conforme mostrado na Tabela 1. A mudança na regulação financeira, que permitiu que essas inovações fossem usadas em uma escala muito mais ampla, é o que importa então (Panico et al. 2016).

As inovações financeiras, em termos gerais, impactam a taxa de lucro normal, e como? Como visto, a indústria financeira entra na produção direta e indireta das mercadorias-salário. Portanto, suas condições técnicas contribuem para determinar a taxa de lucro normal; vamos ver como. Como em Okishio (1961), estamos considerando o salário real físico como dado, e, ceteris paribus, a melhoria técnica é suposta ser uma redução material de um único coeficiente na matriz de insumos financeiros. A partir de Samuelson (1957), Sraffa (1960) e Garegnani (1970), sabemos que isso gerará lucros extras para o primeiro introdutor da inovação. Uma vez que esta última se torna dominante, a outra variável distributiva é aumentada.

Na Figura 5, no gráfico à direita para o IWCS agregado, o lucro por unidade de trabalho no IWCS e a função de lucro PF1 inicialmente se cruzam na taxa de lucro normal r1. No gráfico à esquerda, encontramos, na mesma taxa de lucros r1, a uniformidade entre as duas curvas de lucro (pretas) para o setor financeiro PFfs1 e o setor industrial PFis1, com o lucro por unidade de trabalho pul1 repartido em uma parcela maior para o primeiro. Após a introdução de uma inovação técnica, duas coisas ocorrerão. A redução do coeficiente do setor financeiro fará com que a função de lucro agregada gire para o Noroeste (PF2), causando, portanto, um aumento na taxa de lucro normal para r2.

Figura 4 - Participação das patentes em finanças no total de patentes nos EUA (1900–1996). Fonte: Jovanovic e Rousseau (2005).

As mudanças setoriais são mais difíceis de analisar. Por quê? A única certeza é que no novo gráfico, r2 deve ser maior que r1. Dadas as interconexões setoriais, a modificação de um único coeficiente é passível de alterar a forma de ambas as funções de lucro de maneiras imprevisíveis. Para abordar essa questão, construímos o retângulo ABCD para delimitar os movimentos das duas novas funções de lucro. O retângulo é desenhado seguindo três passos. Primeiro, imaginamos a situação extrema em que qualquer setor agora precisa de toda a quantidade de lucro disponível, enquanto o outro não precisa de nada. Assim, tomando como dada a extensão da linha pul1, desenhamos ela do ponto de origem O até A, e depois de O até B. Dessa forma, obtemos a base inferior do retângulo. Segundo, utilizamos o trecho horizontal tracejado que a partir do PF2 agregado determina r2 em ambos os gráficos para obter a base superior, e desenhamos os trechos verticais A-D e B-C para delimitar todo o perímetro ABCD. Terceiro, consideramos que as novas funções de lucro, quaisquer que sejam suas formas, devem cruzar o trecho D-C uma vez, e sua distância deve ser exatamente igual à extensão do lucro por unidade de trabalho (agora pul2). Assim, representamos isso desenhando duas novas possíveis formas para as funções de lucro que podem ser, respectivamente, PFis∗, PFis^ e PFfs∗, PFfs^ (todas em cinza). Note que, após a inovação ser generalizada, é o setor industrial que recebe a maior cota de lucro por unidade de trabalho.

Figura 5 - O efeito de uma melhoria técnica no setor financeiro sobre a taxa geral de lucros. Fonte: elaboração do autor.


Consistente com o framework de Panico (1988), de maneira geral, amplas porções do setor financeiro oferecem serviços que são semelhantes a bens ‘básicos’, que entram no IWCS e são, portanto, necessários para a produção direta e indireta de mercadorias-salário. Em nosso exemplo estilizado na Seção 3.2, o serviço financeiro de colocação de ações era necessário para que o processo industrial pudesse começar. Assim, um avanço técnico na produção desse serviço pode ser tratado com o raciocínio exposto anteriormente.

A pergunta, neste ponto, torna-se: as inovações financeiras que caracterizam a era da financeirização surgiram em partes do setor financeiro que são úteis para a produção de mercadorias-salário? Nas últimas décadas, o setor financeiro tem se engajado cada vez mais na produção e circulação de instrumentos financeiros, como, entre outros, derivativos. À luz de nossa reflexão anterior sobre o papel diferente a ser atribuído aos ‘bens-salário’ e aos ‘bens de luxo’, Barba e de Vivo (2012, pp. 1485–1493) sustentam que a indústria financeira pode geralmente ser considerada um setor que oferece serviços úteis, como fornecer financiamento aos tomadores de empréstimos e facilitar a gestão de riscos. No entanto, Barba e De Vivo não consideram duas atividades realizadas por intermediários financeiros nas últimas décadas como verdadeiros serviços produtivos (similarmente, Mazzucato 2018, Cap. 5). Primeiro, a superextensão de crédito a tomadores insolventes porque isso não tem nada a ver com a correta gestão e alocação ótima de riscos. Segundo, a produção e circulação generalizada de instrumentos derivativos, uma vez que não foram utilizados como seguro contra eventos futuros incertos, mas sim como atividades puramente especulativas. Portanto, eles são ‘bens não básicos’ e não entram na determinação da taxa de lucro normal. De fato, primeiro, os derivativos não pertencem aos bens e serviços que entram na taxa de salário real dada. Segundo, eles poderiam, em princípio, entrar em seus meios de produção diretos e/ou indiretos. No entanto, há ampla evidência de que, também como um meio de produção indireto de mercadorias-salário, eles desempenharam um papel prejudicial e/ou desnecessário, como no caso dos produtos agrícolas (Di Bucchianico 2020). No entanto, em termos gerais, um contrato derivativo, desde que ajude a gerenciar a incerteza contra eventos futuros imprevisíveis, também pode ser produtivo.

4.2. O Tamanho do Setor Financeiro

Apesar da ruptura estrutural pós-2008 que reduziu ligeiramente o fenômeno, a enorme mudança no tamanho do setor financeiro nas últimas décadas é dificilmente contestável (Lapavitsas e Mendieta-Muñoz 2018). A expansão ocorreu em termos do tamanho do setor financeiro em toda a economia e em termos da cota de lucros que absorve na participação geral de lucros.

Na Figura 6, é evidente que o valor médio para a razão FP/CP estava crescendo de maneira notável após o início dos anos 80, especialmente nos anos antes da Grande Recessão (Krippner 2005, pp. 181–188). Lapavitsas e Mendieta-Muñoz (2019b) atribuem isso ao impulso dado aos lucros financeiros pelos diferenciais de taxa de juros e, secundariamente, à receita não relacionada a juros (comissões, taxas, etc.). Podemos agora contemplar esse segundo aspecto da financeirização. Lapavitsas e Mendieta-Muñoz (2016), por exemplo, consideram a dramática ascensão da participação financeira nos lucros junto com uma recuperação menos pronunciada da taxa geral de lucro como um enigma a ser explicado. Hein (2015, pp. 925–926) considera a mudança na composição setorial da economia em favor da esfera financeira um elemento que contribui para a compressão da participação salarial, juntamente com a redução da atividade governamental no PIB: “(a) participação crescente do valor agregado das corporações financeiras em relação às corporações não financeiras também elevará a participação geral dos lucros na economia, se a participação salarial setorial no setor financeiro for inferior à do setor não financeiro.”

A partir da análise do IWCS desenvolvida na Seção Três, podemos ver que a taxa de lucro normal determinada residual não é afetada pela repartição de lucros entre setores. De fato, para uma certa quantidade de lucro no IWCS, a tendência de nivelar as remunerações de capital dentro dos setores industrial e financeiro garantirá que a taxa de lucro normal prevaleça em uma posição normal. Essa característica parece ter suporte empírico. Duménil e Lévy (2004) mostram que, enquanto pode haver uma divergência de curto prazo entre as taxas de lucro dos setores real e financeiro, a tendência para um valor comum parece garantida nos EUA (1952–2000). De fato, eles estimam os valores médios como sendo, respectivamente, 8,6% (setor financeiro) e 8,2% (setor industrial), enquanto períodos mais curtos de movimentos inversos são detectados. Lapavitsas e Mendieta-Muñoz (2019a, pp. 3–9) acrescentam a esse panorama ao mostrar que, com a exclusão dos tumultos de 1987 e 2008, a taxa de lucro bancária gravita em torno da taxa geral de lucro, com flutuações de curto prazo acima e abaixo.

Embora esses trabalhos empíricos forneçam algumas evidências a favor dos nossos resultados teóricos, é importante enfatizar duas coisas. Primeiro, não há uma ligação direta entre os dois campos de análise. As percepções a serem tiradas da análise teórica não são diretamente comparáveis aos resultados empíricos, pois o IWCS não é diretamente observável. Segundo, as participações nos lucros financeiros e industriais aqui são entendidas como aquelas associadas apenas às partes dos setores envolvidas na produção de bens ‘básicos’ (ver Seção 4.1). Isso adiciona cautela ao comparar resultados analíticos com evidências empíricas. No entanto, a crescente participação dos lucros que vão para o setor financeiro não tem, ceteris paribus, um efeito claro sobre a taxa de lucro normal calculada pelo IWCS.

Figura 6 - Percentual de lucros financeiros (FP) sobre os lucros corporativos domésticos (CP), EUA (1960–2018). Fonte: Bureau of Economic Analysis, Tabelas NIPA.

No que diz respeito ao peso do setor financeiro em toda a economia, ele definitivamente ajuda a deslocar a distribuição de renda em um sentido favorável ao aumento da participação nos lucros. No entanto, esse elemento, em nossa opinião, não impacta a taxa de lucro normal por duas razões. Primeiro, como discutido na seção anterior, uma porção considerável da expansão do setor financeiro refere-se à produção e circulação de serviços que dificilmente podem ser considerados ‘básicos’. Segundo, esse setor naturalmente apresenta elementos monopolísticos e oligopolísticos (Detzer et al. 2013; ECB 2017). Embora em nosso framework “a presença de elementos monopolísticos nesta ou naquela esfera de produção possa afetar não apenas a divisão dos lucros entre os diferentes usos do capital, mas também a distribuição entre lucros e salários” (Pivetti 1991, p. 28), isso não afeta a taxa de lucro normal. Esta última é obtida em nosso framework supondo competição livre de modo que nem mesmo a liberdade total de entrada pode eliminá-la (Pivetti 1991, pp. 26–30). Portanto, os lucros decorrentes da natureza monopolística do setor financeiro resultam em um aumento da participação nos lucros proporcional ao tamanho deste setor no PIB, mas não afetam a rentabilidade normal (Stirati 2018, pp. 272–273).

4.3. Endividamento das Famílias

As famílias têm se envolvido em um processo contínuo e sustentado de acumulação de dívida privada (Barba e Pivetti 2008; Cynamon e Fazzari 2015), que culminou em 2007 e ainda permanece em níveis consideravelmente altos (Figura 7).

A seguir, ligamos a crescente demanda por empréstimos das famílias a um desejo frustrado de aumentar ou preservar o salário real e, em seguida, vemos como isso impacta a rentabilidade normal em nosso framework. Stirati (2001) mostra como os trabalhadores, se os salários nominais crescerem continuamente e as autoridades monetárias não aumentarem constantemente a taxa de juros nominal, podem obter salários reais mais altos. No entanto, isso só é possível quando os trabalhadores desfrutam de força suficiente na luta de classes [12]. No entanto, devido ao poder de barganha reduzido e à emulação nos comportamentos de consumo, as famílias tentaram manter seus padrões de vida desejados assumindo quantidades cada vez maiores de dívida privada. Modelamos (de maneira muito estilizada) esses fenômenos [13]:

[12]: Veja Stirati e Paternesi Meloni (2018) para evidências empíricas sobre os determinantes do crescimento dos salários reais.

[13]: Para uma análise mais detalhada desses aspectos, veja Kapeller e Schütz (2015), Pariboni (2016).

Figura 7 - Indicador de solidez financeira, dívida das famílias como percentual do PIB. Fonte: Federal Reserve.

A Equação 15 descreve o fato de que os trabalhadores podem tentar obter um aumento nos empréstimos $\frac{dqw}{qw}$ de magnitude δ se perceberem que há uma diferença positiva entre o salário real desejado $w^*_r$ e o salário real que são capazes de alcançar, $w_r$; ϑ é um coeficiente de resposta positiva que liga a divergência entre o salário real alvo e o salário real atual à taxa de crescimento do endividamento privado, e γ é a mudança percentual autônoma nos empréstimos, não relacionada ao outro componente:

A Equação 16 mostra que os trabalhadores $L$ gostariam de obter $w_r^*$ unidades da mercadoria-salário $\lambda$, mas só podem adquirir $w_r$ unidades. Consequentemente, eles substituirão a parte excedente desejada por uma quantidade correspondente de empréstimos, que é o termo entre colchetes derivado de (15):

A Equação 17 ilustra o efeito nas quantidades produzidas $Q$ do consumo adicional possibilitado pela concessão de novos empréstimos aos trabalhadores (com uma propensão marginal a consumir a partir de empréstimos $c_w$. O impulso dado à produção também é percebido no emprego total e no emprego no IWCS. Com a tecnologia de produção linear dada, eles aumentarão na mesma magnitude $\alpha$:

Na equação 18, dado este aumento no emprego, a quantidade de lucro (o numerador) agora é maior (já que $(L > L_v)$, mas a quantidade de lucro por unidade de trabalho no IWCS permanece constante; com técnicas dadas e, portanto, uma função de lucro dada, a taxa de lucro normal permanece inalterada [14]. O aumento vertiginoso do endividamento das famílias, embora seja uma formidável, embora temporária e perigosa, fonte de demanda agregada para a economia dos EUA, não pode impactar o curso da taxa de lucro normal. Pelo contrário, sem dúvida sustentou a taxa de lucro realizada, que se beneficiou da demanda privada adicional que estava por vir.

[14]: Panico, Pinto e Anyul (2012), Panico e Pinto (2018) mostram que uma taxa de crescimento dos empréstimos aos trabalhadores maior que a taxa de crescimento dos salários totais aumenta a participação dos lucros e diminui a participação dos salários.

4.4. Ambiente Sociopolítico

Durante a era da financeirização, o ambiente institucional e político no capitalismo avançado se voltou contra os trabalhadores. Fasianos, Guevara e Pierros (2018, p. 56) apontam a mudança para uma orientação de valor para os acionistas na gestão das empresas, o abandono do compromisso político com o pleno emprego pelo ator público, a adoção de um alvo de baixa inflação pelos Bancos Centrais e a flexibilização dos controles sobre os movimentos de capital. Da mesma forma, Palley (2013, pp. 35–37) destaca o papel adverso de uma ‘caixa neoliberal’ composta por globalização, abandono da política de pleno emprego, governo pequeno e flexibilidade do mercado de trabalho. Essas ações “exerceram pressão contínua para baixo sobre os salários” (Palley 2013, p. 37). Pivetti (2013) lista outros elementos que contribuem para o enfraquecimento do poder de barganha dos trabalhadores (Tabela 2).

Com referência específica ao caso dos EUA, Stirati (2018, pp. 273–279) destaca o importante papel a ser atribuído ao ataque contra os trabalhadores, que começou nas relações do mercado de trabalho dos EUA em meados dos anos setenta e culminou no choque de política monetária de Volcker, causando um aumento abrupto na taxa de desemprego. Hein et al. (2017) adicionam a esse quadro, mostrando que, nos EUA e no Reino Unido, a queda da participação salarial foi especialmente causada, entre outras coisas, pela diminuição da força de barganha dos trabalhadores e sindicatos. Shaikh (2017) explica a mudança dramática na distribuição de renda durante a era neoliberal como resultado de um ataque ao trabalho e ao estado de bem-estar social, e um intenso aumento no poder da esfera financeira das empresas. Essas pressões causaram uma mudança substancial nos níveis de renda dos trabalhadores.

Nas Figuras 8 e 9, podemos ver uma tendência espetacular de queda na participação salarial e uma queda no salário real por hora, que ainda não recuperou os níveis do início dos anos setenta. Todas essas evidências apontam para a suposição de que a taxa de lucro normal poderia ter se beneficiado tanto de uma queda no salário real quanto na participação salarial.

Vamos então observar esses aspectos a partir da perspectiva do IWCS. O resultado de um processo de negociação desfavorável sobre o salário real pode trazer três resultados: um salário real mais baixo de composição física inalterada, um salário real mais baixo em que um componente físico foi subtraído da cesta salarial e um salário real mais baixo em que alguns componentes diminuem enquanto outros aumentam.

Tabela 2 - Elementos institucionais comprimindo o poder de barganha dos trabalhadores nas últimas décadas.


Figura 8 - Tendências da participação da renda destinada ao trabalho assalariado, EUA (1960–2018). Fonte: AMECO (participação salarial ajustada); Bureau of Labor Statistics (participação do trabalho no setor de negócios não-agrícolas).

Figura 9 - Padrão dos ganhos médios reais por hora de trabalhadores de produção e não-supervisores, economia privada total, EUA (1964–2018). Fonte: Bureau of Labor Statistics (ganhos médios nominais por hora); FRED (índice de preços ao consumidor).

Na Figura 10, partindo de r, se o salário real diminuir, mas mantiver sua composição física inalterada, a nova taxa de lucro normal subirá para r∗: a função de lucro e o emprego total permanecem inalterados, e o lucro por unidade de trabalho no IWCS aumenta. Se o salário real sofrer uma redução de um componente, a função de lucro se desloca, fazendo com que a taxa de lucro normal suba para r∗∗: a mesma quantidade de lucro é agora paga sobre os salários para o trabalho necessário para produzir menos itens que compõem o salário real. Um terceiro caso, que é o mais realista, mas também o mais difícil de analisar, é se a composição do salário real mudar, com alguns elementos subindo e outros caindo. Nesse caso, a nova função de lucro pode mudar de forma de qualquer maneira: as situações antes e depois da mudança podem não ser diretamente comparáveis (Garegnani 1987, p. 22; Fratini 2019, p. 17). No entanto, acreditamos que a mudança na composição provavelmente ocorreu de tal maneira que a interseção entre as duas curvas deu origem a uma taxa de lucro normal mais alta devido ao aumento do lucro por unidade de trabalho no IWCS. Essas considerações nos levam a argumentar que as tendências de queda na participação salarial e no salário real podem ser consideradas o principal motor de um movimento ascendente, no médio a longo prazo, das participações nos lucros. Isso, por sua vez, impulsionou a taxa de lucro normal. De acordo com as evidências empíricas revisadas, isso parece compatível com o fato de que a taxa de lucro realizada nas últimas décadas recuperou, em média, um valor mais alto em comparação com a dos anos 80 [15].

[15]: No entanto, notamos novamente que a comparação entre teoria e dados não é direta. De fato, enquanto no IWCS usamos a cesta física de bens dada aos trabalhadores, nos dados encontramos o salário real como uma quantidade de valor.

Figura 10 - Os efeitos de uma queda do salário real (com composição inalterada) e de uma redução de um componente do salário real. Fonte: elaboração do autor com base em Garegnani (1987), Fratini (2019).


Isso estabelece uma ligação entre nossa investigação teórica e as contribuições sobre o efeito da financeirização na distribuição funcional da renda revisadas na Seção Dois. De fato, se decompormos a taxa de lucro \( r \) como em Weisskopf (1979), ela é o produto de três componentes (Basu 2017):

Na equação 19, \( \Pi \) são os lucros totais, \( K \) o estoque de capital, \( Y \) o valor adicionado e \( Z \) a capacidade de produção. Os três componentes são: a participação nos lucros \( \Pi / Y \), a taxa de utilização da capacidade \( Y / Z \) e a relação normal produção-capital \( Z / K \). O segundo termo foi negligenciado devido ao foco na taxa de lucro normal. Também não focamos no terceiro termo por duas razões. Primeiro, em nosso framework teórico, ele é supostamente modificado por inovações introduzidas sob o objetivo de maximização do lucro (Seção 4.1; para uma discussão mais detalhada, veja Basu 2017, pp. 1377–1380). Segundo, abstraindo das flutuações de demanda de curto prazo (conflando assim o segundo e terceiro termos), a trajetória da relação produção-capital \( Y / K \) ajudou a sustentar a taxa de lucro junto com o aumento da participação nos lucros desde o início dos anos oitenta até o início do século seguinte (Mohun 2009; Basu e Vasudevan 2013). Nos anos subsequentes, começou a declinar. No geral, há pouca evidência empírica para atribuir a piora da distribuição de renda ao padrão da relação produção-capital (Stirati 2017, pp. 5–7; 2018, pp. 261–265).

5. Conclusão

O fato de que a taxa de lucro recuperou, em média, um valor mais alto em comparação com a dos anos oitenta e o aumento da financeirização que começou em meados dos anos setenta são duas características marcantes das últimas décadas. Aplicando a metodologia do 'setor integrado salário-mercadoria' apresentada por Garegnani (1984, 1987), este artigo tentou detectar se esses dois padrões estão entrelaçados. Em particular, analisamos o possível impacto da financeirização na taxa de lucro normal através de quatro canais principais. Resumimos nossos resultados da seguinte forma. Inovações financeiras (cum desregulamentação), que em termos gerais ajudam a aumentar a rentabilidade normal, na maioria das vezes não o fizeram durante a financeirização, pois diziam respeito, em particular, a produtos não básicos, como derivativos. A maior participação do setor financeiro nos lucros e no PIB, embora possa impactar as participações na renda agregada, em princípio não deve afetar a taxa de lucro normal devido à repartição endógena dos lucros que estabelece uma taxa de lucro uniforme em toda a economia e à natureza monopolística-oligopolística desse setor. O aumento do endividamento das famílias fomenta a demanda agregada e, portanto, a taxa de lucro realizada, mas a taxa de lucro normal não é afetada, pois níveis de atividade mais altos aumentam a quantidade de lucro, mas não a quantidade de lucro por unidade de trabalho. Fatores sociopolíticos que reduzem o poder de barganha dos trabalhadores e seu impacto adverso na distribuição funcional da renda são, em nossa opinião, o principal canal pelo qual a financeirização pode impulsionar a taxa de lucro normal. Isso, por sua vez, é compatível com as evidências empíricas sobre a trajetória ascendente da taxa de lucro realizada.

Os aspectos da financeirização tratados aqui não esgotam a lista de possíveis influências a serem consideradas. Consideramos a metodologia do 'setor integrado salário-mercadoria' uma ferramenta analítica poderosa, suficientemente flexível para possivelmente incorporar elementos adicionais em seu corpo principal. No entanto, deixamos essa tarefa para futuras pesquisas.





sexta-feira, 7 de junho de 2024

Estatística Bayesiana para Ciências Sociais

KAPLAN, David. Bayesian Statistics for the Social Sciences. 2. ed. New York: The Guilford Press, 2024.

Sumário:

PARTE I - FUNDAMENTOS 

1 • CONCEITOS DE PROBABILIDADE E O TEOREMA DE BAYES 3

1.1 Axiomas Relevantes da Probabilidade / 3

1.1.1 Os Axiomas de Kolmogorov da Probabilidade / 3

1.1.2 Os Axiomas de Rényi da Probabilidade / 4

1.2 Probabilidade Frequentista / 5

1.3 Probabilidade Epistêmica / 6

1.3.1 Coerência e o Livro Holandês / 6

1.3.2 Calibrando Avaliações de Probabilidade Epistêmica / 7

1.4 Teorema de Bayes / 9

1.4.1 O Problema de Monty Hall / 10

1.5 Resumo / 11

2 • ELEMENTOS ESTATÍSTICOS DO TEOREMA DE BAYES 13

2.1 O Teorema de Bayes Revisitado / 13

2.2 Modelos Hierárquicos e Pooling / 15

2.3 A Assunção de Trocabilidade / 16

2.4 A Distribuição a Priori / 18

2.4.1 Priori Não Informativa / 18

2.4.2 Priori de Jeffreys / 19

2.4.3 Priori Fracamente Informativa / 20

2.4.4 Priori Informativa / 21

2.4.5 Um Parêntese: A Regra de Cromwell / 22

2.5 Verossimilhança / 23

2.5.1 A Lei da Verossimilhança / 23

2.6 A Distribuição Posterior / 25

2.7 O Teorema Central do Limite Bayesiano

e a Redução Bayesiana / 27

2.8 Resumo / 29

3 • DISTRIBUIÇÕES DE PROBABILIDADE COMUNS E SUAS PRIORIS 31

3.1 A Distribuição Gaussiana / 32

3.1.1 Média Desconhecida, Variância Conhecida: A Priori Gaussiana / 32

3.1.2 A Distribuição Uniforme como uma Priori Não Informativa / 33

3.1.3 Média Conhecida, Variância Desconhecida:

A Priori Inversa-Gama / 35

3.1.4 Média Conhecida, Variância Desconhecida: A Priori Half-Cauchy / 36

3.1.5 A Priori de Jeffreys para a Distribuição Gaussiana / 37

3.2 A Distribuição Poisson / 38

3.2.1 A Priori Gama / 38

3.2.2 A Priori de Jeffreys para a Distribuição Poisson / 39

3.3 A Distribuição Binomial / 40

3.3.1 A Priori Beta / 40

3.3.2 A Priori de Jeffreys para a Distribuição Binomial / 41

3.4 A Distribuição Multinomial / 42

3.4.1 A Priori Dirichlet / 43

3.4.2 A Priori de Jeffreys para a Distribuição Multinomial / 43

3.5 A Distribuição Inversa-Wishart / 44

3.6 A Priori LKJ para Matrizes de Correlação / 45

3.7 Resumo / 46

4 • OBTENDO E RESUMINDO A DISTRIBUIÇÃO POSTERIOR 47

4.1 Ideias Básicas da Amostragem de Monte Carlo via Cadeia de Markov / 47

4.2 O Algoritmo de Metropolis-Hastings por Caminhada Aleatória / 49

4.3 O Amostrador de Gibbs / 50

4.4 Hamiltonian Monte Carlo / 51

4.4.1 Amostrador Sem Retrocesso (NUTS) / 52

4.5 Diagnósticos de Convergência / 53

4.5.1 Gráficos de Traço / 53

4.5.2 Gráficos de Densidade Posterior / 53

4.5.3 Gráficos de Autocorrelação / 54

4.5.4 Tamanho Efetivo da Amostra / 54

4.5.5 Fator de Redução da Escala Potencial / 55

4.5.6 Possíveis Mensagens de Erro ao Usar HMC/NUTS / 55

4.6 Resumindo a Distribuição Posterior / 56

4.6.1 Estimativas Pontuais da Distribuição Posterior / 56

4.6.2 Resumos Intervalares da Distribuição Posterior / 57

4.7 Introdução ao Stan e Exemplo / 60

4.8 Um Algoritmo Alternativo: Bayes Variacional / 66

4.8.1 Limite Inferior da Evidência (ELBO) / 67

4.8.2 Diagnósticos de Bayes Variacional / 68

4.9 Resumo / 70

PARTE II - CONSTRUÇÃO DE MODELOS BAYESIANOS

5 • MODELOS LINEARES E GENERALIZADOS BAYESIANOS 73

5.1 O Modelo de Regressão Linear Bayesiano / 73

5.1.1 Prioris Não Informativas no Modelo de Regressão Linear / 74

5.2 Modelos Lineares Generalizados Bayesianos / 85

5.2.1 A Função de Ligação / 86

5.3 Regressão Logística Bayesiana / 87

5.4 Regressão Multinomial Bayesiana / 91

5.5 Regressão Poisson Bayesiana / 94

5.6 Regressão Binomial Negativa Bayesiana / 98

5.7 Resumo / 99

6 • AVALIAÇÃO E COMPARAÇÃO DE MODELOS 101

6.1 A Abordagem Clássica para Teste de Hipóteses e Suas

Limitações / 101

6.2 Avaliação de Modelos / 103

6.2.1 Verificação Preditiva a Priori / 104

6.2.2 Verificação Preditiva Posterior / 107

6.3 Comparação de Modelos / 112

6.3.1 Fatores de Bayes / 112

6.3.2 Críticas aos Fatores de Bayes e ao BIC / 116

6.3.3 O Critério de Informação da Deviance (DIC) / 117

6.3.4 Critério de Informação Ampla (WAIC) / 118

6.3.5 Validação Cruzada Deixa-Um-Fora / 119

6.3.6 Uma Comparação entre WAIC e LOO / 121

6.4 Resumo / 123

7 • MODELAGEM MULTINÍVEL BAYESIANA 125

7.1 Revisitando a Trocabilidade / 126

7.2 Análise Bayesiana de Efeitos Aleatórios da Variância / 127

7.3 Modelo de Interceptos como Resultados Bayesianos / 135

7.4 Modelo de Interceptos e Inclinações como Resultados Bayesianos / 137

7.5 Resumo / 141

8 • MODELAGEM DE VARIÁVEIS LATENTES BAYESIANA 143

8.1 Estimação Bayesiana para a CFA / 143

8.1.1 Prioris para Parâmetros do Modelo CFA / 144

8.2 Análise de Classe Latente Bayesiana / 150

8.2.1 O Problema da Troca de Etiquetas e uma Possível Solução / 154

8.2.2 Comparação do VB com o Algoritmo EM / 158

8.3 Resumo / 160

PARTE III - TÓPICOS E MÉTODOS AVANÇADOS

 9 DADOS FALTANTES DE UMA PERSPECTIVA BAYESIANA 165

9.1 Uma Nomenclatura para Dados Faltantes / 165

9.2 Métodos de Exclusão Ad Hoc para Lidar com Dados Faltantes / 166

9.2.1 Exclusão por Lista / 167

9.2.2 Exclusão por Pares / 167

9.3 Métodos de Imputação Simples / 167

9.3.1 Imputação pela Média / 168

9.3.2 Imputação por Regressão / 168

9.3.3 Imputação por Regressão Estocástica / 169

9.3.4 Imputação por Hot Deck / 169

9.3.5 Previsão por Média de Pareamento / 170

9.4 Métodos Bayesianos de Imputação Múltipla / 170

9.4.1 Aumento de Dados / 171

9.4.2 Equações Encadeadas / 172

9.4.3 EM Bootstrap: Um Método Híbrido Bayesiano/Frequentista / 173

9.4.4 Previsão por Média de Pareamento Bayesiano Bootstrap / 175

9.4.5 Contabilizando a Incerteza do Modelo de Imputação / 176

9.5 Resumo / 177

10 SELEÇÃO DE VARIÁVEIS BAYESIANA E PARCIMÔNIA 179

10.1 Introdução / 179

10.2 A Priori Ridge / 181

10.3 A Priori Lasso / 183

10.4 A Priori Horseshoe / 185

10.5 Priori Horseshoe Regularizada / 187

10.6 Comparação dos Métodos de Regularização / 189

10.6.1 Um Parêntese: A Priori Spike-and-Slab / 191

10.7 Resumo / 191


11 INCERTEZA DO MODELO 193

11.1 Introdução / 193

11.2 Elementos da Modelagem Preditiva / 194

11.2.1 Fixando Notação e Conceitos / 195

11.2.2 Funções de Utilidade para Avaliação de Previsões / 195

11.3 Média de Modelos Bayesianos / 196

11.3.1 Especificação Estatística da BMA / 197

11.3.2 Considerações Computacionais / 197

11.3.3 Composição de Modelos via Cadeia de Markov Monte Carlo / 199

11.3.4 Prioris de Parâmetros e Modelos / 200

11.3.5 Avaliando Resultados da BMA: Revisando Regras de Pontuação / 201

11.4 Modelos Verdadeiros, Modelos de Crença, e M-Frameworks / 210

11.4.1 Média de Modelos no M-Closed Framework / 210

11.4.2 Média de Modelos no M-Complete Framework / 211

11.4.3 Média de Modelos no M-Open Framework / 211

11.5 Stacking Bayesiano / 212

11.5.1 Escolha dos Pesos de Stacking / 212

11.6 Resumo / 216

12 CONSIDERAÇÕES FINAIS 217

12.1 Um Fluxo de Trabalho Bayesiano para as Ciências Sociais / 217

12.2 Resumindo a Vantagem Bayesiana / 220

12.2.1 Coerência / 220

12.2.2 Condicionamento em Dados Observados / 220

12.2.3 Quantificação de Evidências / 221

12.2.4 Validade / 221

12.2.5 Flexibilidade em Lidar com Estruturas de Dados Complexas / 222

12.2.6 Quantificação Formal da Incerteza / 222

segunda-feira, 3 de junho de 2024

Modelos Fuzzy em Economia - Gorkhmaz Imanov

IMANOV, Gorkhmaz. Fuzzy Models in Economics. Springer, 2021.


Sumário:

1. Análise Fuzzy do Desenvolvimento Socioeconômico Usando Números Fuzzy Intuicionistas Linguísticos  

   1.1 Indicadores e Sub-índices para a Análise do Desenvolvimento Socioeconômico  

   1.2 Conjunto Fuzzy Intuicionista Linguístico  

   1.3 Análise Fuzzy do Desenvolvimento da Inovação Nacional  

   1.4 Modelos Fuzzy para a Avaliação de Índices de Qualidade de Sistemas Sociais e Econômicos  

   1.5 Algoritmo com as Regras Ponderadas  

   Referências  

2. Análise Fuzzy do Nível de Diversificação Econômica  

   2.1 Índice Composto de Entropia Fuzzy  

   2.2 Análise do Modelo de Input-Output da Diversificação Econômica  

   2.3 Uso do Método Fuzzy DEMATEL para a Análise das Relações Intersetoriais  

   Referências  

3. Medindo a Estabilidade Financeira  

   3.1 Construção de um Índice de Estabilidade de um Sistema Financeiro  

   3.2 Abordagem Padrão para Medir um Índice Agregado de Estabilidade Financeira  

   3.3 Abordagem Fuzzy para Medir o Índice de Estabilidade Financeira  

   Referências  

4. Estimativa Fuzzy do Índice de Economia Verde Nacional e Distribuição de Investimentos  

   4.1 Indicadores da Economia Verde  

   4.2 Estimativa do Modelo para o Índice de Qualidade Ecológica  

   4.3 Modelo da Economia Verde  

   4.4 Estimativa Baseada na Entropia Fuzzy da Distribuição de Investimentos  

   Referências  

5. Modelos de Segurança Socioeconômica  

   5.1 Análise Fuzzy da Estabilidade Macroeconômica  

   5.2 Estimativa Fuzzy do Nível de Segurança Social do País  

   5.3 Avaliação do Índice Agregado de Segurança Financeira  

   5.4 Avaliação do Índice Agregado de Segurança Ecológica  

   5.5 Avaliação do Índice Agregado Fuzzy de Segurança Ecológica  

   Referências  

6. Avaliação do Desenvolvimento da Economia da Informação  

   6.1 Formação e Desenvolvimento da Economia da Informação  

   6.2 Modelo Fuzzy de Estimativa da Qualidade do Desenvolvimento da Economia da Informação  

   6.3 Análise da Relação de Causa e Efeito  

   Referências